Injustiça: Deuses Entre Nós

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Injustice: Gods Among Us é um game de luta estrelado pelos personagens da DC Comics lançado no ano passado, desenvolvido pela Netherrealm Studio, o mesmo estúdio responsável pelo ótimo reboot de Mortal Kombat. A obra foi aclamada por crítica e público e até faturou o troféu VGX (o antigo VGA) de melhor game de luta de 2013. Mas disso você provavelmente já sabia.

O que você talvez não saiba é que, para promover o game, a DC lançou uma série de HQs detalhando os acontecimentos que levaram à trama do jogo. Inicialmente, a série foi lançada em 36 edições digitais semanais, mais tarde compilados em 12 edições mensais impressas e um especial anual. A série fez grande sucesso e a editora até mesmo fez uma segunda série, Injustice: Gods Among Us – Year 2.

Agora, finalmente, a Panini Comics lança em terras tupiniquins um encadernado com as seis primeiras edições da prequência. Mas como você pode ver pela nota aí do lado, ela não é tão boa quanto o game que a inspirou.

DEUSES NADA ENTRE NÓS

Caso você não tenha jogado, a trama do game é a seguinte: um punhado de membros da Liga da Justiça é transportado a uma terra paralela para ajudar o Batman de lá a derrubar o Superman, que perdeu as estribeiras e virou um ditador totalitário após o Coringa enganá-lo para matar Lois Lane e explodir Metrópolis.

Nesta HQ, acompanhamos de perto o incidente que fez o Super daquele mundo pirar de vez e os seus primeiros passos para a conquista do mundo. É claro que, por se tratar de uma terra alternativa, ele não teve que enfrentar o pessoal do DELFOS, que está na fila para a conquista global há algum tempo. Nota mental: estocar kryptonita aqui na redação, só por garantia.

Apesar de todo alvoroço que eu vi de alguns internautas, eu achei esta HQ bastante irregular. Há algumas partes que são realmente boas. O Superman, por exemplo, não vira a casaca de uma hora para outra, mas vai se transformando pouco a pouco e até mesmo se questiona sobre os rumos que está tomando algumas vezes e eu achei isso bem legal. Mas o melhor mesmo é a ótima troca de farpas entre a Arlequina e o Arqueiro Verde, que está com a moça sob custódia. As passagens da dupla são tão legais que por si só já garantiu meio Alfredo na nota. Uma pena eles aparecerem tão pouco. Se fosse uma HQ estrelada pelos dois, com certeza levaria o Selo Supremo. Eu até mesmo separei um trecho desta parte para você lá embaixo, na nossa galeria.

Porém, a história tem diversos problemas e eles são feios. A cena em que o Batman descobre que Lois está grávida é péssima, uma caricatura terrível do epílogo de Reino do Amanhã. O jeito que o Superman é levado a matar a Lois Lane, sendo intoxicado pelo gás do medo do Espantalho misturado com kryptonita, não convence nem um pouco.

Uma coisa que realmente me incomodou foi como a Mulher Maravilha é retratada aqui, que simplesmente não condiz com a personagem. Basicamente, ela se torna uma espécie de Gríma Língua-de-Cobra, destilando veneno no ouvido do Superman para que ele tome decisões que beneficiam os planos dela. O clímax da trama, a morte de um grande herói citado no game, deveria ser algo triste e dramático, mas não toma este rumo. Pelo contrário, a cena em questão é tão patética e acidental que fica muito, muito difícil de levar a sério. Se você ficou curioso e não liga para spoilers, selecione o espaço em branco aí embaixo para saber o que rola:

Em uma batalha envolvendo heróis e vilões no Asilo Arkham, Damian Wayne, o Robin, está tendo uma discussão ideológica com Dick Grayson, o Asa Noturna, e num impulso de raiva, joga um de seus bastões de combate bem na cabeça do herói, acabando com sua vida instantaneamente. Dá para acreditar nisso, delfonauta?

A arte é outro problema grave. Veja, por causa de seu formato original, um capítulo diferente a cada semana, Injustiça: Deuses Entre Nós conta com oito artistas diferentes. Alguns deles são ótimos, como David Yardin, que fez o melhor trabalho da série na parte em que a Mulher Maravilha encontra Ares. O espanhol Bruno Redondo, responsável pelas partes do Arqueiro Verde, não fica muito atrás e todos os coloristas fazem um trabalho de primeira.

Infelizmente, os dois desenhistas que mais aparecem. Jheremy Raapack e Mike S. Taylor, são muito ruins. Eles até sabem desenhar corpos e enganam quando os personagens estão longe, mas quando o assunto é rosto, meu amigo, a coisa desanda de vez. As expressões dos personagens consistem sempre em olhos esbugalhados, dentes arreganhados e bocas abertas em ângulos infelizes. Parece que, ao invés de transmitir sentimentos, os personagens estão competindo para ver quem faz a careta mais pavorosa. Dê uma olhada na nossa galeria, na cara do Batman e do Superman na fatídica cena da morte do Coringa, para você ter uma noção.

No geral, Injustiça: Deuses Entre Nós tenta ser uma mistura de Guerra Civil, da Marvel, com o tremendíssimo Reino do Amanhã, mas não chega aos pés das duas. Até tem umas coisas legais, mas no esquema geral das coisas é uma história bem nada. Porém, eu não culpo totalmente o roteirista Tom Taylor pela histórica fraca, já que ele estava amarrado ao roteiro do game e não tinha muito espaço para ser criativo. Mas a péssima arte presente na maior parte da HQ não tem desculpa.

Como eu disse lá em cima, esta é apenas a primeira parte da história e ela continua, mas eu realmente duvido que o resto seja publicado por aqui. E sinceramente, assim espero. Dá para se gastar papel com coisa melhor.

Eu não sei como esta história caiu no gosto popular, mas se você gostou e quer ler mais heróis da DC em versão fascista trocando sopapos, eu recomendo que você leia Reino do Amanhã, que é muito melhor escrita e desenhada. E esta é a terceira vez que eu cito a obra nesta matéria, então ela deve ser boa mesmo, né?

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