O Último Rei da Escócia

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A Fox Searchlight manda bem! Pra quem não sabe, esse é o departamento da Fox que cuida de filmes menores e com menos apelo comercial. Entre seus lançamentos recentes estão os excelentes Hora de Voltar e Pequena Miss Sunshine (sem falar deste, que a gente vai desconsiderar por propósitos argumentativos). O legal é que isso já está quase virando uma marca, pelo menos para mim e, quando eu vejo o selo da Fox Searchlight no começo do filme, já espero coisa boa. O Último Rei da Escócia não foi exceção.

Apesar de ser mais um na safra dos oscarizáveis e de se aventurar pelos terríveis caminhos da cinebiografia, este filme é na verdade bem legal. Trata da relação entre Idi Amin, um sanguinário presidente da Uganda e seu médico particular, um escocês chamado Nicholas Garrigan.

No início, Amin parece ser um cara bem divertido e carismático, mas logo seu lado sádico e truculento começa a aparecer, para desespero de Garrigan, que foi para a África apenas a fim de engajar em intercursos com as aborígenes.

E aí entra a parte mais triste dessa resenha: durante a projeção, o filme saiu ridiculamente de foco. O que no começo era incômodo, logo piorou a ponto de deixar praticamente impossível assisti-lo. Você enxergava apenas alguns borrões na tela e tentava deduzir o que acontecia através do som. Logo, os jornalistas presentes começaram a gritar e pedir para arrumar o foco, mas ficava cada vez pior. Até que, depois de uma meia hora dessa enrolação e de pelo menos 20% dos presentes terem picado a mula, a tela se apaga e as luzes se acendem. Mais 20 minutos de pausa e, finalmente, o filme continua. Mas surpresa: não voltaram até o ponto necessário para que a história fosse devidamente compreendida. Muitos reclamaram e outros foram embora. Os que ficaram, infelizmente, tiveram que se contentar com ter perdido o momento mais crucial do filme: o trecho onde Amin deixa de ser um cara carismático para se tornar um assassino frio e calculista. Para quem vai assistir ao filme, pense em ser privado de assistir tudo que acontece entre a cena do carro novo e a do Holiday Inn e você vai entender as condições nas quais essa resenha foi escrita. Sem contar que, por cerca de uns 20 minutos antes da cena do carro, a imagem já estava fora de foco, mas foi a partir daí que ficou inassistível (essa palavra existe?).

Justamente por ser um período tão crucial para a história, acabo sem poder dar uma opinião final sobre o longa. Essa ida para o lado negro, bem trabalhada, pode elevar consideravelmente sua nota ou mesmo diminuí-la até um temido zero. Mas não posso analisar o que não assisti, infelizmente (pelo menos até desenvolver meu poder de onisciência – já estou quase lá).

O mais engraçado foi notar o quanto Amin lembra nosso presidente no uso de seu carisma e, principalmente no paternalismo. Aliás, normalmente evito dar opiniões políticas aqui, pois é uma área onde admito não ter o domínio que gostaria, mas uma das piores coisas que pode acontecer a uma nação é ter um presidente que acha que é pai do povo, principalmente se o povo aceitar isso. Entre outros problemas, são os filhos que temem os pais, quando na verdade, é o governo que deveria temer seu povo.

Mas voltando ao filme, O Último Rei da Escócia é, possivelmente, um dos melhores filmes da safra de oscarizáveis desse ano, então, para fãs do gênero ou interessados por política externa, sem dúvida vale o ingresso e mantém a Fox Searchlight como uma marca a ser acompanhada.

Citação:
– Tenho certeza que as suas mulheres devem achar seus cabelos vermelhos atraentes, mas para nós, africanos, é repugnante.

PS: A partir dessa resenha, vou começar a dar notas mais exigentes. Um filme mediano vai levar 2,5, não mais 3 ou 3,5 como acontecia antes. Qualquer nota acima da média, significa filmes recomendados. E isso vai fazer com que a quantidade de notas 5 distribuídas por aqui diminua radicalmente. Fique ligado.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-ultimo-rei-da-escociaPaís: EUA<br> Ano: 2006<br> Gênero: Oscarizável<br> Roteiro: Peter Morgan e Jeremy Brock.<br> Diretor: Kevin Macdonald<br> Distribuidor: Fox<br>