Kingdom Rush e Kingdom Rush: Frontiers

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Sou um gamer da geração anterior, aquela que aprendeu a jogar na base de joystick, mouse e teclado. Não sei quanto a você, mas essa história de ficar engordurando a tela com o dedo e entortando o aparelho pra lá e pra cá não é uma interface que eu curto. Para mim, isso é o equivalente às câmeras tremidas no cinema: o jogo tem de estar plenamente visível e paradinho, na tela. Acontece que eu tenho um Ipad, que uso para trabalhar, e por “trabalhar”, entenda “principalmente jogar”.

NADA TREMA!

Depois de muito procurar por um tipo de jogo que fosse feito para as telas gosmentas, creio que encontrei: tower defense! Não acho que exista uma maneira mais ágil de se divertir com o estilo do que usando os dedinhos. Se eu tento usar o PC e o mouse, tudo fica muito mais lento e frustrante. Com certeza é questão de costume, mas é o meu equivalente a jogar RTS com joystick. Eca!

Há uma série maior do que Law and Order de jogos do estilo disponíveis para IOS e Android. Experimentei vários, e é tudo muito parecido: o exército inimigo está chegando, e você precisa posicionar suas defesas estrategicamente, para impedir o avanço. Dois jogos ousaram um pouco, têm muita personalidade e moram no meu coração: Plants Vs. Zombies e Fieldrunners 2. Pois eu escolhi resenhar outros dois. E por quê? Vamos por partes.

FEITO POR NERDS, PARA NERDS

A vantagem de ser gamer hoje em dia é que, gradualmente, os desenvolvedores estão dando lugar a gamers. Os jogos agora são feitos por quem passou a infância e a adolescência jogando. Essas pessoas que sabem o que é divertido, o que é jogável. Nesse caso, não é diferente: Kingdom Rush e a respectiva sequência Kingdom Rush: Frontiers foram desenvolvidos por um time encabeçado por três nerds uruguaios, e se você for ao site do estúdio, no perfil dos caras tem até os jogos que eles estão debulhando atualmente!

Na prática, isso significa três coisas: jogabilidade intuitiva, gamedesign refinado e muitas, mas muitas mesmo, referências nerds. Basta jogar para perceber: no cenário, nas falas, nos personagens, nos achievements. Praticamente tudo presta a sua homenagem, escancarada ou sutil, a um filme, um jogo, um seriado, um livro ou um desenho animado da cultura pop. Se o jogo em si já vale a pena, descobrir cada uma dessas referências é um show à parte e dá aquele orgulho de ser nerd. Em uma frase: se você acessa o DELFOS, vai se sentir muito em casa. Só para dar um exemplo, em uma das fases de Kingdom Rush: Frontiers, você usa um anão. Quando ele é derrotado, grita “not the beard!”. E chega de spoilers! Ou não!

CERTO, MAS E O JOGO?

O jogo é redondinho. Existem quatro tipos de torres, com habilidades distintas, que você deverá posicionar estrategicamente do campo de batalha para impedir o avanço das ondas inimigas: arco e flecha, infantaria, magia e artilharia. Arco e flecha e magia atingem unidades aéreas e terrestres; as outras duas, apenas unidades terrestres. As torres de infantaria despacham três soldados por vez, que vão sendo substituídos conforme morrem, sem exceder esse número. São fracos e sua função é, basicamente, parar os inimigos enquanto as outras torres fazem o serviço pesado. Além disso, você não pode movimentá-los em todo o mapa, mas apenas em um raio próximo à torre de onde saíram.

As torres de arco e flecha são rápidas, mas causam pouco dano, principalmente em inimigos com armadura. As torres de magia são um pouco mais lentas, mas causam dano maior, exceto em inimigos resistentes a magia (é bom falar coisas óbvias, faz a gente se sentir superior). Finalmente, as torres de artilharia são as mais lentas e geram maior dano, mas apenas em grupos de inimigos. Assim, se você acertar apenas um fulano, ele não sofrerá muito.

Todas as torres têm três upgrades que você pode comprar durante a fase, usando a grana que ganhou destruindo geral. No upgrade final, você escolhe uma entre duas espécies do gênero, com características próprias. Elas têm habilidades que também são compráveis, como envenenar os inimigos ou tocar fogo neles, mas não vou falar mais a respeito, pois spoilers spoilam.

Além das torres, existem heróis, com habilidades próprias também, que podem ser escolhidos dentre três, antes de cada fase. Ao contrário das unidades de infantaria, eles circulam livremente pelo cenário, basta dar aquela dedada. Nesse aspecto, existe uma diferença entre os dois jogos, aliás: no primeiro, seu herói evolui e ganha habilidades ao longo de cada fase, conforme derrota inimigos. No segundo, a evolução permanece, mas é mais lenta. No final da fase, a depender de quantos pontos de experiência você acumulou, pode escolher novas habilidades. Além de ser um sistema mais RPGístico, a vantagem é que você já começa a próxima fase com essas habilidades, ao contrário do primeiro jogo, em que sempre inicia do zero. Em ambos os casos, porém, há um limite máximo de níveis, para manter o jogo com certa dificuldade.

Além disso, existem dois tipos de ataque que podem ser usados ao longo das fases: reforços e chuva de meteoros. Os reforços são dois soldados que podem ser colocados em qualquer lugar, mas além de serem fracos, como disse lá atrás, somem em pouco tempo, mesmo que não tenham sido derrotados. Os meteoros são meteoros.

