Homefront: The Revolution

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Homefront: The Revolution tem muitas coisas que deveriam fazer com que eu não gostasse dele. É difícil demais. Suas sidemissions são repetitivas. A ambientação é naquele estilo “God bless America”, o que se torna ainda mais curioso pelo fato de que o jogo não foi desenvolvido por estadunidenses. Ainda assim, eu gostei. Ele apresenta algumas boas ideias e tem predicados suficientemente marcantes para valer ser jogado, embora sofra com problemas técnicos e design datado.

AMERICA STILL NEEDS YOUR HELP

São poucos os jogos que me ganham de cara, e este é um deles. Não porque seu começo seja especialmente bombástico. Talvez até mesmo pelo contrário, por ser algo mais lento e focado em criar um clima.

Na introdução, descobrimos que no universo de Homefront, a Coréia do Norte estava à frente dos outros países na guerra tecnológica. De tablets a armas, os EUA se encheram de equipamentos do país dos olhinhos puxados, e com isso acabou acumulando uma dívida externa considerável. Os norte-coreanos não levaram na esportiva quando os norte-americanos declararam moratória, e revelaram que todas as armas que venderam tinham um mecanismo escondido que as desativava remotamente. Assim, com um simples apertar de um botão, a turminha do leste venceu a guerra e invadiu os States.

Anos depois, o Tio Sam está totalmente dominado pelos coreanos, que se auto-intitulam “os salvadores”. Alguns estadunidenses aprenderam a conviver com os invasores, enquanto outros montam uma resistência para chutar os traseiros deles de volta para o inferno de onde vieram. Adivinha de qual grupo você faz parte?

Você é Ethan Brady, um novato na resistência, que traz de volta o arquétipo antigo do protagonista de games mudo, que eu não via há anos. Você logo fica sabendo de um tal de Benjamin Walker, uma figura carismática claramente inspirada por Che Guevara, que está vindo ao seu encontro. Você é capturado e salvo pelo Benjamin, que é ferido no resgate. Só aí você assume o controle do personagem, e não demora para seu novo amigo ser capturado pelos coreanos. Agora você precisa salvá-lo, pois ele é a chave para a luta da resistência.

O jogo continua com um foco bem forte na história, e demora um bom tempo para enfim ele revelar seu mundo aberto. A essa altura eu já estava investido nele, mas foi aí também que as frustrações começaram.

AMERICAN FRUSTRATION

Logo que comecei a explorar, vi que o combate era difícil demais. O problema não é nem esse, mas isso combinado ao design datado, remanescente dos antigos GTA. Quando você morre, perde todos os itens que coletou (não armas, mas as coisas que pode vender para comprar upgrades) e volta a aparecer na área mais próxima que você liberou.

Para você ter uma ideia, logo que o mundo se abriu, eu tinha que chegar a um objetivo a 500m. Na minha frente tinha uma moto. Eu peguei a moto e fui até lá, e morri tentando cumprir o objetivo. Ao invés de reaparecer ali mesmo, pronto para tentar de novo, fui popar lá onde peguei a moto, com o detalhe de que a moto não estava mais lá, ela ficou lá no meu objetivo, perto do meu cadáver. Ou seja, não só perdi tudo que peguei explorando e reapareci do outro lado do mapa, ainda não tinha mais a moto para chegar lá rapidamente.

Tentei jogar mais um pouco, fazendo progresso bem lentamente e morrendo bastante, mas esse design do jogo me fez desistir e procurar pelos menus onde mudar a dificuldade. E foi aí que constatei: essa opção não existia. O único jeito de diminuir o desafio era começando de novo.

Como um jogo lançado 2016 anos depois de nosso senhor Jesus Cristo andar pela Terra não tem uma opção tão básica? Não tenho essa resposta, mas me vi diante da dúvida de continuar jogando e morrendo adoidado ou começar de novo numa dificuldade mais fácil, o que significa que ia perder umas duas horas de jogo. Foi o que escolhi, no entanto. Me pareceu dos males o menor.

TUDO DE NOVO

Após refazer a longa introdução, no entanto, constatei que nem no easy o jogo é fácil. Provavelmente é assim para incentivar o comportamento furtivo no jogador. Este é um jogo de stealth, afinal de contas. Mas em alguns momentos, os tiroteios são inevitáveis e estes são os momentos mais fracos de The Revolution, pois você morre muito rápido e daí ou rola um loading bem longo (coisa de mais de um minuto) caso você esteja numa missão, ou então você aparece do outro lado do mapa e sem itens caso esteja explorando o mapa.

Isso fez com que eu jogasse Homefront não como normalmente jogo em mundo aberto, fazendo todas as sidemissions, mas mais como se fosse um jogo linear, indo de objetivos para objetivos. Isso foi possível porque todas as sidemissions são bem parecidas, consistindo basicamente de invadir um prédio e apertar um botão, então não senti que estava perdendo muito deixando a maioria delas de lado.

