Perguntas por Bruno Sanchez. Introdução e tradução por Carlos Eduardo Corrales.
O delfonauta sem dúvida concorda que é sempre melhor entrevistar o membro mais antigo de uma banda. Quanto ao God Dethroned, nos foi prometida uma entrevista com o fundador Henri e, portanto, fizemos as perguntas baseadas nele. Você pode imaginar a nossa decepção quando a garota da Metal Blade, sem quaisquer explicações, nos devolveu a entrevista respondida pelo baterista Arien, certo? Contudo, para calar a nossa boca, o cara demonstrou saber mais sobre o God Dethroned, do que, por exemplo, o Mat Sinner sabe sobre o Primal Fear. Assim, a entrevista acabou ficando bem melhor do que antecipamos e a única decepção mesmo foi a simplória mensagem que Arien mandou para os delfonautas. Tirando isso, foi só alegria, pois ele comentou com muita propriedade sobre religião, letras de Black Metal, a história da banda e muito mais. Confira a seguir.
Como era a cena metálica na Holanda no começo dos anos 90?
A cena estava crescendo. Tinha bandas como Asphyx, Pestilence, Gorefest, Genetic Wisdom, Jewel, Thanatos. The Gathering, e God Dethroned. Bandas trabalhadoras e a maior parte ainda existe hoje. Mas eu era muito jovem e não curtia Metal na época.
Fale sobre o começo do God Dethroned.
Henri começou a banda com Ard, um amigo dele. Não era muito sério na época. Eles fizeram uma demo e tocaram alguns shows. Fizeram o primeiro álbum, chamado The Christhunt, e pouco depois, a banda se separou, para voltar três anos depois.
Quais são suas maiores influências?
Seriam Entombed, Dismember, Slayer, Morbid Angel…
Em 1992, depois do lançamento de Christhunt, Henri decidiu encerrar a banda. Por quê?
Por causa de muitas mudanças de formação e um contrato ruim com a gravadora. Ele não se divertia mais.
Por que o Ministry of Terror não deu certo?
Acho que pelos mesmos motives que o God Dethroned se separou. Os caras não se importavam com a banda tanto quanto o Henri, que fazia tudo, enquanto os outros só queria saber de beber e tal.
Por que voltar depois de cinco anos?
Henri recebia mais reações de pessoas que queria saber do GD. Eles convenceram o Henri a continuar. O Henri conseguiu a diversão que ele tinha perdido de volta. Dessa vez, ele também achou os músicos certos, com mais habilidade e uma atitude melhor.
Depois dos problemas com sua primeira gravadora, vocês sempre estiveram com a Metal Blade. Como é sua relação com eles?
Muito boa! Eles sempre tentaram nos ajudar e fizeram um bom trabalho por nós e nós por eles. Nós melhoramos a cada disco.
Que conselhos você daria para as novas bandas e suas relações com gravadoras?
Seja você mesmo e não tome decisões precipitadas.
O baterista Tony Laureano tocou no disco Ravenous, mas não continuou com a banda. Por quê?
Na época, eles não tinham um baterista permanente, mas queriam fazer o próximo disco. Eles não encontraram nenhum baterista na Holanda que poderia substituir Roel.
Vocês convidaram o Tony oficialmente?
Os caras conheciam o Tony da turnê No Mercy em 1997 com o Cannibal Corpse e ele estava tocando na banda dele, chamada AngelCorpse. Eles ficaram tão impressionados que quiseram ele para o trabalho.
No release de The Toxic Touch, vocês dizem que reduziram os blast beats ao mínimo, porque esse é um clichê no gênero. Gostaria que você falasse sobre isso, já que blast beat é uma das principais inovações no Death Metal.
Isso é criar seu espaço na música. Seria conveniente pegar um riff de guitarra e dizer: “Ok, toque um blast beat por três minutos e daí vamos para a próxima”. Fizemos isso também, e estava ficando chato. Também descobrimos que, durante os shows, as pessoas batiam mais cabeça com as músicas mid-tempo. Foi interessante mudar e gerou muita criatividade. Mas não tem nada errado com blast beat, eu ainda amo isso! E, nos nossos shows, nos ainda temos muitas músicas cheias disso. É bom ter um pouco de variação na nossa discografia, haha.
Toxic Touch é um disco diferente dos anteriores, por ser um pouco mais técnico. Como os fãs estão reagindo?
