Os games e o satanismo

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Saudações, caríssimos leitores. Desta feita escrevo-lhes para externar minha indignação. Meus imaculados e inatacáveis ideais foram achincalhados. Fui recentemente apontado por dois senhores que periodicamente escrevem neste sítio. Como bem sabem, sou afeito aos debates democráticos. Sou amplamente tolerante em relação àqueles que não compartilham das mesmas crenças ideológicas que eu. No entanto, senhores, não posso permitir que as massas sejam ludibriadas pelos interesses escusos do capitalismo e daqueles que nele acreditam. Dois foram os momentos. O primeiro: senhor Corrales incitou-me numa matéria sobre games. O segundo: senhor Homero incitou-me numa notícia sobre um metaleiro judicialmente penalizado por sacrificar bodes.

Primeira parte. Senhores, fui citado e incitado num texto que objetivava discutir um game. Para clarear-lhes a memória cito novamente aqui o trecho a que me refiro: “dependendo do game, você pode praticar esportes, escalar montanhas, salvar o mundo de um tirano malvado ou até mesmo (o meu preferido) ser esse tirano malvado, que destrói pretensos heróis intrometidos e com tendências comunistas (uma provocaçãozinha desnecessária, só para irritar os xiitas de esquerda e o Torquemada). E isso é que é legal!”. Leiam a provocação na íntegra através deste link.

Como podem ver, o senhor Corrales uma vez mais externou suas tendências ditatoriais dizendo-nos com todas as letras suas vontades de exterminar “heróis intrometidos e com tendências comunistas”. Claro, para isso não se importaria de personificar um “tirano malvado”. Contra os defensores de Idi Amin, Pol Pot, Augusto Pinochet e Kim Jong Il uma vez mais alinho minha pena. Contra esses, uma vez mais explicito minha infindável tolerância e permito-me instaurar um diálogo democrático pautado por sentimentos de bondade.

Contra esses cito um trecho do grandioso Hino da Internacional Socialista que cita os chefes supremos. Qualquer semelhança com o nosso auto-intitulado Ditador Supremo não é mera coincidência: “Senhores patrões chefes supremos/ Nada esperamos de nenhum/ Sejamos nós que conquistemos/ A terra mãe livre comum/ Para não ter protestos vãos/ Para sair deste antro estreito/ Façamos com nossas mãos/ Tudo o que a nós nos diz respeito”. Ouçam e cantem em voz alta este belíssimo hino em russo através deste endereço e esqueçam este estilo barulhento que os conclama a sacrificar bodes e a matar jornalistas.

Falemos dos games, a mais nova arma dos ditadores que pretendem ludibriar as massas. Guitar Hero e Rock Band são os mais aclamados jogos de música do momento. Claro, se considerarmos que aquilo que apresentam aos nossos jovens pode ser chamado de música. Qualquer um que já tenha presenciado alguém jogando um desses games sabe o quão ridícula é a cena de indivíduos se contorcendo ao apertar botõezinhos multi-coloridos enquanto imaginam ser algum daqueles cidadãos que insistem em rebolar e gritar em busca de satisfação após a sexta década de vida. Deveriam é procurar por algum serviço geriátrico ou ir brincar com seus netinhos.

O único lado bom desses jogos é que podem vir a acabar com essa barulheira que urubus cabeludos chamam de música, já que ninguém mais vai querer aprender a tocar uma guitarra distorcida se puder fazê-lo em um brinquedo colorido e de plástico. Este fato irrefutável já foi inclusive percebido por alguns fãs de Rock Pauleira que estão tentando, felizmente em vão, abrir os olhos de seus comparsas para que salvem sua “música”. Isso porque não estou falando do satanismo claramente presente em títulos como Tetris e Pac-Man (este último envolve um indivíduo que se droga e depois se alimenta de espíritos do inferno).

Senhores, tenho argumentos irrefutáveis sobre a influência nefasta dos games sobre nossos jovens. Senão vejamos o que nos diz uma disputa judiciária travada no início deste ano? No mês de janeiro, em cumprimento a uma decisão da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais e válida em todo o território nacional, o Procon de Goiás recolheu os games Counter Strike e Everquest. A justificativa para isso, senhores, é óbvia: foram considerados nocivos à saúde dos consumidores. Em outras palavras, satanismo! O brilhante juiz que tomou tal decisão disse ainda que tais artefatos são prejudiciais à formação dos jovens.

Quanto desvirtuamento, senhores. Oferecem aos nossos jovens a possibilidade de simular o seqüestro de funcionários da ONU enquanto personificam traficantes do Rio de Janeiro. Oferecem aos nossos jovens a possibilidade de dirigir irresponsavelmente, condicionando a progressão no jogo ao número de atropelamentos obtidos. Nossos jovens são volúveis. Alguns querem ser como seus ídolos do futebol. Alguns querem ser como seus ídolos da música. Não sabem separar realidade de fantasia. A sábia decisão do Procon de Goiás deveria ser seguida pelos demais órgãos competentes do Brasil. Nossos jovens estão se perdendo diante de mais essa assertiva odierna do imperialismo de nossos vizinhos do norte. Confiram mais neste link.

Segunda parte. Senhores, fui citado numa notícia aqui publicada a respeito de um apreciador de Rock Pauleira que fora judicialmente punido por sacrificar um bode. Vejam um claríssimo exemplo daquilo que sempre lhes digo: os apreciadores dessa decadente e tortuosa forma de arte não gozam de suas plenas faculdades mentais. Ouvem mensagens que glorificam o Inferno e sem qualquer reflexão colocam-nas em prática. Por que não haveria de ser assim com os games? O senhor Homero atribuiu à minha influência os desdobramentos legais dessa ação. Que grandioso equívoco. Como no caso dos games, estamos diante de mais um exemplo da lucidez de nossas autoridades a respeito de tão degradantes hábitos. E, se continuar assim, em breve não haverá mais Rock Pauleira! Nem na vida real nem nos games! Para o bem de nosso país e de nossas crianças!

Aguardem, senhores, seus dias de deleite fantasioso proporcionado por engenhocas eletrônicas do capitalismo estão chegando ao fim. Despeço-me ao som do Hino da Internacional Socialista e trabalhando para que um dia possamos construir verdadeiras comunas tropicais.

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