Em seu primeiro discurso como Papa, Bento XVI (ou Joseph Ratzinger, não entendo por que rejeitar o nome de nascimento quando já se tem 78 anos de idade) disse que continuará a obra do falecido João Paulo II, mas rejeitará os modismos.
Veja bem a que ponto chegamos: até mesmo o representante maior da Igreja Católica disse que rejeitará o modismo na instituição. Com a massificação da cultura Pop, o termo “modismo” virou, sem ironias, uma moda.
Tudo começou no início do século XX com a construção de parques de diversões populares na Europa, uma forma barata de entreter e, de certa forma, controlar as massas de trabalhadores pobres, sem dinheiro suficiente para bancar os hobbies das classes mais altas da sociedade, mas que precisavam de alguma distração, evitando assim as greves e reivindicações na pós-revolução industrial. Tudo era um grande esquema de desvio de foco: as pessoas trabalhavam 14 horas por dia, recebiam salários ridículos, mas se divertiam no domingo e esqueciam os problemas para cair na rotina da exploração. Infelizmente, pouco mudou desde então.
A coisa engrenou e o entretenimento barato virou um vírus propagado na forma de vestir, modelo do carro, decoração do apartamento e em todos os gêneros que transformaram a cultura em uma corporação milionária de ilusões. Você ganha mal, mas se veste como a Gisele Bündchen (aquela de Táxi) e utiliza o perfume do Brad Pitt (aquele de Tróia), então para que reclamar?
Apesar de o modismo ser onipresente, nenhuma forma de arte sofreu mais com ele do que a música. O Skiffle nos anos 60, a Disco Music dos 70, o Pop grudento dos 80, todos saíram de uma grande manipulação ao moldar diversos artistas para que se adequassem exatamente aos padrões musicais do momento e, conseqüentemente, agradassem cada vez mais a massa. Pegue um disco do começo da carreira dos Bee Gees (os caras chegaram até a gravar com orquestra) e compare ao trabalho que inspirou o filme com John Travolta nos Embalos de Sábado à Noite 15 anos depois e você terá uma idéia desta manipulação.
Sim, sou daqueles alienados que tentam fugir das modas a todo custo. Mas antes de julgar minhas convicções, assumo que nem todo modismo é prejudicial. Para entender melhor onde quero chegar, costumo separá-lo em dois gêneros: o descartável e o interessante.
No primeiro grupo, temos aquele modismo forçado goela abaixo, sem nenhuma preocupação com a conseqüência que terá na população em geral. Peguemos um exemplo da indústria musical: o KLB, produto genérico de uma combinação comercial: boy bands + Pop romântico para adolescentes. Grupos assim pipocam aos montes, tanto aqui quanto lá fora. Quem tem mais de 25 anos, deve se lembrar dos brasileiros Dominó e Polegar (e sua romantissíssima Dá Pra Mim) ou, mais recentemente, do Twister. Em escala internacional, tivemos Menudo, New Kids on The Block, Backstreet Boys, todos grandes jogadas de marketing, com músicas fáceis, refrões pegajosos e forte apelo popular. Não pense que um grupo (me recuso a chamar isso de banda) desses começou na garagem da casa de alguém e seus integrantes escreviam as letras em momentos de profunda inspiração. Basta reparar que a maioria esmagadora das composições vem de terceiros já estabilizados no mundo da música, que cedem as melodias sob algum pseudônimo (ou às vezes nem isso).
Como esse mercado anda “apagado” há algum tempo, o KLB precisava de algum diferencial e, por isso, se aproximou do lado mais meloso do Pop, quase flertando com o Sertanejo, em músicas descartáveis e iguais. Por uma “coincidência” (vamos fingir que acreditamos nisso), o pai dos três rapazes é um dos empresários mais famosos do ramo musical e, veja só, descobriu que seus próprios filhos poderiam render uma bela grana. Como a lei universal do capitalismo é o lucro, nada melhor do que faturar mais uns trocados enquanto as descerebradas se descabelam pelos rapazes, que apenas seguiram uma fórmula pronta, sem inovação, esforço ou qualidade.