O mundo aberto de Homefront não é o tradicional, um mapa enorme no qual você pode ir para qualquer lugar. Aqui são várias regiões menores, e para ir de uma a outra você se teleporta (veja uma imagem do mapa no final do jogo na galeria para ter uma ideia de como funciona). Considere que cada seção é como se fosse uma fase. Assim, ele me lembrou em parte Wolfenstein: The New Order, outro que também tem fases grandes e abertas.

Claramente rolou inspiração de outros jogos também. Dying Light é uma influência óbvia, já que Homefront também brinca com o parkour e escalação, embora faça isso de forma menos dinâmica do que seu comparsa dos zumbis.

Outra coisa que lembra o Dying Light é que seus objetivos normalmente são uma área, onde você precisa achar algo específico. E assim como em Dying Light, isso pode ser mais complicado do que parece. Em várias missões eu ficava andando de um lado para o outro sem saber o que fazer. Era comum eu ter que procurar vídeos para me ajudar, só para descobrir que eu teria que fazer coisas como atirar no teto para soltar itens, o que o jogo nunca me mostrou que era possível.

Uma coisa que Homefront tem de bom o tempo todo é sua atmosfera, que lembra um pouco o cult Metro: Last Light. Seus melhores momentos são justamente os que exploram mais sua ambientação, atmosfera e personagens, e menos as cenas de ação.

DIY

Mas ele também tem algumas ideias próprias. Uma muito legal é que cada arma pode ser alterada para armas completamente diferentes. Uma simples pistolinha, por exemplo, pode ser transformada na hora em uma submetralhadora, enquanto um rifle pode virar um tal de freedom launcher, uma arma que atira bombas que explodem em confete azul, vermelho e branco, uma das poucas tentativas de Homefront em colocar um pouco de humor no jogo.

Isso é legal, pois possibilita que você tenha sempre mais armas do que o jogo permite carregar. Precisa de uma metralhadora mas está com uma escopeta no slot de arma grande? Ora, transforme sua pistolinha e estoure uns miolos!

Cada zona do mapa pode vir em dois sabores. As zonas vermelhas são áreas de guerra. Todo mundo que está lá é inimigo ou resistência e todos atiram para matar. Já as zonas amarelas são áreas civis, habitadas por inocentes. Na prática, em ambos os casos se você for visto por soldados, vai rolar tiroteio, mas nas amarelas você pode se esconder em um lixo ou um banheiro e esperar o alerta passar, enquanto na vermelha vai ter que apelar para a longeva tática do sebo nas canelas.

A história faz com que toda vez que você chega em uma zona amarela, seja necessário completar um medidor de hearts & minds, o que você consegue fazendo sidemissions e pegando colecionáveis. Nunca é legal quando um jogo de mundo aberto obriga a fazer sidemissions e aqui não foi exceção. A última delas, chamada de “arm the mob” foi especialmente trabalhosa, pois eu simplesmente não conseguia descobrir como entrar nas sidemissions. Guias de internet, aí vou eu!

Talvez The Revolution se desse melhor se fosse mais como Wolfenstein e menos mundo aberto. Quando ele se arrisca em missões mais fechadas e focadas na história, ele se dá muito bem e é por esses momentos que eu o recomendaria para fãs de jogos de stealth.

GLITCHES E EXTRAS

Em geral, ele tem uma certa crueza técnica. Embora os gráficos e sons sejam bacanas, é comum acontecer coisas que não deveriam acontecer. Exemplos incluem NPCs empurrando você para fora de uma cobertura, momentos que o personagem desliza pelas paredes e você não consegue controlar, os mesmos NPCs falando duas ou mais frases ao mesmo tempo e, o mais comum, uma pausa de uns cinco segundos TODA VEZ que o jogo salva.

Gamers old-school ficarão felizes ao saber que há aqui algumas fases escondidas do jogo Timesplitters 2, de 2002, e originalmente lançado para PS2, Gamecube e Xbox.

Por fim, há também um modo cooperativo online, mas eu não consegui entrar nele. Tentei em vários dias e horários diferentes, e ele nunca encontrou outras pessoas jogando.

YOU SAY YOU WANT A REVOLUTION

Homefront: The Revolution tem muitas características que jogam contra, mas também traz boas ideias, boas missões e uma atmosfera bem bacana, que podem divertir aqueles que se aventurarem por ele. Fazendo a história e algumas sidemissions (60% de completude), ele me durou 13 horas e 20 minutos.

Está longe de ser um jogo que dá para recomendar sem ressalvas, mas em uma época de vacas magras, pode ser uma boa pedida. Sabe aqueles filmes que a gente recomenda que você assista quando passar na TV e não no cinema? Homefront: The Revolution é a versão gamer deste conceito.

Galeria

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
homefront-the-revolutionAno: 17 de maio de 2016<br> Gênero: Stealth / FPS / Mundo Aberto<br> Plataforma: PS4, Xbox One, PC<br> Fabricante: Dambuster Studios<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Deep Silver<br>