Encontros entre versões de personagens de duas realidades paralelas (ou dimensões, mundos, tempos, o que for) sempre foram feitos mais como caça-níqueis para explorar os sonhos molhados dos fãs do que para contar uma boa história. O próprio Homem-Aranha já havia encontrado sua contraparte do ano de 2099, por exemplo, e a HQ era bem ruinzinha.
Mas se o negócio é escrito por Brian Michael Bendis, aí a coisa muda de figura, pois você sempre pode contar que ele vai lhe apresentar algo que valha a pena ler e justifique desembolsar alguns tostões de seu rico dinheirinho sem medo de ser feliz.
Homens-Aranha marca o encontro de Peter Parker, o Homem-Aranha do Universo Marvel tradicional (ou Terra 616) com Miles Morales, o novo Homem-Aranha Ultimate. E é um encontro divertido pra caramba.
Essa é uma daquelas HQs sem tramas mirabolantes e gigantescas cheias de interligações e impenetráveis para os não iniciados. O objetivo aqui é contar uma história simples, cujo único propósito é te deixar com um sorriso de orelha a orelha. Você sabe, do jeitinho que deveria ser.
Bendis usa de absolutamente todos os clichês desse tipo de encontro. Peter é transportado acidentalmente para o Universo Ultimate durante uma luta contra Mystério. Tromba com Miles Morales e os dois saem na porrada antes de se darem conta de que estão do mesmo lado e se unirem por um objetivo comum. No caso, vencer Mystério e mandar Peter de volta a seu lar.
Mas é tudo feito com tanto frescor que é como se fosse a primeira vez que se lê esse tipo de história. Além disso, outro dos grandes acertos de Bendis é seu completo domínio da relação entre os personagens.
O novato Miles trata Peter com tanta deferência, mesmo quando está dando uns sopapos nele, que vira praticamente um fanboy. É como se ele estivesse na presença de uma lenda. E o encontro de Peter com as versões Ultimate de Tia May e Gwen Stacy consegue ser bastante emocionante e também engraçado ao mesmo tempo. Especialmente se você souber que a contraparte Ultimate de Peter morreu.
É divertido vê-lo contar como são as versões de vários personagens de sua realidade ao mesmo tempo em que é tocante o modo como ele evita a todo custo dizer a Gwen que ela está morta em seu mundo, por exemplo.
É justamente essa parte humorística/sentimental o grande ponto alto da HQ, tanto que se ela não tivesse uma troca de socos sequer, não teria feito a menor diferença. Na verdade, acho até que seria melhor. Mas você sabe como são as regras desse mercado: dois heróis que se encontram precisam sair na mão. É a lei.
Foi uma leitura tão boa que a única coisa de negativa que tenho a destacar é que foi curta demais. Lançada originalmente em cinco edições, poderiam ter feito umas 12, porque em meia hora eu matei o encadernado e fiquei querendo mais.
E provavelmente teremos mais, visto que já está previsto um novo encontro entre os dois personagens (quem sabe dessa vez não é Miles que vá parar no mundo de Peter?).
Além disso, circulam rumores há algum tempo de que a Marvel pode extinguir o Universo Ultimate, preservando só o Aranha, único personagem da linha que faz sucesso atualmente, integrando Miles definitivamente à Terra 616. Homens-Aranha aproveita para deixar uma porta aberta para que isso possa acontecer.
Homens-Aranha é uma leitura sem qualquer pretensão além da pura diversão. Recomendada para qualquer um que goste do escalador de paredes, seja ele o tradicional ou o alternativo, Peter Parker ou Miles Morales. É bom para todos.