Ano de eleições, um monte de políticos incompetentes e sem caráter aparecendo na TV, as ruas sujas de panfletos depois da eleição e, claro, a obrigação de exercer seu livre direito democrático de votar obrigatoriamente. Aposto que você está de saco cheio disso, delfonauta. Eu também estou. Por isso é tão legal quando alguém tem a ideia de fazer um filme para fazer piadas sobre como campanhas eleitorais são grandes palhaçadas.
Cam Brady (Will Ferrel) é candidato a deputado federal dos EUA pelo estado da Carolina do Norte. O único, na verdade, até cometer uma tremenda gafe e fazer com que dois empresários ultra poderosos e muito malvados não queiram apoiá-lo em sua campanha. Eles lançam um novo candidato, o atrapalhado e esquisito Marty Huggins (Zach Galifianakis), dono de uma agência de turismo e típico cidadão médio que eles conseguiriam manipular. Cam Brady não gosta disso e vai começar uma tremenda briga sem ética na mídia para impedir que o outro seja eleito.
Dos dois atores principais, Zack Galifianakis é o que eu esperava ser o mais engraçado, devido aos seus recentes trabalhos como o hilariante Alan em Se Beber, Não Case, mas a surpresa é que quem carrega o filme é Will Ferrel como o político mais antiético, louco e caricato dos dois (e também o mais próximo do real). O cara está muito bem no papel e protagoniza os momentos mais engraçados. Outro que se destaca bastante é Dylan McDermott, que faz o papel de coordenador de campanha de Marty Huggins.
Os Candidatos começa bem e melhora muito com pouco tempo de tela. Este é um dos filmes mais engraçados do ano, com uma sequência de piadas criativas e inteligentes que mostram como os roteiristas entendem da burrice estadunidense e sabem usar isso contra ela. É hilário, ao mesmo tempo que deve incomodar tremendamente quem leva bobagens eleitorais em geral a sério.
O bom de Os Candidatos é que dá facilmente para passar as situações exibidas pelo longa para o que ocorre na política aqui no Brasil. Cam Brady, por exemplo, é digno de vexames públicos que deixariam José Serra orgulhoso e há várias sacadas geniais de como os políticos usam a religião para se darem bem nas urnas. Marty inclusive utiliza uma metáfora para tentar se eleger que já aconteceu na história do nosso país. Sabe Jânio Quadros, aquele nosso ex-presidente que criou o slogan de uma vassoura para limpar a sujeira (corrupção)? Aqui acontece a mesma coisa.
ASS AND TITIES, ASS AND TITIES
Até a metade do filme, Os Candidatos é muito divertido, inteligente e até bastante ousado, o que é algo que sempre dá um charme em comédias e ganha uns pontinhos comigo. Infelizmente, para a nossa decepção, ele resolve cair na besteira de colocar uma clichezenta e vazia lição de moral no meio. Na primeira vez que isso acontece, parece apenas uma recaída e as piadas continuam boas, mas logo a coisa desanda de vez.
Nada do que é feito no terceiro ato combina com o que havia sido feito até então, especialmente com o desenvolvimento dos personagens e, pior, faz o filme perder totalmente a graça. É até curioso que no terceiro ato quem aparece mais é Marty, enquanto Cam Brady fica relegado a segundo plano. Uma mudança desse tipo tem cara de dedo de produtor.
É uma pena mesmo, porque se mantivesse o ritmo de piadas e o estilo irreverente que tem até a metade do filme, Os Candidatos seria um dos melhores filmes do ano e, fácil, fácil, o mais engraçado. Talvez valha a pena assistir no cinema pelas piadas, mas esteja preparado para ficar decepcionado com o final.
Curiosidades:
– A dupla de roteiristas, Shawn Harwell e Chris Henchy, não é das mais prolíficas de Hollywood. O primeiro é roteirista da série EastBound & Down, enquanto o segundo é produtor executivo de Entourage, também da TV. Ah, e Chris Henchy é fundador do site Funny or Die, junto com Will Ferrel. Hum, acho que está explicado.
– Jay Roach é mais conhecido como o diretor de todos os Austin Powers. Aproveite e grite “Yeah, baby!” nos comentários.
