Esse é um dos DVDs lançados em 2004 que mais me deixaram ansioso para conferi-lo. Afinal, traria material Maideniano da época em que a banda ainda fazia músicas mais curtas e com aquele tipo de refrão que inspiraria o Helloween alguns anos mais tarde a gerar o ao mesmo tempo tão amado e tão odiado Heavy Melódico. E como dizem, quanto maior a expectativa, maior a queda.
Comecemos pelo disco 1, que traz o que realmente importa: a música. São três shows: o lendário Live at the Rainbow, retratando a turnê do álbum Killers, ainda com Paul Di’anno, Beast Over Hammersmith, gravado durante a turnê do The Number of the Beast e, finalmente, Live In Dortmund, filmado em um show da turnê do Piece of Mind.
A idéia dessa série é genial, principalmente para os mais fanáticos, pois finalmente podemos ter acesso não só a vídeos raros como o Live at the Rainbow como também ter uma amostra de como foi cada turnê da banda. E tudo com qualidade de DVD. Ou não. Aí está o problema do vídeo. A idade dos shows fica claramente retratada na qualidade da imagem. Ok, você pode dizer que é antigo mesmo, eles não poderiam ter feito nada para melhorar, mas como eu exijo algo com qualidade realmente elevada em troca do meu suado dinheirinho, sou obrigado a discordar. Ora, existem vários filmes mais velhos do que eu sendo lançados mensalmente em DVD com uma qualidade de imagem e som de fazer frente a superproduções atuais como Matrix e Senhor dos Anéis, então por que o Iron Maiden não faz o mesmo? Por falta de dinheiro, sem dúvida não é. Eles nem remixaram o som para o tradicional 5.1. Tudo bem, o Stereo apresentado no DVD está soando muito bem mesmo, mas seria bom ter uma outra opção para os afortunados proprietários de um Home-Theater. Durante Live in Dortmund chega ao absurdo de a imagem dar aquelas tremidas tão comuns em VHS que já foram copiados exaustivamente, sabe? Vergonhoso…
As músicas também poderiam estar melhor escolhidas (o que, é claro, nada tem a ver com o lançamento em DVD, mas com o show em si), mostrando que tocar o que o público quer ouvir nunca foi especialidade do Maiden. Ok, algumas maravilhas raras estão presentes aqui como Transylvania, Murders In The Rue Morgue (cantada por Dickinson), The Prisoner, Flight of Icarus e 22 Acacia Avenue – esta última presente em dois dos três shows, uma delas contando até com a participação da estrela da música, a prostituta Charlotte – mas como explicar a ausência de pérolas como Still Life, Prowler, Charlotte the Harlot e Die With Your Boots On, apenas para citar algumas das preferidas dos fãs verdadeiros (aqueles que conhecem algo além de Number, Hallowed e Fear)?
Além disso, ainda mentiram na duração dos shows escrita na caixinha. Já perguntei antes na resenha do DVD do Blind Guardian e vou perguntar de novo: Para que fazer isso? Alguém deixaria de comprar caso soubesse que um dos shows teria 30 minutos e não 45?
No disco 2 temos os extras e um documentário. Este último sim, delicioso para fãs. Com a qualidade de imagem e som mais alta que um DVD pode nos oferecer é um documentário de 90 minutos que retrata o início da carreira da banda, desde que Steve Harris pegou em um baixo pela primeira vez até o final da turnê de Piece of Mind, incluindo entrevistas com ex-membros, até aqueles que nós só conhecíamos das árvores genealógicas da banda. Realmente muito legal, contudo é um documentário, ou seja, dificilmente será assistido mais que duas ou três vezes, a não ser que você seja absurdamente fanático e queira decorar a história da banda (se já não decorou). O único defeito que consigo apontar aqui é a tradução das legendas em português (que tem toda a cara de ser de Portugal, embora o menu diga que é o do Brasil), que traduziu, por exemplo, “We’ve had a lot of fun” como “Divertimo-nos muito”, entre outras ainda mais bizarras. Não que esteja errado, mas alguém já conjugou o verbo “divertir” desta forma em uma conversa informal? É um tanto impossível não rir nesses momentos então se tiver condições, escolha legendas em inglês ou assista sem legendas mesmo.
Nos extras temos mais um documentário cobrindo apenas a época de Paul Di’anno, realizado por uma TV inglesa (sem legendas, ou seja, só quem entende inglês vai entender) e algumas aparições na TV tocando Running Free e Woman in Uniform. Também temos um show da banda no lendário Ruskin Arms na ocasião do lançamento do primeiro álbum, apresentando o melhor setlist de todos os shows aqui presentes. O problema, novamente, está na imagem, já que foi um show filmado sem a intenção de ser lançado, com apenas uma câmera, lá no fundo da platéia. Ou seja, está aqui mais pelo seu valor histórico (nunca mais a banda deve ter tocado em um lugar tão pequeno) do que pela sua qualidade.
O mais legal dos extras é a presença de todos os videoclipes realizados pela banda nesse período, ou seja, de Woman in Uniform até The Trooper. Para quem já tem o DVD Visions of the Beast, contudo, não há nenhuma novidade, já que até a apresentação das músicas com a capa do single, é a mesma da compilação lançada anteriormente.
The Early Days vale mais pelo valor histórico, por possibilitar que finalmente coloquemos as mãos em vídeos que estão fora de catálogo há tempos. Embora os shows tenham, sem dúvida, seus predicados, não chegaram a superar (ou mesmo alcançar) minhas altas expectativas. Se a moda é lançar DVDs com material antigo, ainda tenho como meu eleito o Electric Eye do Judas Priest. Agora o próximo exemplar dessa série do Maiden promete. Já pensou ter em um mesmo pacote o Live After Death, o Maiden England, o documentário 12 Wasted Years e ainda um show da turnê do Somewhere in Time (o que sempre tive curiosidade de conferir)? Vamos torcer para que esse supere minhas expectativas e venha com tudo isso e muito mais.
Não deixe de ler também minha crítica para o show do Iron Maiden em São Paulo em 2004, que foi a segunda matéria publicada no DELFOS.