Amigo delfonauta, eu sou um patetão. Você provavelmente já sabe disso. Eu mesmo já contei minhas patetadas por aqui inúmeras vezes, então se você lê o DELFOS, mesmo que há poucos meses, já deve saber disso. Porém, nunca, e eu disse NUNCA, uma patetada minha foi tão épica quanto a que aconteceu hoje. E ninguém sabe do sofrimento pelo qual os patetas passam, a não ser os próprios patetas. Quer saber o que aconteceu? Bem…
PARTE 1: A JORNADA
De acordo com o convite para a cabine, às 10 horas teríamos café da manhã no McDonald’s, e às 11 a sessão começaria. Como não vou às cabines para comer e sabe-se lá os efeitos que o café do McDonald’s pode ter no corpo, resolvi sair um pouco mais tarde do que de costume, para estar no shopping pouco antes das 11. O problema é que até quando quero chegar atrasado, eu sou pontual, e às 10:30 já estava no Eldorado.
O Cinemark estava com a entrada coberta, portanto deduzi que a turminha estaria no McDonald’s. Fui até lá e constatei uma pequena fila, bem menor do que a costumeira quando uma distribuidora oferece café em uma lanchonete, já que, como jornalistas ganham uma merreca, somos um bando de mortos de fome.
Mas a fila pequena é até bom. O preocupante é que não vi nenhuma cara conhecida ali. “Algo está errado”, constatei através dos meus impressionantes superpoderes de dedução. Então resolvi tirar a prova, voltei ao Cinemark e ultrapassei a barreira de lona feita com o material extraído das lágrimas de unicórnios sem chifre. Ou então era de lona mesmo, ainda não decidi.
Na lanchonete tinha alguns funcionários, então me dirigi àquele que parecia ser de uma hierarquia mais alta, pois não falo com gente diferenciada a não ser que seja um outro jornalista. Ou então porque o gerente saberia me passar informações mais confiáveis, escolha a que lhe parecer mais realista.
Eu: Oi, você saberia me informar…
Gerente (interrompendo e sorrindo): Bom dia!
Eu: Uhn… bom dia. Você saberia me informar se a cabine do Gato de Botas é hoje?
Gerente: Não, não tem nada marcado. Vai ter um evento do Gato de Botas no sábado, mas não vai ser cabine.
Eu: Hum… será que é no Shopping Paulista então?
Gerente: Não sei informar. Deixa eu tentar ligar para lá… ninguém atende…
Concluí que, se não era no Eldorado, só poderia ser no Paulista. Uns anos atrás, 95% das cabines eram feitas no Shopping Frei Caneca ou no Espaço Unibanco. Como ambos os cinemas se chamam “Unibanco”, e ficam a uns 10 minutos de caminhada um do outro, era super comum eu me confundir e ir para um quando deveria ter ido para o outro.
Hoje em dia, 95% das cabines são nos Shoppings Paulista e Eldorado e, como nesse caso eles são bem mais distantes um do outro do que os “Unibancos”, eu nunca tinha confundido. Porém, como sei que sou um patetão atrapalhado, não fiquei exatamente surpreso quando isso finalmente aconteceu.
O pior mesmo é que não conseguiria atravessar as movimentadíssimas avenidas Rebouças e Paulista em 30 minutos. O gerente sugeriu que eu fosse de metrô. “Mas não tem metrô aqui perto”, exclamei, ao que ele respondeu que tem a Estação Faria Lima, da linha amarela.
Para quem não é de São Paulo, essa linha amarela é bastante recente e ainda tem pouquíssimas estações nela, então ela nunca foi muito útil para mim, por isso normalmente esqueço que ela sequer existe. O gerente, então, me ensinou a chegar à estação e lá fui eu, com a velocidade de um puma. Ou então com a velocidade de um patetão de 1,90m. Você decide.
PARTE 2: O MUNDO INFERIOR – AKA, O METRÔ
Seguindo as instruções do simpaticíssimo e atencioso gerente, lá fui eu através da passarela do Shopping Eldorado, seguido de uma caminhada pela Rebouças e pela Cardeal Arcoverde até finalmente me encontrar na estação Faria Lima. Foi a primeira vez que usei a linha amarela e, meu amigo, ela é chicona!
