O Leitor

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Bem-vindo a “Como Fazer um Oscarizável 101”. Comece seu filme com um romance. Depois separe o casal e coloque-os em situações de dificuldade. Até o final do filme, um deles – ou os dois – deve morrer, depois de uma parte bem tocante e melodramática (ver livro “Como Fazer Partes Tocantes e Melodramáticas 101”). Para terminar, dê um jeito de inserir o drama do povo judeu durante o holocausto na história. Tcharam, você tem um Oscar. Agora corre lá para vender no eBay antes que todo mundo perceba como é fácil.

De qualquer forma, se você clicou nessa resenha, devo presumir que tens algum interesse em filmes feitos para ganhar Oscar. E O Leitor leva bem a sério meu pequeno tutorial aí em cima, mas, para ser justo, também acrescenta algumas coisas diferentes. Para situar O Leitor no universo de O Leitor, vamos à sinopse.

Um moleque de 15 anos (David Cross) começa o relacionamento com uma coroa de 30 e tantos (Kate Winslet). Eles passam toda a primeira hora do filme experimentando as mais diversas posições do Kama Sutra. Daí ela vai embora à Cyrino e ele nunca mais a esquece. Porém, muitos anos depois, ele descobre que ela fez parte da guarda nazista e, a partir daí, tenta lidar com os crimes das gerações passadas. E é isso que torna O Leitor um bom filme e o diferencia de tantos outros oscarizáveis com temas semelhantes.

A primeira hora, que mostra o casinho dos dois, é sinceramente chatíssima. Sabe quando você se sente preso no cinema, doido para ir embora? Foi mais ou menos assim para mim. O nazismo sequer é mencionado nessa parte. O que deixa realmente chato é que não é romântico, manja? Não espere nada no nível desses filmes, por exemplo.

Porém, quando a história muda e o julgamento da velhinha começa, o troço passa do vinho para o hidromel e fica realmente legal. E essa segunda metade vale o ingresso, embora tenha um trecho tão didático que chegou a ofender minha inteligência tanto quanto quando assisti a Jogos Mortais 2. Se você quer saber, selecione o espaço em branco abaixo, mas cuidado, contém spoilers leves.

Desde o início do romance dos dois, fica claro que a moçoila é analfabeta. Isso se torna uma peça vital da história mais para frente, mas, quando finalmente se torna importante, o diretor achou necessário fazer um enorme clipe de flashbacks mostrando todas as dicas que rolaram antes – dicas que já eram deveras óbvias. Sério, não precisava. Qualquer pessoa que estivesse prestando atenção já mata isso no momento que ela pede para o fulano ler para ela.

Diretor didático à parte, o filme cresce bastante depois do julgamento e, embora siga meu tutorial de partes tocantes, consegue, sim, emocionar. A atuação da Kate Winslet realmente merece destaque, pois ela faz um personagem apático e com cara de mau, bem diferente da menina meiga que estamos acostumados a ver vindo dela.

Se você gosta do gênero, ou compartilha da opinião da Academia quanto ao que é o bom cinema, vai fundo. Eu prefiro alguma coisa envolvendo zumbis, explosões, tiroteios e pessoas gritando “Ni!”.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-leitorPaís: EUA / Alemanha<br> Ano: 2008<br> Gênero: Oscarizável<br> Duração: 124 minutos<br> Roteiro: David Hare<br> Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes e David Cross.<br> Diretor: Stephen Daldry<br> Distribuidor: Imagem<br>