Febre do Rato

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Inteligência não é algo realmente necessário em filmes. Todos nós gostamos de longas que são apenas 90 minutos de explosões e piadas. Ainda assim, é algo desejável, que pode destacar seu filme da grande massa. Porém, há de se tomar cuidado de, ao invés de inteligente, ser apenas pedante. Isso é Febre do Rato.

Irandhir Santos faz Zizo, um poeta nordestino e anarquista. Ele tem amigos. Eles passam boa parte do filme pelados.

Essa simplificação grosseira é justamente o que você vai lembrar do filme, pois não há história, pelo menos nada realmente interessante. Temos aqui apenas um emaranhado de cenas que transitam entre o pseudo-intelectual e o erótico.

Em determinada cena, uma personagem reclama que o filme não tem história, ao que Zizo responde “este filme é a minha história”. Em outro momento, alguém fala “eu gosto de coisas que não entendo”. Assim, Febre do Rato se supervaloriza e tenta ser irreverente ao fazer piadinhas para tentar se safar, acusando o espectador de ser burro por não entender o filme, ao invés de realmente se fazer entender.

E verdade seja dita, não é difícil entender Febre do Rato. Não há profundidade, não há uma mensagem inédita, e o fiapo de história é tão simples que qualquer um será capaz de entender, por mais “burro” que seja.

Quando Zizo vira para a câmera e fala com o espectador, causa estranheza, pois é algo que não tinha acontecido antes e também não voltaria a acontecer depois. Metalinguagem é um recurso interessante, mas assim como a inteligência, deve ser usado com cuidado e ponderação. Ao fazer um filme, você deve passar sua mensagem através de uma história, e não usar um fiapo de narrativa como desculpa para encher um filme de discursos intermináveis. Isso é o equivalente ao moleque que grita “mamãe, eu sou inteligente”, mas nunca faz nada realmente inteligente.

Este parece um filme feito na época da ditadura por um estudante de cinema que teve seu primeiro contato com Glauber Rocha e resolveu fazer seu próprio Terra em Transe. Claro, falha miseravelmente na proposta. Só existiu um Glauber Rocha e, cá entre nós, sua linguagem sequer faz sentido se imitada hoje em dia. E a fotografia em P&B parece tão gratuita quanto suas muitas cenas de sexo.

O filme tem qualidades. Alguns planos escolhidos pelo diretor são realmente interessantes e todos os atores estão muito bem em seus papéis, o que é raríssimo em filmes nacionais. Ainda assim, é pouco. Febre de Rato tenta demais, e consegue de menos. E é uma pena, pois tinha potencial para ser melhor, caso sua ambição homérica tivesse sido melhor direcionada.

CURIOSIDADES:

– Eu costumo fazer piadas aqui com a quantidade de logotipos que aparecem no início de todos os filmes nacionais. Porém, neste caso o negócio chega a ficar engraçado de tão exagerado. As propagandas de abertura duram alguns minutos e a quantidade de logotipos deve chegar a centenas. Taí um investimento inteligente: diluir sua marca em meio a centenas de outras antes de o filme começar. Seria engraçado perguntar para alguém saindo do cinema: “você lembra o nome de um dos patrocinadores?”. =]