Ao invés de catracas, tem umas portas mágicas que abrem quando você debita o bilhete único e, na zona de embarque, outras portas, também mágicas, impedem os suicídios tão comuns em São Paulo, pois bloqueiam o acesso aos trilhos e só se abrem, magicamente, quando o trem estiver ali. Sensacional! Infelizmente, considerando a juventude do lugar, o trem já está bem acabado, com manchas de tinta e outras coisas que entregam a falta de manutenção.
Quando a linha amarela estiver concluída, da estação Faria Lima à Paulista, onde eu faria baldeação hoje, seriam três paradas. Porém, no momento, não existe nenhuma entre elas, então o trem foi direto, e bem rápido. Seria tão legal se o metrô de São Paulo pegasse uma área considerável da cidade, e não só os seis ou sete bairros que de fato pegam. No que dependesse de mim, eu nunca mais pegaria ônibus! =)
Chegando à estação Paulista, desci e segui as placas que indicavam o embarque para a linha verde o mais rápido possível. E esse mais rápido possível foi bem lento, devido às muitas barreiras humanas que bloqueavam meu caminho. Eu me senti em um game tipo Road Avenger (a partir dos três minutos do vídeo abaixo), tentando chegar rápido ao meu destino causando o menor grau de destruição possível. Obviamente, houve fatalidades.
Finalmente, cheguei à parte da estação Consolação que me era familiar. Peguei o trem rumo à estação Brigadeiro e, até lá, a viagem transcorreu sem nada digno de nota.
PARTE 3: O PRESTÍGIO
Atravessei o umbral do shopping exatamente às 11 horas, o que me fez pensar comigo mesmo: “sou pontual até mesmo quando me perco em minhas patetadas”. Quando parei de ficar me exibindo para mim mesmo, corri as escadas rumo ao cinema, e cheguei lá por volta das 11:04, feliz pois, na improvável hipótese de a sessão ter começado pontualmente, eu não teria perdido quase nada.
Falei para a mocinha que guardava a entrada das salas que vim para a cabine do Gato de Botas, ao que ela me olhou como se eu tivesse perguntado quais números vão ganhar a próxima mega-sena. “O senhor veio para o evento?”, ela perguntou. “Imagino que sim, né?”, respondi. “Mas o evento não é do Gato de Botas. Fale com aquela moça ali”, ela disse apontando para uma mulher que acredito, ser a gerente da lanchonete do Shopping Paulista.
Essa moça eu conhecia, pois já a encontrei numerosas vezes nas outras dezenas de cabines que aconteceram ali. Ao me ver, ela sorriu e cumprimentou, e eu perguntei do Gato de Botas. “Sala 7”, ela respondeu. Agradeci e me dirigi rapidamente à sala. Falei “Sala 7” para a moça que guardava a entrada para as salas e fui correndo até a dita cuja que, por mais um Evil Monkey divino, era a mais distante da entrada.
Esse distante, aliás, era bem distante. Coisa de uns 200 metros, acredito. Não é nada se você está tranquilo e no horário, mas parece uma maratona quando se está atrasado, cansado, e ainda faz essa distância correndo o mais rápido possível.
Ao alcançar a sala, não vejo ninguém da assessoria de imprensa e nenhum depositório de óculos 3D. Olho para a tela e ela está exibindo um filme filmado. “Só pode ser trailer”, pensei, e voltei os 200 metros rasos para ver se conseguia um óculos 3D.
Voltei até a lanchonete e, antes que pudesse perguntar qualquer coisa, a gerente pergunta “você falou Gato de Botas? Ih, mas a que está acontecendo aqui é Um Dia. Não sei nada do Gato de Botas”. Se quiser saber o que eu pensei neste momento, selecione o espaço abaixo.
FUCK! FUCK! FUCK! FUCKIN’ FUCK!
Ora pois. Mas se não é no Paulista nem no Eldorado, onde poderia ser? No Kinoplex eu sei que não era, pois o lugar é tão inacessível que eu faço uma preparação espiritual sempre que tenho que ir até lá.
