O Homem de Ferro nunca foi o principal herói dos Vingadores nos gibis. Porém, o sucesso dos dois primeiros filmes foi tamanho que quando o filme dos maiores heróis da Terra chegou ao cinema, todo mundo só queria ver as fanfarronices do Tony Stark. E há fanfarronices de sobra nesta quarta aparição cinematográfica do ferroso.
Em Homem de Ferro 3, vários ataques terroristas vêm acontecendo, e um sujeito chamado Mandarim (Ben Kingsley) aparece na TV para assumir a responsabilidade sobre os crimes, se dizendo um professor, e chamando cada ataque de “lição”. A princípio, Tony Stark (Robert Downey Jr.) não se preocupa tanto com isso. Afinal, terrorismo é um assunto do governo. Ele cuida de ameaças alienígenas, caramba! É aí que a turma do Mandarim comete seu big mistake, mandando para o hospital o amigo Happy Hogan (Jon Fraveau). E agora, delfonauta, o troço é pessoal!
ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
Uma coisa que gostei muito, e que, salvo engano, nunca foi abordado nos gibis, é como Tony Stark lida com essa história toda de deuses e alienígenas que ele havia acabado de encontrar da última vez que o vimos no cinema. Afinal, de todos os Vingadores, nosso amigo gênio, playboy, bilionário e filantropo é o único que não tem poderes. Qualquer um (Don Cheadle) que coloca uma de suas armaduras pode fazer o que ele faz. Será que esse negócio todo de super-heróis não é demais para ele?
Seria a oportunidade perfeita para abordar os famosos problemas que o Tony do gibi tem com álcool, mas o filme não chega a este ponto. Ainda assim, é bem legal ver como os eventos mostrados em Os Vingadores afetaram o personagem. Se em todos os filmes da Marvel até então, o foco era sempre no futuro, culminando no ano passado no esperadíssimo longa da equipe, aqui a Marvel Studios dá uma respirada, e pensa um pouco no passado. Uma excelente opção, que serve para desenvolver bem mais seus personagens, especialmente agora que não há mais a mesma expectativa para um novo Vingadores.
Ao ler isso, no entanto, não pense que teremos aqui um herói atormentado e sério, na linha Rambo. Não, senhor, Tonho Esterco está tão fanfarrão quanto sempre esteve. Aliás, Homem de Ferro 3 é muito mais uma comédia do que um filme de super-heróis.
Os lançamentos anteriores da Marvel Studios já brincavam bastante com humor, mas aqui o negócio chega a um outro nível. O roteiro dispara piadas como uma metralhadora e, surpreendentemente, acerta o alvo na imensa maioria delas. Tem um monte de cenas que você acha que vão ser pintudas, daqueles momentos heroicos em que você grita “fuck yeah” e levanta da cadeira fazendo o sinal do martelo, mas em vez disso o filme opta por ir pelo lado oposto e quebrar o clima com uma patetada absurda. Só faltou mesmo colocar o efeito de agulha riscando o disco quando a música para.
E sabe do que mais? Esta opção pela comédia física acabou dando ao filme muito do seu charme. E a predominância dela em todas as cenas ajudou a minar os principais defeitos dos dois primeiros filmes. A saber:
A FALTA DE AÇÃO
O principal problema que eu tenho com os longas do Homem de Ferro é, veja só, a falta de Homem de Ferro neles. E isso se repete aqui. Logo no início, a armadura é destruída e só vai voltar a aparecer no clímax (que, diga-se de passagem, desta vez é um BELÍSSIMO clímax). A ausência do ferroso é tão notável que o filme poderia se chamar Tony Stark.
Porém, aqui o foco é mesmo no Tony Stark. Este não é um filme de ação nem tenta ser. A relação de Tony com o molequinho, por exemplo, demonstra isso muito bem, e responde por algumas das melhores cenas. Assim, embora eu admita que gostaria de ver mais do Homem de Ferro chutando bundas, eu estava me divertindo e rindo tanto durante toda a projeção que quase não pensei nisso. Mas quando pensava, rolava uma decepção, especialmente pelo mal aproveitamento dos vilões.
Sempre achei estranha a escolha do caucasiano Ben Kingsley para viver o chinês mandarim e, após assistir ao filme, devo dizer que estranhei ainda mais escalarem o ator para o papel, e essa frase tem um duplo sentido que você só vai entender após assistir ao filme.