Com a música moldada cuidadosamente para agradar o maior número de pessoas possível, veio uma overdose de aparições nos programas populares, rádios farofas e revistas juvenis – um grande esquema onde, como já foi dito, o que interessa é apenas o lucro e não a qualidade do serviço prestado. Se o CD vende, a revista vende e a audiência da televisão sobe, não importa se o KLB é um lixo (e bota lixo nisso) no que se propõe a fazer. Pois é, e tem gente que acha que jabá é fictício e jornalismo é imparcial (aproveite e leia o primeiro número da coluna Pensamentos Delfianos, que trata justamente desse assunto).
Só para deixar claro, não conheço pessoalmente os integrantes do KLB e, portanto, não posso opinar sobre suas personalidades, me refiro aqui única e exclusivamente à música produzida.
Na segunda categoria citada alguns parágrafos atrás, temos o interessante, o modismo “justo”, digamos assim, onde algo se destaca na imprensa por méritos próprios e qualidades reais. Um exemplo? O livro O Código Da Vinci, de Dan Brown. Já li diversos comentários negativos sobre a obra do escritor e, honestamente, nenhum me convenceu. Pelo contrário, considero O Código da Vinci, bem como seu antecessor, Anjos e Demônios, duas obras literárias bem legais, mesmo que não curta o final deste último.
Porém, foi só o Código chamar a atenção que os sites especializados encheram suas páginas de críticas negativas, seja ao modo como Brown escreve ou pela história recheada de elementos clichês. Agora aparecem os intelectuais de plantão para avisar que em um livro de 1980 já constava a informação do Jesus Cristo histórico ser bem diferente do conhecido pela bíblia. Mas ninguém leu o tal livro e todos lêem O Código Da Vinci por ser mais acessível. E o mais importante: faz as pessoas pensarem, coisa que o outro não conseguiu ao cair no esquecimento.
Apenas para constar, o álbum House of God, de King Diamond (2000) também falava sobre o mesmo assunto e jamais me incomodei por ler uma história com a mesma base, mas pontos de vista diferentes. Até o Corrales já escreveu um conto sobre esse assunto no final do século passado. E ainda assim digo: O Código da Vinci pode ser clichê, mas traz qualidades.
A verdade é que muitas máscaras católicas caíram com o livro. E os cardeais recomendaram que os fiéis não lessem a obra por não estar de acordo com os princípios cristãos, o que mostra que a inquisição ainda é uma sombra viva. Só falta mandarem Brown para a fogueira com seus livros.
Como vimos, o modismo tem dois lados bem distintos, mas seu grande problema, muitas vezes, não está nem no produto, mas em quem ele atrai. Quando um produto é popular, atinge uma classe de fácil influência, sem opinião própria, que entra em uma moda tão rápido quanto sai. É exatamente aí que reside o perigo, pois não estamos falando de fãs, mas de oportunistas que não se interessam com a qualidade do produto, apenas com o status que pode proporcionar. Muitas pessoas leram O Código Da Vinci porque o livro está em evidência, mas quantas podem realmente refletir sobre seu conteúdo?
Um fato histórico espelha bem aonde quero chegar: o Heavy Metal estadunidense dos anos 80. O estilo começou na Inglaterra nos anos 70 e demorou quase uma década até estourar, de fato, na terra do Tio Sam. A primeira colaboração verdadeira dos EUA surgiu na Costa Oeste, com o surgimento do Thrash Metal e bandas como Metallica, Slayer e Exodus, por volta de 1982.
É sempre bom lembrar que bandas de Rock como Kiss, Van Halen e Blue Öyster Cult já existiam e, às vezes, usavam um ou outro elemento do Metal em sua música. Porém, não eram bandas do gênero e acredito que o delfonauta consiga diferenciar claramente um Aerosmith de um Iron Maiden, certo? Pois é, mas a imprensa norte-americana não conseguiu e colocou tudo em um mesmo patamar: Aerosmith era Metal, Van Halen era Metal (hoje em dia estão chamando os caras de Pop Metal), até Red Hot Chilli Peppers, pasmem, era considerado Heavy Metal (eram chamados de Funk ‘o Metal ou algo do tipo) e figuravam na programação do Headbanger´s Ball da MTV estadunidense em meados dos anos 80.
