Senso-comum, toscamente falando, é aquilo tido por certo de acordo com o conhecimento geral, popular ou vulgar. Geralmente é aceito independente de qualquer demonstração ou verificação científica. Baseia-se na tradição ou intuição. Sabe aquelas verdades “absolutas” que são passadas de geração em geração, mas não possuem qualquer prova? Eis o senso comum, mas acho que nem precisava explicar isso para o público delfonauta.
Alias, falando em público delfonauta, o DELFOS está aqui para te ajudar a fugir disso. Já basta a massa de gente guiada e moldada por “ideais” sem idéias. Talvez uma pergunta bem colocada ou uma frase bem expressa possa nos abrir novos caminhos para encontrar verdades concretas, abrindo mão do velho conhecimento popular (cabe um parênteses aqui para ressaltar que o autor prefere a expressão “sabedoria convencional” a senso comum). Não que esse conhecimento esteja de todo errado, mas o que queremos é distância da sua falibilidade.
Possuímos uma ferramenta excepcional para obter as respostas corretas – e concretas. No entanto, pouco a usamos e pouco a consideramos. Muita gente já teve essa matéria na faculdade ou leu qualquer coisa sobre ela, mas não aprofundou o interesse por achar um assunto enfadonho e desinteressante. De que ferramenta estamos falando? ECONOMIA, ora.
Isso mesmo, caro delfonauta: a Economia é uma ciência capaz de quebrar velhas crenças e provar, matemática e estatisticamente, o que é verdade em meio a esse mundo de idéias vazias. E é justamente isso que Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner nos propõem nesse livro incrível.
Steven Levitt, um jovem economista que não tem nenhum pudor ao assumir ‘não ser muito bom em matemática, não dominar econometria e ser fraco em teoria’, foi o ganhador da medalha John Bates Clark em 2003, premiação concedida ao melhor economista norte-americano com menos de 40 anos. É, sem dúvida, um homem difícil de conceituar ou de encaixar “sacralizada” vida acadêmica.
A seu lado, Stephen Dubner, jornalista responsável pela matéria publicada na New York Times Magazine sobre a ímpar mente de Steven Levitt. Aliás, foi dessa parceria inicial que surgiu a idéia do livro.
A obra começa interessante já pelo próprio título: Freakonomics. Essa expressão, cunhada pelos autores, na verdade é um híbrido das expressões Freak e economics, e não tem uma tradução literal, mas podemos dizer que algo que passa bem perto é “economia bizarra”.
“Se a moralidade representa o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse, a economia representa o modo como ele realmente funciona”, é o que nos prega um dos autores. Essa idéia por si só já parece suficientemente interessante, e originaria assunto para um livro todo. Além do mais, segundo ele, a economia nos fornece as respostas, basta que façamos as perguntas certas.
E quais são essas perguntas? As mais inimagináveis possíveis! Por exemplo, “o que os professores e os lutadores de sumô têm em comum?”, “Em que a Ku Klux Klan se parece com um grupo de corretores de imóveis?”, “Por que os traficantes continuam morando com as mães?”, “O que faz um pai ser perfeito?”, etc.
Por mais absurdo que possa parecer, essas perguntas fornecem respostas antes impensadas sobre comportamento e valores humanos. Apresentam-nos idéias surpreendentes e inquietantes, as quais você pode adorar e divulgar para todos os seus amigos ou abominar e tentar refutar.
Fazendo uma análise profunda em nossa sociedade de incentivos, explorando os traiçoeiros fatos correlatos e, principalmente, deixando de lado o politicamente correto, os autores compilam nesse livro respostas a essas e a inúmeras outras perguntas.
Mas, diferentemente do senso-comum, essas respostas não são meras suposições. São baseadas em fatos e estatísticas, estudados profundamente, e estão aí para nos confundir. E, nisso, os autores são mestres. Fazem-nos pensar de forma alheia às “verdades absolutas”.
Ou você sabia que é mais perigoso para seus filhos ter uma piscina em casa do que uma arma carregada? Que os professores trapaceiam tanto quanto os alunos? Que mais cadeias e policiamento significam, sim – ao contrário do que defendem a maioria dos criminologistas -, menos crimes?
As respostas muitas vezes são coisas que nunca imaginamos, coisas que, à primeira vista, parecem não fazer sentido. Vangloriamo-nos em dizer que vivemos na era da informação. E, de fato, isso seria fantástico, não fosse um porém: temos tanta informação sobre tudo que não pensamos mais por nós mesmos!
Com certeza já está mais do que na hora de começarmos a fazer isso. E, talvez, este livro seja exatamente o primeiro passo. Não que você precise acreditar em tudo que está escrito nele. Mas, quem sabe, você veja o quanto é importante contestar (em um primeiro momento, isso é muito mais importante, até mesmo, do que protestar).
Dito isso tudo, cabe ressaltar aqui o que faz esse livro merecer o quase-inatingível selo delfiano supremo (o primeiro livro da história com esse título!). Além da forma magistral com que as estatísticas são analisadas, muitas delas são trazidas até você, para que você mesmo observe. Ou seja, os dados de meses de muitos estudos estão ao final do livro. Basta você ter a mesma dedicação dos autores e perder horas analisando.
Além do mais, esta edição, revista e ampliada, possui alguns “reparos” à versão antiga, bem como um rico material extra que inclui: críticas positivas e negativas sobre o livro, colunas “Freakonomics” escritas para a revista New York Times e mensagens selecionadas do blog freakonomics (que você pode ler aqui). O que já era bom por si só fica ainda melhor com material extra.
Delicie-se com um livro que atravessa inúmeras áreas do saber humano, da psicologia à economia, e CONFUNDA-SE!
P.s.: No livro (que pode ser comprado pela bagatela de menos de 40 contos), você verá uma discussão sobre aborto x criminalidade. Como o assunto é excessivamente polêmico, preferi não comentar sobre ele, mas você pode ler mais sobre isso clicando aqui.