A gerente, simpática como sempre, me convidou a assistir ao tal Um Dia para não perder a viagem. Agradeci, mas declinei o convite, pois o filme já havia começado há algum tempo e eu precisava descobrir onde estava acontecendo o Gato de Botas.
PARTE 4: O ORÁCULO
Porém, não tinha mais nenhuma ideia de onde poderia ser e já passava das 11. Ainda que conseguisse adivinhar onde era, até chegar lá teria perdido metade do filme. O jeito era voltar para o oráculo. Antes de ir, no entanto, uma passadinha pelo banheiro.
Cuidei dos meus negócios no banheiro e, ao sair, duas das três pias estavam ocupadas. Um funcionário do shopping estava parado na frente da pia vazia, me olhando. Não entendi o que ele queria, mas precisava usar a maldita pia. Sabe como é, as pessoas costumam lavar as mãos depois de usar o banheiro, e foi isso que fiz.
O tal funcionário, então, se movimentou até a porta e ficou ali, me olhando. Obviamente, após cuidar dos meus negócios e lavar as mãos, agora o que eu precisava fazer era passar pela porta. Mas o maledeto estava ali, parado, bloqueando toda a porta, e ainda me olhando. Sério, wtf!?
Parei na frente dele para ver se ele se tocava que estava atrapalhando as pessoas e ele ficou vários segundos me olhando até finalmente abrir espaço. Passei pela porta, olho para trás e o que vejo? O sujeito lá, AINDA me olhando! Mas pelos cavalos marinhos de Poseidon! Nesse momento, não tive outra opção a não ser fazer o que sempre faço quando alguém fica me encarando a ponto de me deixar desconfortável: mando um beijinho. Aliás, isso é algo que eu não recomendo que você faça, especialmente para desconhecidos. Uma coisa levou à outra, e eu acabei só saindo do shopping bem depois. Agora era só pegar o ônibus. Só? Meu amigo, se você não viu algo de estranho nessa frase, é porque não conhece São Paulo. Nada aqui é tão simples.
Da Avenida Paulista até o Oráculo, eu posso pegar dois ônibus. Um deles me deixa no quarteirão do meu destino. O outro, a uns cinco quarteirões de distância. Normalmente, eu pego o primeiro que passa, pois essa caminhada é quase irrelevante. Hoje, porém, estava cansado de toda a maratona, incluindo os 400 metros ida e volta na pista do Cinemark, e resolvi que merecia pegar o que me deixava mais próximo.
Obviamente, o primeiro que passou foi o outro e eu o ignorei. Dez minutos depois, tem quatro ônibus parados no ponto e, ao longe, vejo o que queria pegar. Levanto e começo a dar sinal. O que ele faz? Muda de faixa e ultrapassa os ônibus estacionados, ignorando totalmente aquele pobre coitado chacoalhando os braços e correndo atrás do ônibus como se fosse o Peter Parker. Pessoas… é impossível gostar delas…
Conhecendo os ônibus de São Paulo, sabia que, já que tinha perdido o meu (ou melhor, fui ignorado por ele), só passaria outro dali a, no mínimo, 15 minutos. O jeito era pegar o que me deixa mais longe mesmo, e lá se foram mais 20 minutos do meu dia.
No final das contas, acabei chegando ao oráculo por volta das 13, mesmo horário que costumo chegar em um dia normal. Sabe, nos que eu realmente assisto ao filme. Imediatamente, ligo o computador, para ver onde diabos eu errei. E quer saber onde foi? A cabine seria na segunda seguinte. E sabe o pior? Não é a primeira vez que isso acontece, e duvido que tenha sido a última.
Eu sei que você adora rir da minha vida, mas acredite, não é nem um pouco divertido vivê-la. Em todas essas horas que perdi passeando por duas das avenidas mais movimentadas de São Paulo, eu poderia estar fazendo coisas bem mais produtivas, como procurando por cosplays sensuais da Mai Shiranui ou, vá lá, fazendo uma busca por underboobs no Google Imagens. E é por isso que eu digo: só um pateta é capaz de entender o sofrimento de um pateta. Todos os outros só riem da gente. Seu sádico! =P