Exclusiva: Edguy – Tobias Sammet

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A resenha do CD Superheroes
A resenha do CD Rocket Ride

Perguntas por Gustavo Angeluzzi e Carlos Eduardo Corrales. Introdução e tradução por Carlos Eduardo Corrales.

Essa é a primeira vez que entrevistamos a mesma banda internacional duas vezes, embora tenham sido músicos diferentes. Na conversa anterior, batemos um papo telefônico com Dirk Sauer, onde ele lembrou toda a história da banda, desde quando eles ainda estavam no colegial até o EP Superheroes. Desta vez, falamos por e-mail com o big boss, Tobias Sammet. Normalmente, entrevistas por e-mails não ficam tão boas do que as feitas pessoalmente ou por telefone, mas dessa vez acredito que ficou ainda melhor e ainda mais engraçada que a anterior. Tobias continuou a outra entrevista, falando sobre o disco novo, Rocket Ride, a nova tentativa de gravação de DVD em São Paulo (será que agora vai?) e terminando com um filosófico papo sobre merdas. Então, fãs de Edguy, preparem-se para o show lendo abaixo a conversa na íntegra, inclusive os pensamentos de Sammet sobre merdas.

Qual foi a principal motivação para o álbum Rocket Ride?
Nosso objetivo era gravar um album com testículos de elefante! Nós não queríamos gravar um disco clichê de Power Metal, só para deixar alguém feliz. Nós somos tão ultrajantes e rudes que fizemos exatamente o que queríamos. Mas alguns Metalheads esperam que seu músico favorito siga a visão de outra pessoa sem fazer compromissos. Isso não coincide com a minha visão de criatividade. Se eu quero tocar Rock e Metal, eu faço o que quiser – mesmo que para isso eu tenha que ser muito xingado (Nota: a proposta do Tobias para a música se assemelha à nossa para o jornalismo). Se fosse de outra forma, eu deveria ir ao Popstars e tentar satisfazer as expectativas da indústria musical. Não me entenda mal, nós sempre seremos uma banda de Metal, mas não quero limitar minha criatividade para que continue sendo divertido para os fãs e para nós. E nossos fãs parecem gostar disso. Mas mesmo que o álbum não tivesse entrado no Top 10, eu estaria feliz com ele.

Qual foi a inspiração para a música Superheroes?
Bom, as letras não são tão classudas e tremendonas quanto o Fausto de Goethe, haha. Mas eu só queria passar um sentimento de festa de final de semana. Nada mais, nada menos. Mesmo que eu goste de músicas monumentais com profundidade, é sempre um desafio escrever uma música simples e com um jeito de hino, que tenha um impacto. Se você ficar procurando por respostas e o sentido da vida o tempo todo, você fica louco. Falando em hinos simples, recentemente eu escrevi uma power balada, com um arranjo muito simples e mesmo assim vai arrepiar você. Se você espera que eu escreva apenas 15 minutos de bumbo duplo, com certeza você não vai curtir, mas isso não vai fazer com que eu mude de idéia.

É verdade que vocês nunca “choram por amor”, como é dito na Superheroes?
Haha, acho que sim, mas o que é amor? Eu não lembro exatamente. Muitas pessoas acham que um choque hormonal é amor, quando um homem se faz de bobo. Nós começamos a falar merdas, a nos comportar de forma atrapalhada e a dizer coisas que nunca diríamos em condições normais. Isso é amor? Parece o meu comportamento depois de cinco caipirinhas. Com uma certa maturidade mental, você percebe que as coisas acontecem como têm que acontecer. Só posso falar por mim, mas não consigo me lembrar de chorar por uma mulher recentemente. Mas cada um na sua. Em uma época de metrossexualidade e de David Beckham, os homens não precisam ficar envergonhados por chorar, brincar de pula pula ou de usar meia-calça rosa. Se você gosta, vai em frente! A mensagem chave é o feeling. Vamos sair, nos divertir e esquecer da porcaria do coração partido por um tempo!