O Mandarim, no entanto, quase não aparece. O vilão de verdade é Killian (Guy Pearce), que em origens e motivações lembra um pouco demais o Síndrome, de Os Incríveis.
Com vilões genéricos e pouca ação, Homem de Ferro acaba ficando abaixo do seu potencial, mas ainda assim é um filme divertidíssimo. E digo mais: eu aplaudo a Marvel Studios por ir contra a corrente dos longas de super-heróis, que tentam sempre ser sérios e realistas. Este direcionamento pode funcionar muito bem para Batman ou Justiceiro, mas não cola em um Homem-Aranha.
Gibis de heróis, em geral, não são sérios e realistas. São escapismo, cores, piadas. Caramba, são pura diversão! E está mais do que na hora de os filmes seguirem a mesma linha. A não ser, é claro, que o personagem peça esse tipo de abordagem (como o Batman, mas pelo amor de Stan Lee, não o Homem-Aranha ou o Super-Homem).
Este clima de diversão descompromissada está presente em cada frame, e destaco inclusive o clipe dos créditos finais (muito legal, por sinal). As cores, a edição e, principalmente, a música, têm um sabor de anos 70, tipo um Starsky & Hutch. Homem de Ferro 3 está muito mais próximo de Os Incríveis e de Megamente do que de Batman. E, para um filme baseado em um gibi da Marvel, isso é ótimo!
É por tudo isso, e apesar da falta de mais cenas de porrada, que Homem de Ferro 3 se tornou o meu filme preferido da Marvel Studios. Sim, amigão, eu gostei mais dele do que de Vingadores (ok, vamos combinar que a expectativa era bem menor, mas ainda assim…). E acredito que você também vai gostar. Então não perca!
CURIOSIDADES:
– A aparição de Stan Lee é do tipo “piscou, perdeu”, então já sabe: não pisque!
– Assim como o resto dos filmes, a cena pós-créditos não visa hypear um lançamento futuro, mas olhar para o passado. E, claro, fazer uma simpática piadinha em cima disso.
– Jon Favreau não voltou para a direção, mas voltou ao papel de Happy Hogan.
– Shane Black é o roteirista responsável pela criação de vários filmes divertidos, como Máquina Mortífera. Ele também já dirigiu o Robert Downey Jr. no simpático Beijos e Tiros.
– A redação desta resenha começou pelas curiosidades e, enquanto digitava esta frase que você está lendo agora, eu ainda não havia escrito uma linha sequer do texto principal.
– Esta resenha foi tirada do ar por algumas horas a pedido da Disney. Confira abaixo a explicação que foi colocada no lugar do texto durante essas horas.
ATUALIZADA 22/4/2013, às 11:42: Na cabine de Homem de Ferro 3, foi combinado um embargo para críticas do filme até o dia 22, mais conhecido como hoje.
Assim, o DELFOS e dezenas de outros sites brasileiros, agendaram suas críticas para sair hoje. Porém, recebi um e-mail da Disney pedindo para retirar o conteúdo, pois as críticas só são permitidas a partir do dia 23.
Atendendo ao pedido da distribuidora, mudei o texto para explicar porque a resenha sumiu de repente. Se você já leu, parabéns! Você leu um texto do futuro, senhor Marty McFly! Se não leu ainda, não prie cânico. Dia 23 o texto volta a popar nesta mesma página, na íntegra.
Também questionamos a Disney sobre as dezenas de outras resenhas nacionais que estão sendo publicadas internet afora. Infelizmente, pedimos desculpas pelo transtorno, mas não tem muito que possamos fazer neste caso. Para não perder o clique, confira abaixo um cachorrinho e um nenê se conhecendo.
LEIA TAMBÉM AS RESENHAS DOS FILMES QUE LEVARAM A ESTE MOMENTO:
– Homem de Ferro – onde tudo começou.
– Homem de Ferro 2 – até agora só o ferroso teve uma sequência.
– O Incrível Hulk – até por favelas cariocas o gigante esmeralda passou.
– Thor – e não é que o deus do trovão é meio fanfarrão?
– Capitão América: O Primeiro Vingador – apresentando a última peça que faltava.
– Os Vingadores – The Avengers – o filme de super-heróis mais esperado da história.
– O Hulk de Ang Lee – não faz parte da história, mas, ei, é o Hulk!