O primeiro Kick-Ass surpreendeu por mostrar como seria se um nerd resolvesse virar super-herói na vida real. Tanto o filme quanto a HQ eram muito divertidos, com um humor politicamente incorreto e violência exacerbada. Tudo válido para contar a boa história de um vigilante urbano na era do Facebook.
Cumpriu bem sua função como narrativa. E este é justamente o problema desta continuação. Kick-Ass deveria ter seguido o lema de Highlander do “só pode haver um”. Mas, como rendeu uma bufunfa para o estúdio e para os bolsos de Mark Millar e John Romita Jr., é claro que uma sequência cinematográfica seria inevitável, mesmo ela não tendo o menor propósito de existir, fora conseguir mais uns tostões de nós, os fãs. Mas antes de entrarmos nessa análise, deixe-me tirar a sinopse do caminho.
WHUP ASS
Após os eventos do primeiro filme, os super-heróis da vida real viraram celebridades. Kick-Ass quer dar o próximo passo e montar uma equipe, e quer a Hit-Girl nele. O problema é que a menina prometeu a Marcus, seu guardião legal, que não vestiria mais a fantasia, e ela pretende cumprir com a palavra.
Enquanto isso, Chris D’Amico assume uma nova persona, o Motherfucker, o primeiro supervilão do mundo. Ele contrata um monte de capangas e parte em sua vingança contra o Kick-Ass pela morte de seu pai.
Pronto, agora que você já sabe do que se trata a nova história, posso voltar a descascar sua lista de defeitos. Acompanhe-me.
KICK-ASS MAN
O filme tem muitos problemas, e o principal deles é que a história simplesmente não é muito boa. Não é culpa exclusiva do roteirista e diretor Jeff Wadlow, pois é bem próximo à graphic novel que serve de base para o longa. O problema está justamente no fato de que esta HQ é bem inferior à série original. Mas tudo bem, é para isso que serve uma adaptação, correto? Para alterar aspectos de uma mídia que não funciona em outra diferente e aproveitar para melhorar o que for possível, mas isso não acontece aqui. A única coisa que fizeram de adaptação foi amenizar os aspectos mais violentos e polêmicos da HQ, transformando o filme numa versão bastante coxinha do material original.
Isso já havia acontecido até certo ponto no primeiro longa, mas o resultado acabou sendo bom. Aqui deu tudo errado. Parecia que estavam com medo de ofender qualquer um que fosse. O cúmulo foi amenizarem demais justamente o Motherfucker, que nas HQs comete as piores barbaridades (cuidado com spoilers, selecione o espaço em branco por conta e risco: como matar crianças e estuprar a suposta namorada do Kick-Ass), afinal, ele é um supervilão, e no filme limita-se a ser um bandidinho caricato.
Outra péssima decisão foi não utilizar o que o filme tem de melhor, a Hit-Girl. Aqui, por causa de sua promessa a Marcus, ela simplesmente passa grande parte da projeção apenas como Mindy McCready. Aquela psicótica mirim que conhecemos e amamos do primeiro filme aparece pouquíssimo. Subaproveitar o melhor elemento que você tem em mãos é de uma burrice tremenda. Novamente, é assim na HQ, mas o filme poderia ter ignorado isso e feito algo bem melhor com a personagem.
E quando resolve tomar essas liberdades, o faz para pior. Tipo o que acontece com Kick-Ass, que mesmo treinando diariamente com Mindy (Aaron Taylor-Johnson que, por falar nisso, está enorme), continua sendo um frouxo que apanha até do bandido mais pé de chinelo.
DR. KICK-ASS
Há outras incongruências que incomodam, como o fato do protagonista ficar horrorizado quando outro dos heróis aponta uma arma para um bandido. Que reação é essa vinda do cara que matou um gângster com uma bazuca e anda com uma menina que pode ser uma das maiores assassinas em massa do mundo? Estranha essa atitude, não? É quase como se ignorassem tudo que aconteceu no filme passado.
Todo o humor de seu predecessor também fica para trás. Ou melhor, ele tenta dar as caras aqui também. Há milhares de piadinhas infames , mas nenhuma delas funciona. Eu só dei risada aqui uma vez, e não foi por causa de nenhuma piada, mas pela escolha de trilha sonora na cena da Mãe Rússia contra os policiais. Foi uma das poucas boas sacadas de Kick-Ass 2.
Mesmo com todos esses defeitos, o filme ainda poderia ser melhor se tivesse um bom diretor no comando. Mas Jeff Wadlow (responsável por Cry Wolf – O Jogo da Mentira) limita-se apenas a copiar o estilo visual de Matthew Vaughn e nada mais, na melhor tradição do operário padrão.
ASS-KICKER
No fim das contas, Kick-Ass 2 ironicamente pega algo que antes era uma abordagem diferente e irreverente sobre o mito do super-herói e acaba por transformá-lo em só mais um filme de super-heróis comum, que se leva a sério demais, mesmo estando povoado de gente em fantasias ridículas.
Ou seja, pega tudo de legal que o primeiro Kick-Ass tinha e não consegue aproveitar quase nada. Visto como um mero Testosterona Total, também é apenas uma produção no máximo regular.
Se for para escolher, leia a HQ. A história, como já ressaltei, tem problemas, mas ao menos a graphic novel tem mais cojones. Se você está a fim de ir ao cinema, contudo, recomendo escolher outra coisa para assistir.
CURIOSIDADE:
– Há uma cena depois dos créditos finais. É besta, mas acaba sendo importante caso haja um terceiro filme.
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