Enquanto o Heavy Metal verdadeiro europeu progredia pós-NWOBHM, com o surgimento das bandas alemãs (a First Wave of German Heavy Metal), como definiu o vocal do Grave Digger quando o entrevistamos), a mídia dos EUA preferia o destaque do Glam, suas roupas espalhafatosas e letras machistas sobre sexo, mulheres e diversão. Para eles, isso era o Metal e não a evolução natural que ocorria na Europa.
Veja bem, não digo que o Glam, com outra influência e outra raiz, é ruim, mas chamar de Metal já é uma história bem diferente e creio que nosso inteligente leitor tenha em mente essa contradição. Não que as bandas de Heavy Metal não cantem sobre sexo e mulheres (aposto que você pensou no Manowar), mas isso não é uma regra como foi no Glam.
Essa pressão da mídia estadunidense em chamar de Metal o que não era, atraiu milhares de modistas, aqueles que ouviam uma ou outra música do Cinderella e se sentiam os rebeldes sem causa já fazendo os chifrinhos nos shows e batendo cabeça como se ouvissem Napalm Death. Até a famosa revista MAD entrou na parada, dê uma olhada lá embaixo na galeria em duas capas bem contraditórias dessa época:
Esse modismo foi tão prejudicial quanto benéfico ao verdadeiro Heavy Metal. Prejudicial pois, um dia, toda moda acaba: com a saturação do Glam no final dos anos 80 e a conseqüente queda na vendagem dos discos, o foco se voltou ao surgimento do Grunge e a mídia decretou o fim sem volta do Heavy Metal, mas na verdade, quem sumiu naqueles idos foi o Glam.
Mas também foi benéfico, pois levou embora os modistas e, enquanto o Heavy Metal verdadeiro voltou a crescer por sua própria competência e apoio dos verdadeiros fãs, o Grunge da massa – esse sim – definhou até seu desaparecimento ainda na metade dos anos 90, iniciado com o suicídio de Kurt Cobain (uma das grandes vítimas da mídia) e o fim das bandas de Seattle.
Mesmo após duas décadas, essa influência da imprensa norte-americana foi tão forte que até hoje o conceito “Heavy Metal” é totalmente distorcido nos EUA. Chegamos ao cúmulo de presenciar um bando de adolescentes histéricas, vestidas de preto, com braceletes e fazendo chifrinhos com os dedos (o símbolo imortalizado por Ronnie James Dio) em um show da Avril Lavigne.
Esse curioso fato de os fãs fazerem chifrinhos no show errado acontece porque, depois do fim do Glam, as portas dos EUA para o verdadeiro Metal se fecharam e os estadunidenses praticamente não tiveram contato com o gênero europeu até o fim dos anos 90. É mais ou menos como se você se trancasse em casa por 10 anos e duvidasse da existência de um mundo lá fora. Sabe o mito da caverna de Platão, onde prisioneiros do subterrâneo duvidam da existência do mundo exterior, mesmo quando alguém consegue sair e jura que existe vida lá fora? É por aí.
Os reflexos dessa ignorância também foram sentidos por aqui, especialmente na cobertura e organização de grandes festivais como o Rock in Rio III, em 2001. Outra grande conseqüência desta mistura indigesta está nas associações, já comentadas, atribuídas ao Heavy Metal hoje em dia, que são na verdade características do finado Glam. A famosa síndrome de que as letras das bandas são machistas faz parte desta herança (embora, novamente, ninguém pode chamar um Manowar de defensor dos direitos iguais).
