O Noturnall foi uma banda que já nasceu grande, muito pelo fato de sua gênese ter se dado com a junção de músicos do Shaman com Aquiles Priester. Na resenha do primeiro disco deles,eu já havia explicado como a situação era bem mais complexa do que o surgimento de uma banda nova costuma ser, mas eis que agora, após dois discos e um DVD lançados, discutir o que aconteceuno começo dessa história já perdeu importância. E eu só falei isso tudo para passar do complicado primeiro parágrafo.
E mais difícil do que passar ileso pela Maldição do Primeiro Parágrafo é uma banda passar pela Maldição do Segundo Álbum. No primeiro disco, o Noturnall trouxe um Heavy Metal bastante distinto do que normalmente se vê, aliando elementos de power metal com groove metal, e a expectativa para esse segundo disco seria se eles aproveitariam mais o que o primeiro disco tinha de bom e limariam o que ele tinha de ruim. Bem, sem mais delongas, está na hora de descobrir.
Dando uma resumida geral, eu diria que esse disco se aproxima bastante do que o Dream Theater fez em Systematic Chaos, com um prog metal bastante pesado, porém o Noturnall foi mais além e está bem mais heavy do que a banda estadunidense. É uma pena, contudo, que o teclado de Juninho Carelli continue tão escondido quanto no primeiro disco, pois o trabalho dele aqui está excepcional.
E se você ficou embasbacado com a bateria de Aquiles Priester, então ficará ainda mais surpreso com a performance dele em Back To Fuck You Up!. Não só está muito boa, mas o fato de esse segundo registro da banda estar muito mais progressivo que o anterior nos permite imaginar como seria o Dream Theater se Aquiles tivesse entrado na banda.
AMONG THEIR LIES AND SCHEMES WE’RE LIVING
A primeira música é uma introdução, chamada Enquanto a Trégua Não Vem…, e já dá a tônica de que o disco terá uma forte pegada política – o que não é segredo para ninguém, vide o Planalto incinerado presente na capa do álbum. A música seguinte é a faixa-título, que é tão direta quanto o seu nome Back to Fuck You Up! sugere.
A faixa é excelente, mas pode decepcionar o ouvinte desavisado por ser um tanto parecida com Slipknot, com vocais rápidos e versos raivosos. Letras agressivas costumam soar muito mais caricatas do que genuínas, e este talvez seja o principal problema dessa música para mim – é direta demais e acaba ficando difícil levá-la a sério.
Em sequência vem Zombies(The Holy Trinity), que é mais cadenciada e tem muito mais nuances do que sugereà primeira vista, mas que me agradou justamente por isso. Ela tem uma pegada bastante prog, com diversas mudanças de melodia no meio, mas que peca por não ter um refrão tão forte. Fight The System é uma verdadeira reverência ao trabalho do Racionais MC’s e mostra que letra em Português pode sim combinar com Heavy Metal.
WE’RE NOTHING MORE THAN FOOLS
Major Cover Ups traz uma grande surpresa, pois é uma música que casa dois vocais absolutamente distintos (gutural e whistle) e ainda assim é bastante coesa. Industry of Fear é uma música que, ainda que não tenha nada excepcional, também não faz feio e se sustenta frente a todas as outras. Já This Life é a primeira balada a aparecer no disco, mas é uma pena que nem o fato de ela possuir uma passagem super pesada no meio a tenha impedido de ficar menos genérica.
Green Disease segue a linha das músicas anteriores, com um metal progressivo bastante pesado, já We Are Not Alone e Rise Now! trazem todas as influências do power metal que a banda fazia no Shaman. Curiosamente, elas não destoam tanto do resto do disco como aconteceu com a música Sugar Pill no álbum anterior, e isso demonstra maturidade da banda em ponderar quais elementos se encaixam ou não no som do Noturnall. Já Sick and Tired of it All segue a mesma linha da faixa-título, sendo excessivamente direta e igualmente pesada.
Esse segundo disco traz uma clara evolução no direcionamento musical do Noturnall, consolidando a banda no cenário e mostrando elementos diferentes do que estamos acostumados. O disco é melhor que o debut da banda e se sustenta como uma ótima alternativa para você que está procurando algo diferente para ouvir, mas é preciso estar com a mente aberta para absorver o material. Mas, ei, se você está no DELFOS é porque você tem a mente aberta, não é mesmo?