Sabe a expressão user friendly? Pois é, eu estou inventando agora uma nova expressão baseada nessa: review friendly. É muito fácil resenhar alguns filmes. Alguns porque são tão ruins que é natural fazer piadas em cima de sua ruindade. Outros porque têm uma profundidade enorme e, como tal, rendem muito a ser dito. O Lugar Onde Tudo Termina, ao contrário, é bem difícil de se resenhar. Aliás, ele parece ser feito para complicar a vida dos críticos. Isso não significa que ele é ruim, muito pelo contrário. Mas é difícil falar sobre ele e passar uma quantidade suficiente de informações sem estragar nada. Mas como diria o bom e velho Barney Stinson, challenge accepted! Vamos nessa!
O motivo pelo qual ele é tão difícil de se resenhar é que ele conta três histórias. As histórias não são intercaladas, mas contadas em ordem cronológica. No entanto, o que acontece em cada uma interfere diretamente nas outras. Então vou tentar fazer uma pequena sinopse comentada para cada uma delas, sem entrar nos detalhes que as unem.
METADE 1: RYAN GOSLING NO GLOBO DA MORTE
Na primeira metade conhecemos o motoqueiro Handsome Luke (Ryan Gosling), que ganha a vida colocando-a em risco para a diversão da plebe. Ele é uma pequena celebridade, e vive viajando a trabalho. Sua vida muda quando ele descobre que fez um pimpolho na Eva Mendes, e se sente na obrigação de estar presente na vida do moleque. Ele pede demissão para ficar na cidade, e para tentar dar uma vida digna à patroa, resolve roubar bancos.
Esta primeira história é também a melhor. O filme já começa muito bem, com um plano sequência que segue Ryan Gosling do seu camarim até suas acrobacias no globo da morte. Se não tivesse visto o filme no cinema, com certeza teria dado um rewind para ver quando o ator deu lugar a seu dublê. Eu até imagino quando foi, mas é tudo tão bem feito que dá vontade de aplaudir.
Também é neste início que temos todas as cenas de ação do filme, mas não se anime com isso pois, apesar de ter perseguições veiculares, a narrativa é bem lenta, bem próxima a filmes “de arte”. Aliás, lembra muito Drive, também estrelado pelo Ryan Gosling. O final desta história, aliás, mostra bolas, em uma manobra inesperada como não se via desde Psicose. E não, não estou falando de um twist, mas do ousado caminho seguido pela história.
METADE 2: BRADLEY COOPER CONTRA A POLÍCIA CORRUPTA
Avery Cross (Bradley Cooper) é um policial herói que começa a cruzar com a corrupção de seus colegas. Ele não gosta nem um pouco disso, mas fica dividido entre agir ou ficar na dele.
Esta parte me chamou a atenção justamente por falar sobre corrupção policial. Isso é bem comum no cinema brasileiro, mas eu sinceramente acreditei quando a cultura pop me ensinou que os policiais estadunidenses são honestos. Afinal, lá eles claramente respeitam a polícia. Aqui, a maioria de nós, mesmo os não criminosos, a odeia. É só ver a reação do povo à presença da polícia e a atitude desta nas manifestações das últimas semanas.
Corrupção existe em qualquer lugar, é claro, mas aqui é fácil apontar a causa do problema: salários diminutos e um custo de vida pornográfico. Nos EUA, por outro lado, todo mundo ganha salário decente, e o custo de vida é pelo menos 50% menor que o nosso. Junte estes fatos à mensagem passada pelo que vemos em filmes policiais, e dá para aceitar que a polícia dos EUA é honesta. Bom, os colegas do Avery não são, e é daí que vêm os conflitos desta segunda história.
METADE 3: O BROMANCE DE HARRY OSBORN
Finalmente, a última história conta sobre a relação de dois adolescentes (um deles é Dane DeHaan, o futuro Harry Osborn de O Espetacular Homem-Aranha). De interesses comuns, eles têm as drogas, mas tirando isso não poderiam ser mais diferentes. Um vem de um lar quebrado e nunca conheceu o pai, enquanto o outro é filho de um político milionário.
Aqui a narrativa é completada, e é também a parte mais emocional do longa.
UM FILME COM TRÊS METADES
O Lugar Onde Tudo Termina conta três histórias bem diferentes. De comum entre elas, há a narrativa lenta e uma direção irregular, que vai do absurdamente estiloso (o supracitado plano sequência é o maior destaque) ao “poderia estar vendo na TV”.
Justamente pela sua narrativa lenta, é difícil recomendar o filme sem ressalvas, o que é mais um ponto que o torna review unfriendly. Convenhamos, recomendar Os Vingadores para os companheiros nerds que leem este site é fácil. Afinal, se você acessa o DELFOS, é uma aposta certa que você gosta de super-heróis.
Este já é mais difícil. Nem todo nerd gosta destes longas lentos e mais cerebrais, desses que costumam ser figurinha fácil em mostra de cinema. No entanto, sei que muitos leitores, assim como eu, também apreciam este tipo de filme. Então se você é um deles, manifeste-se nos comentários para eu saber que você existe, e reserve seu ingresso.