Mais uma conseqüência é que, ainda hoje, muitas pessoas consideram a década de 90 como a pior em termos de produção metálica, outra grande bobagem alimentada pelos norte-americanos. Duvida do que estou falando? Se você gosta de bandas como Angra, Blind Guardian, Grave Digger, Gamma Ray, Megadeth, Slayer, Death, Pantera, Dream Theater, Anthrax, Savatage, Iced Earth, Testament, Morbid Angel, Entombed, Tiamat, Nightwish, Stratovarius, Hammerfall, Children of Bodom, In Flames, Nevermore, Dimmu Borgir, Cradle of Filth, Running Wild, Sentenced, Amorphis, Candlemass, Skyclad, entre tantas outras, então discorda dos estadunidenses tanto quanto eu.
A coisa foi tão séria que as próprias bandas americanas de Heavy Metal, o verdadeiro, só conquistaram espaço em países europeus, asiáticos ou sul-americanos. É o caso do Iced Earth e do Dream Theater, que estouraram por aqui, na Europa e no Japão, mas permaneceram ilustres desconhecidos em seu próprio país de origem.
O modismo do Metal norte-americano voltou com força total alguns anos depois, após a ressaca do grunge na metade dos anos 90. A mídia precisava de outro expoente para o som pesado pré-fabricado e, aproveitando a insossa mistura do Rock com o Rap do Aerosmith nos anos 80 e do Anthrax no início dos 90 – uma união bem rentável, diga-se de passagem – a fórmula estava pronta para a nova linha de montagem musical: Korn, Limp Bizkit, Linkin Park, Kittie, Papa Roach, Coal Chamber e muito mais. Cada gravadora produziu sua própria série de clones.
Mais uma vez, o modismo entra em cena e traz de volta os influenciáveis ao estilo. Pessoas que ouviam Limp Bizkit e Slayer e não percebiam a diferença (acreditem, elas existem!). Tudo virou novamente uma grande festa e os CDs venderam.
Já que a imprensa decretou a morte do Metal nos EUA alguns anos antes, o país mais uma vez mostra toda sua arrogância ao batizar o novo gênero de “New Metal”. Se existe o “New”, onde estava o “Old”?
Enquanto o Tio Sam dava as costas para bandas como Iron Maiden, Helloween e Gamma Ray, as chamadas retrógradas, o verdadeiro Metal ia muito bem, obrigado, no velho mundo. Foi nessa época, por exemplo, que o finlandês Nightwish surgiu, uma banda de qualidade com vocais femininos que faria história e polêmica com seu papel nos modismos.
Como eu já disse, o modismo é onipresente e ataca em todo o mundo, não é um privilégio dos ianques. Quem não se lembra da explosão de bandas de Metal Melódico dos anos 90? É verdade que surgiram grandes nomes como o Rhapsody na Itália e o próprio Angra no Brasil, que não se limitaram a fórmulas prontas e trouxeram inovações, mas o gênero saturou e hoje não é mais visto com os mesmos olhos. Os próprios músicos, como o vocalista Andre Matos (e aproveite para ler a resenha do DVD do Shaman) negam esse estilo até a morte.
Assim que o New Metal começou a definhar (modismos saturam – lembre-se!), a mídia dos Estados Unidos não perdeu tempo e começou uma busca frenética pela substituta para que não tivéssemos mais um vácuo (entenda-se perda de $) entre o fim de uma moda e o começo de outra.
Algum sábio funcionário de uma gravadora teve a idéia de aproveitar a tendência já consolidada no resto do mundo: as bandas com vocais femininos. Mas o Nightwish, o grande expoente, já contava alguns anos de estrada e as gravadoras queriam um novo rosto para explorar no mercado estadunidense e expandir ao resto do mundo. Por coincidência ou não, a força do Nightwish penetrou a barreira daquele mercado e atingiu uma pequena gama de fãs. O fato, obviamente, gerou clones dos finlandeses por lá, isso ainda nos anos 90. Um destes clones, de sucesso apenas no underground americano, mas com potencial para “queridinho” da mídia, era justamente o Evanescence.
Sim, meu amigo, talvez você se assuste, mas o Evanescence já foi uma banda de Heavy Metal de verdade e, pior, tem dois álbuns gravados antes do Fallen, considerado “oficialmente” seu debut. Você só consegue alguma informação sobre isso quando entra no FAQ do site oficial da banda e descobre que o nome do primeiro álbum era Origin, lançado no ano 2000 por um selo independente. O outro CD era um EP chamado apenas Evanescence.
