Para os delfonautas fãs de animês e do estúdio Ghibli, temos mais uma de suas animações estreando em nossos cinemas e ganhando uma resenha delfiana. Desta vez trata-se de O Conto da Princesa Kaguya, obra que recebeu uma indicação ao Oscar deste ano.
E em nome da total sinceridade, preciso dizer que foi o primeiro trabalho do estúdio ao qual assisti. Sei que as animações do Ghibli são super conceituadas e várias delas são consideradas como algumas das melhores desta forma de narrativa, mas eu nunca tive interesse em ir atrás porque não sou muito chegado em animações no geral. Vejo muitas para resenhar aqui para o DELFOS (e adorei várias das que assisti a trabalho), mas, como lazer, simplesmente prefiro ver longas-metragens com gente de carne e osso. Dito isso, passemos à sinopse.
Baseado na lenda do folclore japonês O Conto do Cortador de Bambu, ele mostra a história de uma criança encontrada pelo tal cortador dentro de um tronco de bambu. Ele e a esposa criam a menina como sua filha na floresta, onde ela cresce feliz numa velocidade incomum.
Mas como o cara continua encontrando coisas como ouro e roupas finas dentro dos bambus, toma isso como um sinal de que ela deve ser criada como uma princesa e a leva para a cidade, onde vai morar numa mansão cercada de luxo e das rígidas regras de etiqueta da época do chamado período Heian, que compreende os anos de 794 a 1185.
Claro que ela fica infeliz lá, desejando voltar para o lar de sua infância, mas seu pai de criação parece não compreender isso, insistindo em criá-la com toda a pompa de uma princesa, incluindo aí uma fila de pretendentes indesejados e regras sociais opressoras.
À primeira vista, o que mais chama atenção é o seu visual, belíssimo. O traço da animação, grosso e despojado, lembra muito desenhos feitos com giz de cera, o que lhe dá uma cara bem diferente não só das animações atuais, provando que há espaço para o bom e velho 2D entre o mar de CGI, bem como também dá uma estética diferente entre os próprios exemplares do estúdio.
Após esse deslumbramento visual inicial, a outra coisa que chama atenção é o tom melancólico da história e sua condução. Caramba, passado o primeiro ato, que mostra a infância dela na floresta, todo o resto é bem deprê e a protagonista fica infeliz praticamente o filme todo.
Logo, apesar de sua qualidade onírica, esta não é uma obra para quem procura diversão descompromissada e desenhos mais voltados para a comédia. Por isso, também diria que não é exatamente indicado para crianças, que podem acabar por considerá-lo triste demais e arrastado. No entanto, ele é bem bonito e apresenta vários elementos interessantes durante toda sua duração, especialmente se você se interessa por cultura e folclore japonês.
Contudo, como disse acima, o ritmo dele é um tanto lento e não ajuda o fato de ter 137 minutos. Tivesse sofrido uma edição mais impiedosa, poderia se beneficiar mais. Tudo bem, em nenhum momento fiquei particularmente entediado, mas senti que esta longa duração não era necessária.
Também não gostei do final, que usa de um artifício que eu particularmente não suporto em qualquer forma de narrativa, uma espécie de negação da jornada. Quem quiser saber o que é e não se importar com o spoiler, é só selecionar o espaço em branco: me refiro ao fato de que, quando colocar o manto, ela automaticamente esquecerá tudo que viveu até ali. Isso é o equivalente para mim do que uma criança ameaçada é para o Corrales. Embora, para ser justo, eles consertam isso depois, mas então era melhor nem usar esse elemento.
Assim, como meu primeiro contato com um desenho do estúdio Ghibli, posso dizer que gostei de O Conto da Princesa Kaguya, embora não o tenha considerado algo especial. Por tudo que já li a respeito de seus representantes mais famosos, e essa obviamente não é a forma indicada de se fazer uma comparação, imagino que não está no mesmo nível deles. Mas ainda assim foi uma boa experiência, que recomendo para os fãs do estúdio bem como para os fãs de uma animação diferente.