Qual foi a inspiração para a letra de Trinidad?
Eu queria escrever uma música com um feeling caribenho e letras bobas. É isso aí.

E para Fucking With Fire (Hair Force One)?
Bom, eu achei que uma única música boba se sentiria sozinha no disco, haha. Sério, originalmente, as duas músicas seriam bônus, mas acabaram entrando no disco. Porque elas são músicas de festa de alta-qualidade. Fucking With Fire é nosso tributo aos bons e velhos tempos do Cock Rock, quando os homens enfiavam pepinos nas calças. A música é simplesmente boa. A palavra “Fuck” é uma língua internacional, tipo um grito de guerra. Não gosto de linguagem ofensiva e palavrões, mas há muito tempo, alguém deve ter sentado e ficado incontáveis noites inventando essas palavras. Seria desrespeitoso ignorarmos elas. Mas se você usar muito, parece que você tem a síndrome de Tourette, haha.

Onde e quando você normalmente gosta de escrever as letras? Por quê?
Varia. Sempre que eu tiver uma idéia. Normalmente acontece à noite quando eu bebo um copinho de vinho. Mas Lavatory Love Machine, por exemplo, foi escrita em um quarto de hotel brasileiro. Depende do meu humor e de quando a inspiração vier. A inspiração é uma vadia imprevisível. Normalmente ela me beija quando ninguém mais me beija.

Por que vocês decidiram gravar um DVD em São Paulo de novo?
Por que vocês no Brasil sabem como colocar vida na festa. Nós já filmamos um DVD na República Tcheca na frente de 25 mil pessoas doidas e no final a empresa de filmagem ferrou tudo. De qualquer jeito, São Paulo é sempre bom. O lugar comporta sete mil pessoas, não é grande nem pequeno demais. Vai ter uma atmosfera íntima e mesmo assim tenho certeza que vocês na América do Sul vão ser tão barulhentos quanto 30 mil pessoas em um festival europeu.

Vocês desistiram de trabalhar nas gravações anteriores?
Basicamente sim, mas talvez usemos alguns trechos como material bônus.

Você não tem medo de ter os mesmos problemas agora? Estão fazendo algo para garantir que tudo vai funcionar dessa vez?
Nós sempre damos o nosso melhor! Tem muitos erros que você pode fazer, então com certeza não vamos fazer o mesmo erro novamente. Dessa vez, a gente vai ferrar tudo de uma forma diferente, haha.

Você tem alguma coisa especial planejada para o show de São Paulo? Fogos, setlist estendido, etc?
Um show do Edguy sempre é especial, nós não podemos cometer o erro de tentar consertar coisas que não estão quebradas só por causa de algumas câmeras. Durante os últimos oito meses, nós deixamos mais de meio milhão de pessoas felizes com o nosso show. Seria burrice mudar tudo agora.

Qual você acha que são as diferenças principais na banda desde o primeiro álbum até o último?
Composição, produção, arranjos, performance, o baterista. Eu não estou feliz com o Kingdom of Madness, mas estou com o Rocket Ride. No início, o megalomaníamo Mekong Delta fodeu toda a produção com o engenheiro dele. Na defesa deles, tenho que dizer que nós não éramos uma banda muito boa também. Mas Vain Glory Opera já foi uma história diferente, porque o engenheiro Norman Meiritz, o Hansi do Blind Guardian e o Timo do Stratovarius nos ajudaram com opiniões e experiência. Com o novo álbum, eu estou realmente satisfeito. É um álbum tremendão e moderno com músicas com jeito de hinos. Como uma banda, nós juntamos muita experiência através dos anos, nós somos como uma família que passou por bons e maus momentos juntos! E nós tocamos centenas de shows com essa formação, somos músicos melhores hoje!

A sua formação não mudou muito. Por que você acha que isso aconteceu?
Por que nós gostamos do que fazemos. Por isso nunca vamos fingir para corresponder às expectativas de ninguém. Além disso, nós ganhamos muito dinheiro, hahaha.