Mas se a banda já tinha dois álbuns, por que mentir e considerar o tal Fallen como a primeira empreitada? Simples, porque foi o primeiro que seguiu a fórmula imposta pela poderosa gravadora. Os primeiros álbuns eram independentes e tinham uma levada bem diferente da aproximação com o Pop a que a banda se submeteu anos depois. Por coincidência ou não, esses CDs saíram de catálogo logo que a banda estourou (não é estranho um álbum sair de catálogo justamente na hora em que os caras estouram?). Daqui a 10 anos, ninguém se lembrará do Origin, todos considerarão o Fallen como o verdadeiro primeiro álbum, (aliás, os próprios integrantes e fãs já o fazem) e está pronta mais uma mentira histórica. Viu como é fácil manipular um fato? Por curiosidade, você consegue ver a capa do primeiro álbum do Evanescence, Origin, na galeria no final da matéria.
Com tudo conspirando a favor, o Evanescence estourou e também criou seus clones, sem o mesmo talento, mas quem se importa com esse “detalhe” quando o dinheiro está na jogada e você tem todos os veículos de comunicação por trás?
O mais engraçado vem agora: com o sucesso do Evanescence, os portões de adamantium dos EUA se abriram novamente ao Heavy Metal e advinha quem chegou? Sim, o Nightwish! Mas a bizarrice é que eles aportaram os finlandeses como clone do Evanescence e não o inverso. De repente, o grupo de Tuomas Hullaballoolla e ex-banda de Tarja “preta” Turunen aparece como revelação e não como a verdadeira criadora da moda, acredite se quiser.
O leitor pode perguntar se esse modismo não foi benéfico, pelo menos ao Nightwish, que vendeu CDs e lotou shows. É verdade, eles até emplacaram um videoclipe na MTV (também na brasileira) e muita gente mais nova não gosta de nada que veio antes do Once. Mas de que adianta atrair um público que comprará um álbum hoje para amanhã aderir a outra moda? O certo não é conquistar fãs fiéis que realmente se interessem, vão atrás e gostem MESMO da banda?
Aliás, os antigos fãs do Nightwish já perceberam uma certa mudança na postura da banda desde a reabertura do mercado estadunidense. Basta reparar na maneira como Tarja canta atualmente e como cantava nos trabalhos anteriores e também nas famigeradas fotos do encarte e divulgação do Once onde a vocalista aparece ostentando um chapéu de cowboy.
Esses foram apenas alguns exemplos. Se explorarmos a fundo, podemos encontrar milhares de casos nas mais variadas áreas possíveis, especialmente aqui no Brasil, um dos países mais vulneráveis ao modismo. Ou você acha que o Funk Carioca (que nada tem a ver com o verdadeiro estilo de George Clinton e Cia), Axé, Pagode, Sertanejo, Lambada, Rap, não fazem parte de um mesmo esquema? No caso do último, acredito que surgiram dos becos e fizeram sua parte em mostrar outra realidade humana, mas também foram manchados por nomes como Vanilla Ice nos anos 80 e, mais recentemente, Kid Rock.
Quer outro exemplo mais recente? Mesmo que não goste (o meu caso), acho que todos devem se lembrar daquela banda estadunidense de Pop/Rock, No Doubt, liderada pela vocalista Gwen Stefani. Pois bem, a banda começou em 1986, mas só atingiu o estrelato em 1995, com o álbum Tragic Kingdom, onde você encontra os “hits” Just a Girl e Don´t Speak. Lançaram esse álbum, chegaram ao sucesso, mas voltaram ao anonimato nos anos seguintes.
