Just Cause 3 fez com que eu mudasse minha forma de locomoção. Antes de jogá-lo, quando eu precisava ir a uma cabine na Avenida Paulista, por exemplo, eu descia de elevador, andava até o ponto, pegava um ônibus e descia na Paulista. Este jogo me fez perceber uma forma mais prática.
Agora para ir ao mesmo lugar eu simplesmente pulo da janela (vantagens de se morar em um andar alto), abro a minha wingsuit e saio planando pelo céu de São Paulo, alternando entre um paraquedas quando estiver precisando ganhar altura e a própria wingsuit quando precisar de um pouco mais de velocidade.
Sério, pensa quão mais legal seria a vida se a gente realmente fosse até nossos objetivos da mesma forma que o protagonista de Just Cause 3?
LOCOMOÇÃO E EXPLOSÕES
O núcleo de qualquer jogo de mundo aberto é a locomoção. Os jogos do Batman só são tão legais porque é muito divertido sair planando por Gotham City. Just Cause 3 segue essa proposta à risca. É simplesmente muito legal se locomover pela paradisíaca ilha de Medici com todas as opções que o jogo oferece. Até tem carros e motos para os mais tradicionalistas, mas convenhamos, é muito mais empolgante ir voando.
Além disso, tudo explode no mundo de Just Cause 3. Ative seu paraquedas quando estiver em alta velocidade em uma moto e saia voando enquanto assiste ao veículo explodir em um enorme cogumelo de fogo lá embaixo. Just Cause 3 é daqueles jogos para pessoas que medem a qualidade de um filme pela quantidade de helicópteros que explodem nele e, como você sabe, eu sou uma dessas pessoas. E muitos helicópteros explodem aqui.
Até tem uma história, mas não dá para se importar muito com ela. Você é Rico Rodriguez, que retorna para sua cidade natal após os eventos dos jogos anteriores e descobre que ela foi dominada por um ditador. Obviamente, você se junta aos rebeldes para liberar a ilha. Tão importante e complexa quanto a trama de um Os Mercenários, mas até por isso tão divertido quanto.
A história é cheia de momentos fanfarrões, como quando Rico deve usar seu gancho em um míssil já lançado e mudar sua rota. No entanto, ao contrário do que acontece com a maior parte dos jogos de mundo aberto, Just Cause 3 está em seu melhor quando você está simplesmente brincando no seu mundo.
UM PARQUE DE DIVERSÕES
Em nenhum outro jogo que eu tenha jogado antes eu senti que o mundo dele era realmente um parque de diversões esperando por mim. A coisa mais divertida por aqui é sair explorando e explodindo tudo que tiver de vermelho nos cenários. Criatividade é a palavra-chave. Por exemplo, você pode prender um inimigo em um barril explosivo e fazer os dois colidirem enquanto gargalha maniacamente.
Ou então você pode ser ainda mais maníaco e fazer como eu, que estava voando com a minha wingsuit e resolvi descobrir o que acontecia se eu colidisse em alta velocidade com um enorme tanque de gasolina. Spoiler: o tanque explodiu, eu tomei dano mas não morri, e o protagonista ainda fez uma piadinha.
Como sua vida se regenera rapidamente, o jogo permite que você faça esse tipo de experiência. Se os jogos do Batman são divertidos por permitirem que você seja o Batman, Just Cause faz você se sentir tão insano quanto o Coringa. E isso é muito divertido.
A principal atividade por aqui é invadir cidades e acampamentos militares e explodir tudo que tiver de vermelho ali. Na lógica do jogo, explodir tudo faz com que os rebeldes tomem aquela região, o que não faz sentido, mas é algo tão divertido que você não vai se importar.
Liberar essas cidades abre challenges que vão desde os divertidos, como corridas e voos de wingsuit até algumas mais chatas, como explodir o máximo de coisas que você conseguir em um limite de tempo. Faça boas pontuações e você ganha upgrades bem interessantes, que o jogo chama de mods. E aí entra o lado realmente ruim de Just Cause 3.