Vocês já tiveram discussões ou brigas sérias?
Bem, o que você quer dizer com “briga séria”? Claro, alguns ganchos e queixos quebrados de vez em quando, mas depois você se desculpa no hospital e todo mundo esquece o que aconteceu, haha. Acontecem discussões, mas sempre com muito respeito pelos outros.

Alguns de vocês têm planos para projetos paralelos, como Avantasia ou Taraxacum?
Eggi tem outra banda chamada Everleaf com quem ele toca quando ele tem tempo. Eu trabalho constantemente em material novo, mas nesse ponto, não sei dizer quando ele vai tomar forma. Tenho muitas idéias, uma visão e formigas nas minhas calças. Na verdade, eu teria que ter sete projetos porque se eu não liberar minha criatividade, ficaria desesperadamente infeliz. Estou sempre à procura de um novo desafio e sempre vou querer criar algo que signifique muito para mim e, espero, para outras pessoas também.

Você gostaria de gravar algo com uma orquestra ou fazer algo diferente com o Edguy? O que seria?
Claro. E vai acontecer. É só uma questão de tempo.

Como você lida com os fãs quando você não está de bom humor e eles vêm pedir autógrafos e coisas assim?
Eu sou só um ser humano, mas você não pode esquecer que algumas dessas adoráveis pessoas dirigem centenas de quilômetros para ver seu show, tirar uma foto ou assinar suas coleções de discos. Sem nossos fãs, não seríamos nada e isso é o que tento refletir no meu comportamento que, admito, não é sempre fácil, quando você chega em um hotel depois de um vôo de 12 horas.

Por que você acha que o Metal é tão forte na Alemanha?
Nunca vai ser mainstream. A mídia ignora o Metal completamente e é pura sorte quando passa um clipe de uma balada roqueira na MTV. Não é tão grande na Alemanha quanto as pessoas acham. Sim, existem algumas poucas bandas como o Blind Guardian, o Edguy e algumas outras que conseguem lotar casas de shows e entrar nas paradas em boas posições, mesmo sem o apoio da mídia. Não sei porque, mas talvez porque você possa confiar nos fãs alemães de Metal. Acredito que existem muitas pessoas que gostam de música caseira e tremendona, que não estão mais ligadas à cena e não sabem o que existe por aí. Para fazê-los conhecer a sua música, é legal escolher uma canção comercial do álbum e lançar em um single ou vídeo. Dessa forma, você tem chance de fazer eles ficarem interessados na parte pesada do seu álbum.

Se você não fosse músico, o que você gostaria de ser?
Um baixista! Ok, eles normalmente não pegam as minas e todo mundo tira sarro deles, mas ainda assim é melhor do que trabalhar 80 horas por semana em uma plantação. Ou não? Não! Eu preferiria trabalhar em uma plantação 80 horas por semana. Isso é melhor do que ser um baixista. A propósito, originalmente, eu era baixista também. Mas daí eu me tornei bem sucedido e comecei a transar, então perdi minha credibilidade como baixista e tive que parar de tocar baixo, haha.

Qual você diria que é a melhor música já composta?
Difícil! Acho que Bat Out of Hell do Meat Loaf ou Bohemian Rhapsody do Queen estão bem próximas da perfeição. Ou Jump, do Van Halen, ou Hells Bells, do AC/DC.

E qual você acha que é a pior?
Tem tanta merda flutuando que, para escolher a pior, você teria que fazer a distinção entre melhor merda e pior merda, o que é difícil, já que merda é merda. Claro, existem seres vivos na face da Terra que apreciam uma carga pesada de merda, mas na minha opinião, merda será sempre merda. E merda que não é tão terrível não é melhor do que a merda terrível. Qual é a merda da diferença? Não existem tonalidades de marrom que separam merda da merda. Merda, mais merda, merdáxima. Que tal? Ligue o rádio e muito provavelmente, se não certamente, você ouvirá uma das maiores merdas do ano.

PS: Aparentemente, Tobias gostou tanto dessa entrevista que a colocou até em seu website oficial, creditada a “uma revista brasileira”.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).