Sempre que ouço Helloween, é fácil me empolgar e começar a berrar desafinadamente todos os refrãos junto com a canção, até mesmo das faixas mais desconhecidas. E isto vale até mesmo para o injustiçado Pink Bubbles Go Ape e o bizarro Chameleon. A única exceção talvez seja o The Dark Ride.
Porém, se você me perguntar o que eu achei do 7 Sinners, o penúltimo álbum deles, minha resposta será que, embora o disco seja bom e muito bem produzido, não consigo me lembrar de nenhuma música dele.
O novo álbum do Helloween, Straight Out Hell, segue mais ou menos o mesmo caminho. Já no início é fácil perceber a qualidade técnica do álbum, que está impecável. Ouso dizer que este é o álbum mais bem produzido de toda a carreira da banda da abobora sorridente.
As faixas continuam com aquela mesma sensação de peso, rapidez e modernidade presentes no 7 Sinners, porém elas estão menos frenéticas, com guitarras, baixo, bateria e teclado trabalhando com um capricho de dar orgulho. Até mesmo a voz de Andi Deris parece estar mais polida.
Mesmo com todas estas grandes qualidades, o que temos aqui é um álbum um tanto quanto inconsistente. O disco possui uma quantidade considerável de músicas completamente esquecíveis, como é o caso de World of War, Live Now! Hold Me In Your Arms, Church Breaks Down e a besteirenta Asshole. Sim, eu também fiquei chocado com o título desta última, pois sempre considerei o Helloween uma banda de bons moços.
Para contrabalancear isto, há algumas faixas que são muito boas e que com certeza entrarão para os setlists do Helloween em suas próximas turnês. Faixas como Burning Sun, Far From the Stars, uma das duas faixas bônus, Another Shot of Life e Nabataea são ótimos exemplos.
Uma das que merecem destaque aqui é a ótima Waiting For The Thunder, que começa com uma introdução bem melosa para depois se transformar em uma música bastante empolgante. Outra excelente é Years, de longe a minha faixa favorita do disco e a que ostenta os famosos “riffs felizes” do Helloween com força total. A faixa título também é muito legal, mas o que empolga nela é especialmente a introdução. Wanna Be God, que embora tenha apenas dois minutos, é fácil de imaginar a banda interagindo com a plateia ao tocá-la, provavelmente porque realmente há um som de plateia ao fundo, mas também por ela ser dedicada a Freddie Mercury e ter o maior jeitão de We Will Rock You.
Mas por mais que estas músicas sejam legais, creio que fãs de longa data como eu, ou de longuíssima data, como muitos delfonautas, ao ouvirem o Straight Out of Hell sentirão a sensação de que “falta alguma coisa”. Esta banda é, inquestionavelmente, o mesmo Helloween que amamos, mas aquela energia dos álbuns anteriores parece agora uma pequena sombra. Nenhuma das canções dá aquela vontade de levantar e cantar a música inteira. Nenhuma delas tem aquela energia adolescente despreocupada ou os refrãos-chicletes que ficam na nossa cabeça por dias, e isso são marcas registradas do Helloween.
A sensação que tenho é que o Helloween é como um garoto que cresceu, mas não deixou de gostar das coisas que gostava na juventude. A energia de outrora ainda paira sobre eles, mas o foco agora é em coisas mais técnicas e “profissionais”.
Caso você não tenha entendido o que eu quero dizer, permita-me ilustrar a situação. Pouco antes de começar a escrever este texto, escolhi uma música qualquer do Helloween para escutar. A escolhida foi a Kings Will Be Kings. Após isto, comecei a escutar o Straight of Hell de cabo a rabo e nenhuma de suas canções me fizeram sentir a mesma alegria e empolgação que esta desconhecida do The Time of the Oath.
Apesar de tudo, o Straight Out of Hell é um bom álbum. Se você não conhece o Helloween, ou a banda nunca teve um grande impacto na sua vida, talvez consiga gostar do álbum mais do que eu. Para os fãs mais antigos, digo que vale a pena dar uma conferida, embora toda aquela fanfarronice que nos fez gostar tanto da banda no passado tenha diminuído bastante.
CURIOSIDADES:
– A segunda faixa-bônus do disco é uma versão de Burning Sun com um órgão eletrônico Hammond. A faixa é dedicada à memória do tremendão Jon Lord, tecladista do Deep Purple e mestre neste tipo de instrumento.
– A capa do álbum foi desenhada pelo paulistano Marcos “Father Time” Moura. Ele também desenhou a capa do 7 Sinners.