MAS UM PARQUE DE DIVERSÕES COM FILAS ENORMES
Tudo em Just Cause 3 gera loadings. Entrou em uma missão da história? Loading. Morreu? Loading. Quer tentar de novo um challenge ou simplesmente abandoná-lo? Pois é, loading.
O problema é que esses loadings estão muito além do aceitável. Na versão de PS4 que eu testei, cada um deles durava de três a cinco minutos. Sem exagero, são três a cinco minutos literalmente cada vez que você cumprir um challenge e quiser tentar de novo em busca de uma pontuação melhor. Como os challenges dificilmente duram mais de um minuto, você consegue deduzir quão enervante é repetir um várias vezes para conseguir ganhar cinco estrelas.
E tem outro ponto que afeta diretamente a diversão. Este é um jogo que compara tudo que você faz aos placares de outras pessoas. Do voo mais longo de wingsuit à maior quantidade de inimigos vencidos em um curto espaço de tempo. Isso é bem legal. O problema é que, sabe-se lá por qual motivo, ele perde a conexão com o servidor a cada cinco minutos. E adivinha só, demora pelo menos três minutos pra conectar de novo.
Ele poderia fazer isso em segundo plano, de forma que o jogador sequer percebesse o que aconteceu, mas ao invés disso o gameplay é congelado para avisar que a conexão foi perdida e fica parado nesse aviso até muito tempo depois, dar a opção de reconectar ou jogar off-line. Reconectar leva mais alguns minutos. Jogar off-line pode parecer a solução, mas é só abrir o mapa que ele congela e tenta conectar de novo.
Esse problema de conexão, somado aos loadings longos e frequentes, faziam com que nos meus testes eu ficasse pelo menos 70% do tempo parado esperando ele me deixar jogar. A solução foi desconectar totalmente da PSN, o que melhorou muito a experiência, mas isso obviamente não resolve os loads. Como as atividades são em geral curtas, ainda assim eu passava pelo menos 40% do tempo esperando.
O negócio chega ao ponto de que eu evitava usar fast travel simplesmente porque era mais rápido sair voando até meu objetivo do que esperar o loading.
Por fim, embora o tom fanfarrão das missões de história seja legal, incomoda o fato de que a maior parte delas são escort missions ou têm objetivos com limite de tempo, o que contribui para que seja muito mais legal simplesmente explorar e fazer as atividades secundárias do que continuar a história.
JUSTA CAUSA
O Kotaku gringo, ao invés de dar nota para os jogos que analisa, tem um sistema de responder “você deve jogar este jogo?”, com as respostas “sim”, “não” ou “ainda não”. Em geral, eu gosto mais do sistema de notas, mas Just Cause 3 é um caso que se encaixa muito bem no sistema do Kotaku.
Temos aqui um lançamento divertidíssimo, prejudicado por uma crueza técnica que poderia ser resolvida com uma programação mais cuidadosa. Não fosse a proporção tão desfavorável de “tempo de jogo X tempo de espera”, o que temos aqui levaria uma nota bem mais alta, entre 4,5 e 5 Alfredos mesmo. Porém, é difícil dar uma nota tão alta para um jogo que me obrigava a ficar com o celular do lado para ficar jogando outras coisas menos envolventes sempre que ele me colocava para esperar.
O negócio é tão grave que eu me senti jogando um beta. É o tipo de coisa que teria justificado um adiamento no jogo, ou então acaba punindo os fãs que comprem o jogo no lançamento.
Quero acreditar que são problemas que podem ser resolvidos com patches. Bloodborne, por exemplo, cortou pela metade o tempo de seus loads com patches. Já os problemas com servidores parecem ser perfeitamente resolvíveis, uma vez que jogos que exigem muito mais da conexão do que uma simples comparação de estatísticas funcionam bem melhor.
Desta forma, você deve jogar Just Cause 3? Ainda não. Mas mantenha-se antenado nas atualizações feitas ao jogo via patches (tem uma atualização de três giga que vai rolar já no dia de lançamento) e compre quando estes problemas forem resolvidos, porque tirando essas coisinhas técnicas, o que temos aqui é divertidíssimo.
Just Cause 3 chega às lojas físicas e digitais hoje.