Uma curiosidade interessante sobre O Duplo é que ele é o segundo longa-metragem dirigido pelo ator Richard Ayoade, o qual os apreciadores de sitcoms devem conhecer como o hilário Moss da tremendona The IT Crowd. Porém, não espere de seu trabalho atrás das câmeras algo feito para arrancar risadas.
Embora tenha sim humor presente em boa quantidade, este é um daqueles filmes de estética indie de difícil classificação, misturando comédia (do tipo menos aberta), drama e até uma pitada de suspense nesta adaptação do livro do escritor russo Fiódor Dostoiévski.
Em um mundo distópico, escuro, frio e burocrático, Jesse Eisenberg é Simon, trabalhador sem personalidade, de caráter submisso e extremamente azarado, o tipo de loser para o qual a vida não para de mandar pequenos evil monkeys cotidianos. Um dia, ele ganha um novo colega de trabalho, James, fisicamente idêntico a Simon, mas com uma personalidade completamente oposta.
Confiante, extrovertido e canalha, logo James começa a se apropriar da vida de Simon, anulando-o e levando-o a uma crise existencial, abrindo espaço para o filme tratar de bons temas como a questão da identidade e a perda dela e a necessidade da autoconfiança.
Além da já citada mistura de gêneros, que deixa o longa com uma condução bastante esquisita (aqui, no bom sentido), outro fator que salta aos olhos é seu visual, bem estiloso, com uma fotografia propositadamente escura e cenários depressivos, com concreto e manchas para todo lado, ressaltando a opressão do ambiente sobre o indivíduo. O longa consegue ser muito bonito esteticamente ao representar a feiúra do mundo habitado pelos personagens.
No mais, há boas situações e seu andamento é bacana, ainda que o enredo não seja lá tão surpreendente assim e até dê para adivinhar o que vai acontecer em vários momentos. Por outro lado, excetuando-se o visual verdadeiramente caprichado, o resto não muito marcante e não vai mudar a sua vida se você não assisti-lo, o que é reforçado pelo fato de que se trata de uma produção do ano de 2013 chegando aos nossos cinemas com dois anos de atraso.
O Duplo é o tipo de longa difícil de indicar, pois tem um estilo próprio e um tipo de trama misturando gêneros que não costuma agradar à maioria, mas tem predicados suficientes para interessar a quem gosta de produções que fogem a um padrão mais convencional. Logo, cabe ao amigo delfonauta decidir se você se encaixa nessa segunda categoria e se vale a pena investir sua preciosa grana e receber dois Jesse Eisenbergs pelo preço de um. Como já dizia aquele antigo programa de televisão: você decide.