Ultimamente os filmes de animação em geral andam todos sendo feitos em CGI, o que os deixam esteticamente muito parecidos, por mais que os designers de personagens e cenários se esforcem para deixar seu produto com um visual que lhe dê algum destaque em meio à massa.
Por isso, quando surge um longa do gênero que pega uma direção diferente visualmente, ele imediatamente se sobressai do resto. Este é o caso da animação nacional O Menino e o Mundo. Não só seu visual é muito bonito e vai completamente para o lado oposto dessa tendência de desenhos feitos por computador, como sua narrativa também foge do comum.
Basicamente a história é sobre um menino do campo que vai procurar seu pai. Mas isso é só um pano de fundo para explorar a visão de mundo de uma criança e como ela percebe, de maneiras sempre fantásticas, os diversos elementos ao seu redor, não importando o quanto sejam triviais. Assim, isso aqui é mais uma experiência sensorial do que uma trama desenvolvida. Sim, a história tem começo, meio e fim, mas definitivamente este é um caso em que a jornada é mais importante (e interessante) do que seu desenrolar e seu desfecho.
O estilo de animação é bonito demais de um jeito bastante simples (e muito caprichado, vale dizer). Basicamente, o longa é feito no estilo de desenhos feitos por crianças, com bonecos de palito, cenários pintados com giz de cera e a pintura escapando dos contornos. Funciona que é uma beleza. Os personagens são todos bonitinhos e visualmente diferentes entre si e os cenários são de um colorido sublime, beirando o psicodélico em alguns momentos.
É totalmente old school, de encher os olhos e se perguntar porque não fazem mais desenhos nesse estilo antigo. Tudo bem, o filme não se furta a usar algumas sequências em computador (nas cenas com o trem ou o carro, por exemplo), mas é o 2D tradicional que reina aqui em seu estilo minimalista caprichado.
Convém falar que a narrativa não possui diálogos, como um Wall-E ainda mais hardcore. As poucas falas presentes são ininteligíveis, como se estivessem ao contrário, num esquema “adultos do desenho do Charlie Brown”. Por conta disso, outro aspecto que se destaca muito positivamente são os efeitos sonoros, que têm que preencher todos os 80 minutos de projeção. A trilha sonora também é bem bacana, embora tenha achado-a um tanto repetitiva em alguns momentos.
Com esse visual diferentão e, sobretudo, a narrativa mais aberta e sem diálogos, o filme acaba ganhando ares mais de um experimento que de um produto audiovisual pronto propriamente dito. Por isso, se fosse um curta ou média-metragem reunindo só o fino de seu material, poderia ser bem mais legal de assistir, embora esses dois formatos com certeza não sejam tão interessantes para seus realizadores. Como longa, contudo, acaba tendo seus altos e baixos.
De quebra, não tem a famigerada lição de amizade, mas coloca no lugar uma mensagem ecológica que nada acrescenta. E as cenas de arquivo em live action de desmatamentos e poluição que entram em determinado momento são completamente desnecessárias e destoam do tom do resto do filme.
O Menino e o Mundo é uma animação visualmente chamativa e diferentona, tanto pela estética de seu traço como pelo modo escolhido para contar sua história. Às vezes dá umas escorregadas e aqueles mais impacientes podem achar vários momentos chatos. Mas para quem está a fim de ver um bom longa animado bastante diferente do que anda saindo por aí, essa é a pedida.