Todo mundo lembra de Mogli: O Menino Lobo por causa da animação da Disney de 1967. Menos eu. Eu assisti a todos os desenhos famosos do estúdio, incluindo os dessa época, mas não tenho absolutamente nenhuma lembrança da aventura do menino humano abandonado na selva e criado por lobos. Ou eu não vi, ou vi há um tempão e apaguei da memória.
O Corrales compareceu também à cabine e disse que as canções da animação são muito famosas. Eu não conhecia nenhuma delas. Então pode-se dizer que eu não tinha nenhum laço afetivo para com esta nova versão, capitaneada pelo Jon Favreau e que também pode ser considerada uma animação, já que todos os cenários e animais foram criados com CGI de ponta.
A história é a clássica: Mogli faz parte de uma alcateia de lobos e o tigre Shere Khan (voz de Idris Elba) quer matá-lo, pois acredita que ele será perigoso para todos os animais quando crescer e virar um homem. Enquanto tenta evitar o confronto com ele, o pimpolho conhece mais animais, incluindo o urso Baloo (Bill Murray), que incentiva que o menino use mais suas habilidades humanas.
O grande atrativo do filme é o visual deslumbrante. Os cenários são belíssimos e incrivelmente realistas. E fazem deste um dos poucos filmes que realmente valem a pena ser vistos em 3D, especialmente pelas tomadas nas partes mais densas e fechadas da floresta, cheia de enormes árvores retorcidas que causam uma excelente sensação de profundidade.
Os animais, a princípio, causam um pouco de estranheza, porque o design deles é extremamente realista. Então quando eles falam mexendo os lábios, fica meio estranho, quebrando a sensação de realismo. Mas isso é algo com que eu rapidamente me acostumei. E, à medida que a história avança, eles até começam a ter atitudes mais humanas e nesse ponto já está orgânico o bastante para não causar mais esse incômodo.
Ironicamente, talvez um dos pontos fracos seja justamente o único humano real a dar as caras na película. O menino Neel Sethi é a cara da versão do desenho, como se tivesse ganhado vida. Mas ele não dá conta de cenas mais dramáticas, apelando para berros e caretas. Não estraga a experiência, mas quando você é superado por um urso digital (mesmo ele tendo a voz e a personalidade do Bill Murray), nunca é uma coisa boa.
Quanto à parte da música, vale dizer que este longa não é um musical, mas ele tem sim seus momentos melódicos. A canção Somente o Necessário, que o Corrales me disse ser a mais famosa, mas que eu desconhecia totalmente, foi incorporada de forma bem orgânica à trama.
Já a canção do Rei Louie virou mesmo um número musical, o único do longa, o que deixa bem estranha a sua presença. Do nada, uma parte da narrativa, que até então era convencional, segue através de um momento cantante. Particularmente, acho que isso destoa, tanto que falei da mesma coisa na resenha de Peter Pan, onde isso também acontece. Mas talvez seja uma rabugice exclusivamente minha, dado meu desgosto por musicais. Seja como for, outras canções do desenho também dão as caras nos créditos finais, cantadas pelos atores do filme, e os momentos em que elas tocam devem fazer a alegria dos fãs do desenho sessentista.
Devo dizer que eu gostei muito mais do filme do que esperava. Ele é divertido, os coadjuvantes são bacanas, tem um bom ritmo e até um ou outro momento mais sombrio e violento, o que também é um pouco surpreendente em filmes infantis modernos.
Mogli: O Menino Lobo é um dos filmes mais belos visualmente a chegar às telas este ano. Também ajuda ele ser uma aventura muito bem conduzida, um ótimo exemplar para um programa em família. Para ser visto na maior tela que você conseguir encontrar, e de preferência em 3D.