Essas duas habilidades devem ser usadas com parcimônia, porque têm um tempo de cooldown considerável (os meteoros demoram mais), mas fazem a diferença nas fases mais complicadas. Existem também os itens, que não são comprados com o mesmo dinheiro que constrói torres, mas com diamantes que ocasionalmente caem de inimigos. A compra pode ser feita somente entre cada fase, e você pode adquirir vidas extras, mais dinheiro para fazer torres, ou mesmo bombas que destroem todos os inimigos na tela, dentre outras cositas.

JOGANDO, VENDO E OUVINDO

Provavelmente já deu para notar, mas lá vai o óbvio mais uma vez: o jogo é ambientado em um universo medieval-fantasioso, com cavaleiros, magos, orcs, esqueletos, princesas e dragões. O design lembra muito Castle Crashers, 2D cartunesco, colorido e fofinho, em contraste com sangue, decapitações e gritos. As fases são distribuídas em três mundos diferentes, e ao final de cada um deles tem um poderoso chefão.

A jogabilidade, como disse, é intuitiva, e foram eliminadas duas coisas que me incomodam em jogos do gênero: a necessidade de tacar o dedo no dinheiro ganho com a derrota de cada inimigo (ele é coletado automaticamente) e a necessidade de consertar suas torres (elas não sofrem dano).

O Som, desde músicas até falas e efeitos sonoros, foi muito bem trabalhado. Às vezes, percebo que estou cantarolando uma musiquinha ou reproduzindo alguma fala, que quase sempre é inspirada na cultura nerd.

Ao final de cada fase, conforme você tenha impedido certo número de inimigos de passar, é recompensado com estrelas, que são trocadas por upgrades permanentes, como flechas duplas, soldados mais fortes, magias que deixam os inimigos mais lentos, dentre outros. Isso é vital para as fases mais difíceis e obrigará você a revisitar fases já superadas, só para melhorar seu arsenal. Por falar nelas, existem dois modos de jogo além do modo campanha, que também dão essa recompensa. Neles, as fases são as mesmas, mas as regras ficam mais específicas (upgrades ou tipos de torres limitados, possibilidade ou não de usar heróis, e outras dificuldades) e você tem de se virar. Para passar, só conhecendo muito bem as torres e os inimigos.

Por fim, vale mencionar os achievements, que são tendência, mas que nesse jogo não te obrigam a se frustrar e contribuem para a diversão. Geralmente são obtidos conforme você joga naturalmente, e os mais difíceis de conseguir têm a ver, na maioria das vezes, com algum detalhe nerd do cenário, do tipo “onde está Wally?”. Repito: é um deleite encontrar cada uma dessas referências, o Padawan não irá se arrepender!

O QUE MUDOU?

Além da diferença quanto aos heróis, que já expliquei, temos novos inimigos, novos mundos e fases. Alguns elementos de design foram mudados, os upgrades finais de cada torre são totalmente novos (rola uma baita homenagem a uma certa franquia da Ubisoft no segundo jogo). As principais diferenças, entretanto, estão no número de fases e no nível de dificuldade. No primeiro jogo, após o término da campanha, aparecem os Elite Stages, que são os mais difíceis e exigem um bom número de estrelas, além de um estoque de itens. Prepare-se para se sentir desamparado! No segundo, porém, não existem essas fases extremas, o que é um pouco decepcionante e deixa o jogo mais curto. Parece que tentaram compensar essa falta deixando a continuação mais difícil, mesmo no modo normal. De qualquer forma, fica complicado justificar uma espécie de retrocesso, mesmo que a campanha do segundo jogo seja um pouco maior.

CARA, CADÊ MEU SELO DELFIANO?

Adivinha: DLC! O retrocesso que acabei de explicar não macula o conjunto da obra, e eu garanto que você terá horas de diversão nesses jogos, que são a definição de custo-benefício. Acontece que, quando você vai ao menu de seleção de heróis, verá que existem vários outros, além dos três disponíveis em cada jogo. E para consegui-los, só abrindo a carteira e desembolsando Obamas! Aliás, existem alguns que são mais caros do que o próprio jogo! Eu realmente não entendo essa estratégia de marketing. Talvez seja complicado vender o jogo por um preço maior, se há vários de graça por aí, então colocam parte do lucro nessas vendas posteriores. Enfim, poderia ser pior: e se houvesse fases pra comprar? E se houvesse fases impossíveis, apenas superáveis com os heróis à venda? Felizmente, não é o caso. Mas fica aquela sensação de ter comprado o jogo faltando um pedaço, o que eu sempre considerarei um Evil Monkey no meu armário.

De toda forma, ambos os jogos são altamente recomendáveis para nerds de toda estirpe, desde Westeros até Middle-Earth, passando por Mushroom Kingdom e Coruscant. Da próxima vez que você for comandar o destino de seus súditos em cima do Trono de Porcelana, leve essa diversão junto, alteza!

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REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
kingdom-rush-e-kingdom-rush-frontiersAno: 2012 (Kingdom Rush) e 2013 (Frontiers)<br> Gênero: Tower Defense<br> Preco: US$ 2,99 (Kingdom Rush) e US$ 4,99 (Frontiers)<br> Plataforma: PC, IOS e Android<br> Fabricante: Ironhide Game Studio<br> Versao: IOS (Ipad)<br> Distribuidor: Armor Games<br>