Com o sucesso do Tragic Kingdom, no entanto, quem soube aproveitar a situação foi Gwen. A moça participou de um filme (O Aviador) e começou uma carreira solo, mas se você pensava encontrar o Pop/Rock do No Doubt em seu lançamento solo, esqueça. O que temos é apenas mais um clone batido de Britney Spears, inclusive nos videoclipes. Falso e forçado ao extremo. Deve ser constrangedor ao antigo fã do No Doubt se deparar com essa Gwen, sem atitude, nem letras inteligentes (aliás, no disco solo ela só canta composições de terceiros) e abusando do abdômen sarado para faturar mais um pouco.
E o que dizer do Pop/Rock Nacional e nomes como Capital Inicial, Titãs e Barão Vermelho? Respeito demais as duas últimas bandas pela importância que tiveram no começo dos anos 80 e pelos bons trabalhos que produziram, mas não deu para engolir aquela moda dos acústicos.
Nada melhor do que transformar uma música de protesto como Homem Primata em um som para festas infantis. Para tornar a situação mais patética, os caras ainda lançam o Volume 2 do tal acústico. A moda conseguiu ressuscitar até nomes falecidos como o RPM, que renasceu das cinzas e já voltou para elas após uma briga de Paulo Ricardo (de novo!) com os demais integrantes.
Sobre o Capital Inicial, prefiro não desperdiçar linhas com algo tão medonho. Esse grupo surgiu nos anos 80 se aproveitando da cena de Brasília, mas sempre foi um subproduto, nunca conseguiu nada, reapareceu em um acústico MTV e entrou em evidência com músicas risíveis. Isso sem contar a pose de “Rei do Rock” do vocalista Dinho. Já vi entrevistas em que ele se considera “O” Roqueiro. Ora, amigo, em primeiro lugar, vá estudar um pouquinho sobre o verdadeiro Rock´n´Roll e depois conversamos. Cada disco do Capital Inicial é o exemplo perfeito da música moldada para o povão se esgoelar. Não existe emoção verdadeira, muito menos qualidade em refrões cheios de “lá, lá, lá”. Chega, já perdi tempo demais falando desses caras.
Após essas explicações, quando nosso nobre Papa diz que a Igreja precisa se livrar dos modismos, a que tipo de modismo será que ele se refere? Será que estamos falando da questão da camisinha? Da reivindicação pela posição da mulher na igreja? Ou do movimento carismático nas igrejas com as “missas shows”, que atraiu parte dos fiéis perdidos no último século, mas que o novo Papa condena? Será que esses “modismos” são realmente prejudiciais à imagem da igreja?
Aliás, não deixa de ser curioso que, mesmo com toda a onda do conclave, ninguém quis ser Papa. O arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, um dos ex-favoritos ao cargo, deu uma declaração em sua volta ao Brasil que “graças a Deus não foi o escolhido para a função”. Aliás, o próprio Palpatine (leia resenhas do filme de Star Wars e do desenho Clone Wars)… digo, Ratzinger, disse dias antes de sua eleição, que também não gostaria de ser o escolhido. Mas eu não entendo: não é a melhor chance que alguém tem de espalhar as palavras em nome do Cristo que tanto prezam? Tudo bem que a máxima do Homem-Aranha vale muito, “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, mas não entendo por que alguém que seguiu carreira na igreja não quer ser o Papa e, pior: por que, então, elegem alguém que não quer ser?
Em uma época onde a sombra do racismo volta a assustar o mundo, com manifestações ferozes em jogos de futebol e parlamentos políticos (me desculpe, mas uma lei de cotas nas universidades é tão racista quanto chamar alguém de negrinho como o zagueiro argentino Desábato fez com Grafite), a Igreja vai mais uma vez na contramão do bom-senso e elege um Papa retrógrado, apelidado de “O Grande Inquisidor” pelos próprios colegas cardeais. Alguém que chama shows de Rock de cultos profanos, lutou ao lado dos nazistas na 2º Guerra Mundial (não estou brincando) e, pior: não queria a função de Papa.
Por mais que Ratzinger queira se livrar do abacaxi que tem em mãos, como cantam os Engenheiros do Havaí: o Papa é Pop e o Pop não poupa ninguém, Michael Jackson, o “Rei do Pop”, que o diga.