Particularmente eu nunca entendi o sex appeal do Vincent Cassel. Ele é desengonçado, narigudo e, no entanto, foi casado com a deusa Monica Bellucci. Lucky bastard! Deve ser o sotaque, todo mundo sabe que a mulherada se derrete toda por um sujeito falando francês com biquinho.
Seja como for, em Meu Rei mais uma vez Vincent Cassel é o “bonitão da bala chita”, o que me deixa coçando a cabeça, pois se dependesse de mim, a história do filme acabaria depois de uns quinze minutos, mas como o negócio não é meu, ele ultrapassa as duas horas de duração.
Acompanhamos Tony (Emmanuelle Bercot), que apesar do nome, é uma mulher. Ela sofre um acidente de esqui e rompe os ligamentos do joelho. Daí ela vai para uma clínica passar pelo longo processo de recuperação e fisioterapia. Lá, entre um exercício e outro, ela vai repassando, através de flashbacks, sua relação com Georgio (Cassel).
Do início, quando tudo são flores e um parece perfeito para o outro, até as primeiras dificuldades, as pisadas na bola que vão aumentando cada vez mais, até que a relação degringola de vez para algo doentio, entrando no campo do abuso psicológico. Em suma, o nascimento, amadurecer e morte de uma relação amorosa.
O drama é bem conduzido, levado sem pressa (o que não quer dizer que seja arrastado), desenvolvendo com cuidado cada nuance da relação e deixando entrever em antemão as armadilhas em que o casal inevitavelmente vai cair mais para frente e soltando aos poucos as pistas de que se trata de um relacionamento tóxico.
Méritos também para a dupla de atores, cuja performance é essencial para se chegar a este resultado. Afinal, no começo o cara é, de fato, charmoso e carinhoso, para aos poucos se transformar num sacana problemático. Já a mulher vai passar de feliz e centrada para totalmente surtada mais à frente. E tudo isso de maneira bastante orgânica e natural. São atuações que não chamam tanta atenção num primeiro momento, mas na realidade são cheias de nuances.
Particularmente, dramas sobre relacionamentos não são muito do meu gosto, mas este aqui até que me agradou a contento, muito pelos personagens, ainda que certos aspectos da história para mim sejam compreensíveis porém difíceis de aceitar (o lance dos quinze minutos que eu falei lá no segundo parágrafo), embora seja preciso dizer que não há nada aqui que já não tenha acontecido na vida real, às vezes de forma até mais estranha. Se você gosta desse tipo de história, Meu Rei vale uma assistida.