Muito bem! Eles realmente gostam das músicas novas. Até antes do disco sair, nós tocamos algumas músicas dele e o povo adorou!
No começo, suas letras eram um ataque direto ao cristianismo (Christ Carnage, Hordes of Lucifer e a própria God Dethroned), mas hoje vocês falam sobre vários aspectos e religiões. Por quê? O que você acha dessas mudanças?
Nós percebemos que existe mais para se cantar. E, claro, no início, a idéia era lutar contra o establishment. Henri estava rodeado de pessoas “morais”, e eles o deixavam enojado e furioso. Era catártico para ele escrever sobre suas frustrações. Até hoje, existem muitos auto-intitulados “cristãos morais”, mas muitos deles são traidores sacanas. Não tem nada errado com a religião propriamente dita, mas as pessoas que abusam dela são os vilões, os opressores. E tem muitos opressores no mundo.
Por que sua formação mudou tanto?
Nós também queremos saber, haha. Às vezes só não funciona mais. Era hora de sangue novo.
Você acha que essas mudanças afetam como a banda soa?
Claro. Quando eu entrei na banda, tentei tocar o mais certinho possível e isso refletiu na banda. Com Isaac e Henke, eles tocam o seu estilo e isso também é refletido. São detalhes que fazem a diferença.
O Henri é o único sobrevivente da formação original. O God Dethroned é uma banda ou um projeto dele?
É uma banda. Mas, sem Henri, não existe banda. Não existiria um God Dethroned sem ele. Às vezes ele fica filosofando sobre seu papel de frontman e nós não entendemos isso, já que ele tem uma presença forte no palco e na banda, mas não percebe isso, haha. Ele é um cara engraçado, haha. Ao mesmo tempo, Henri nos diz que não faria nada sem nós, o que prova que somos uma banda. E é isso que eu sinto também.
Muitos músicos de Black Metal dizem que são ateus e que suas letras são apenas histórias de terror. O que você acha disso?
Bom, quando eu leio nossas letras, não costumo levá-las muito a sério, porque muitas delas são histórias de terror e puro entretenimento. Mas no nosso novo disco, elas são bem mais profundas. Não é só terror ou religião, nós tentamos entrar nas mentes das pessoas. E também escrevemos sobre acontecimentos históricos macabros, o que adoramos. Desde que tenha uma atmosfera mórbida, nós podemos escrever sobre o assunto.
Qual é sua opinião sobre religiões? Você segue alguma?
Religiões podem ser muito positivas e dar às pessoas força e um sentido para a vida. Minha religião seria música e bateria, porque é disso que eu vivo e isso é o que me deixa feliz.
O que você acha da cena Black Metal atual?
Bem, o que posso dizer. Acho que não é mais tão popular. As grandes bandas carregam a bandeira com o coração e com a alma e por isso elas sobrevivem à sazonalidade da música. Tem um monte de banda que só toca e diz ser “true metal”, mas as grandes e verdadeiras bandas detonam tudo.
Você acha que as bandas de Black Metal atuais, como o Dimmu Borgir, seguem a tradição das clássicas, como Venom e Bathory?
Talvez, mas elas têm seu próprio estilo, como deveriam ter. Elas são mais extremas, mais modernas, mas o sentimento é o mesmo.
Dentro do Metal, sempre teve uma rivalidade entre o Black e os outros gêneros, como o Power. Até o vocalista do Hammerfall foi atacado por um “black metaller”. O que você acha disso?
Não sei o que aconteceu. Pode ser que os dois tenham discutido. Mas se a briga começou por causa da diferença de gostos musicais, é burrice.
Você gosta de Power Metal?
Não muito.
E gêneros que não têm a ver com Metal?
Gosto da maior parte dos estilos de música. Rock, Hip Hop, Funk, alguma coisa de Dance e até clássica.
Qual você acha que foi o ponto mais alto da carreira do God Dethroned?
A turnê com o Bolt Thrower.
E o pior?
A turnê com o Exodus em 2003. Não por causa da banda, mas a organização era horrível.
Alguma chance de uma turnê pela América do Sul?
Espero que sim!
Qual você acha a melhor música, do God Dethroned e de todas as bandas?
Do God Dethroned, diria On Wings of Pestilence.
Do Morbid Angel: Dominate.
E a pior?
Todas as músicas natalinas.
Valeu pela entrevista. Queria que você deixasse uma mensagem para o público do Delfos.
De nada! Cheers.