Divirta-se com o nosso especial Harry Potter e o Cálice de Fogo:
– Crítica do filme
– Livro X Filme
A primeira vez que li Harry Potter foi quando o primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, foi lançado no Brasil, em 2000 (a primeira edição na terra natal saiu três anos antes). Eu tinha uns 12 ou 13 anos e fui hipnotizada pela história logo na primeira leitura. O que mais me fascinava era, como sempre, a parte estética, mais do que a aventura ou o suspense. Eu tenho essa atração incontrolável por descrições maravilhosas de coisas fascinantes (é também um dos motivos por eu ser tão obcecada pelos livros da escritora estadunidense Anne Rice), e Rowling conseguiu me cativar. O enorme castelo, as roupas de inverno, as corujas, a mágica. E ainda por cima, um unicórnio. Acho que não existe uma só menina no mundo que não adore ou simpatize com um cavalinho branco e chifrudo.
J. K. Rowling certamente não poupou palavras ao escrever o quarto livro da saga de Harry Potter, Harry Potter e o Cálice de Fogo. Publicado em 2000 na Inglaterra (país de origem da escritora) e em 2001 no Brasil, o livro tem 583 páginas, praticamente o dobro de cada um dos três primeiros volumes.
Não ouso chamar o texto de romance ou obra. Não nego a importância da série na hum… literatura contemporânea, ou na lista de best-sellers da virada do século. Tampouco nego que eu goste. Sim, eu gosto. É uma leitura extremamente fácil e gostosa. Mas alguma coisa ainda me incomoda. Acho que talvez o livro, apesar das suas 583 páginas sem figuras, seja um tanto infantil demais. Rowling é de fato criativa, mas o conflito que se apresenta no enredo é fraco. Poderia ser muito mais emocionante. Então vou chamar o livro simplesmente de “livro” daqui em diante.
Harry Potter tem 14 anos e se prepara para iniciar seu quarto ano letivo na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Para quem não sabe, a saga do bruxinho começou quando este tinha 11 anos e descobriu que era bruxo, iniciando então seus estudos em Hogwarts. Harry continua de saco cheio da família da irmã de sua mãe (Harry é órfão), composta por tia Petúnia, tio Walter e o filho do casal, Duda. Os três são trouxas (adorável termo para designar aqueles que não são bruxos no mundo de Harry Potter) e nutrem um ódio feroz a qualquer coisa relacionada à bruxaria.
Logo no começo de O Cálice de Fogo, Harry é convidado pelo amigo Rony Weasley para passar o final das férias de verão junto à família Weasley e à amiga Hermione Granger, e com eles assistir à final na Copa Mundial de Quadribol, que é o esporte dos bruxos. E o mistério começa aí, a partir de um acontecimento estranho imediatamente após o final da partida decisiva de quadribol, com o aparecimento da marca do maior rival de Harry e assassino de seus pais, Lord Voldemort, também conhecido por “Você-Sabe-Quem” ou “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado”.
O suspense sobre o responsável pelo acontecimento sinistro e sobre o que está por vir perdura por todo o livro, ao lado das já familiares aulas de Poções, Adivinhação, Defesa Contra as Artes das Trevas, et cetera, até que surge mais uma novidade: no lugar do torneio anual de quadribol entre as casas (Grifinória, Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa), do qual Harry participava representando sua casa, Grifinória, como apanhador, acontecerá um evento estraordinário inter-escolas, que possibilitará que Harry e seus amigos conheçam alguns estudantes de outros países, vindos de escolas que eles nem conheciam até o momento. Nem é preciso dizer que praticamente todos os estudantes de Hogwarts ficam absolutamente histéricos com a novidade.
A história continua, quase sempre, com construções claras, feitas para um público jovem. Há, naturalmente, alguns deslizes em forma de frases mal feitas, cujo sentido não está claro. Mas tais casos são raros, e pelo seu teor imagino que sejam provenientes de uma tradução esquisita. Aliás, bastante esquisita mesmo: há algumas abreviações bizarras, que um ser humano comum nunca usaria – pelo menos não no nosso português. São abreviações bem feias, como “’tástico” (imagino que signifique “fantástico”), e por aí vai.
O problema deste quarto livro é que, apesar da já comentada enorme quantidade de páginas, tenho a impressão de que a autora tem diminuído bastante a quantidade e a qualidade das descrições (que tanto me fascinavam nas minhas primeiras leituras), o que é compreensível, uma vez que o castelo é o mesmo, as roupas são praticamente as mesmas, etc. Mas ser compreensível não significa que seja perdoável, uma vez que sempre há novos elementos e cenários a serem construídos na imaginação do leitor – através justamente das descrições.
Outro problema que encontrei na minha recente releitura do quarto livro, em relação ao primeiro é que cinco anos os separam. Pode não ser muito para alguém já adulto, com a vida toda estruturada e estabelecida. Mas para alguém de 13 anos é bastante tempo. Muita coisa muda em cinco anos (ou, pelo menos, muita coisa mudou para mim).
Como foi dito acima, Harry Potter está com 14 anos em O Cálice de Fogo. É maduro para a sua idade (pelo menos segundo o que posso observar por aí na vida real), mas nada muito excepcional, como se poderia supor. Está começando a criar coragem para se aproximar de garotas, esquecendo-se de que Hermione, sua melhor amiga ao lado de Rony, é uma garota. Esse tipo de acontecimento no enredo me faz pensar que talvez Harry seja um tanto ingênuo demais em relação à realidade. Mas até aí, quem se importa com a realidade, já que o bruxo inglês voa em uma vassoura e estuda num castelo mágico?
Fico me perguntando o que eu estava fazendo quando tinha 14 anos. Harry está começando a entrar na adolescência agora, começando a deixar de ser infantil e tal (mesmo tendo enfrentado assassinos malvados e perversos, ele sempre foi meio infantil, é inegável). Fato é que quando eu tinha 14 anos, já estava bem ciente da existência de um sexo oposto (mas em compensação, nunca encontrei assassinos malvados e perversos… que eu saiba).
O livro, afinal, não é ruim. É uma leitura de fato gostosa e nada cansativa. Ele é menos cativante, menos mágico, menos emocionante e menos bonito, mas ainda assim, são 583 páginas que eu devorei com algum prazer. Infelizmente, a emoção dos primeiros livros se perdeu um pouco – talvez porque nós tenhamos crescido.