Tudo começou com um email do Corrales perguntando se eu tinha disponibilidade para resenhar um jogo de PS4 chamado Everybody’s Gone to the Rapture. Aceitei sem ter tido contato com os outros trabalhos da desenvolvedora (The Chinese Room), em especial Dear Esther, que segue a mesma linha deste.
Everybody’s Gone to the Rapture é um jogo de exploração e reúne tudo que o povo gosta atualmente: narrativa não linear, mundo aberto e apocalipse. Normalmente, neste tipo de texto, dedicam-se alguns parágrafos para explicar o enredo do jogo, os personagens envolvidos, etc. Pois bem, a estrutura inovadora de Rapture me impede de entrar em muitos detalhes sobre histórias e personagens.
O que posso dizer é: passa-se em um contexto (pré e pós) apocalíptico e desenvolve-se a partir de seis moradores de uma espécie de vila inglesa nos anos 80. Em certo grau, a história lembra um pouco o Melancolia, longa de Lars Von Trier a partir de uma declaração do diretor sobre o filme: afirmando que apresentou o fim do mundo logo no início para evitar a angústia do espectador acerca do fim dos tempos e centrar nas tensões das relações interpessoais pré-apocalípticas. Digamos que Rapture utiliza recurso semelhante.
Mas fique calmo, se você fica aterrorizado só de escutar o nome do cineasta dinamarquês, não reserve o mesmo grau de aflição para Rapture. O jogo é extremamente interessante e uma excelente pedida para quem gosta de jogos indies com essa pegada cinematográfica.
É um título de exploração e mistério com enfoque no desenvolvimento de personagens. Com jogabilidade extremamente simples, baseada nas alavancas direcionais para movimentar-se nos ambientes e para deslocar a câmera e um botão para interação com objetos. O objeto de exploração é a própria história do jogo. Sim, é isso mesmo. O mundo acabou. Não teve jeito. E agora vamos explorar toda a trama relacionada aos seis personagens principais antes do “Evento”. Assim surge a caminhada solitária em direção à luz (literalmente) em busca de uma reconstrução histórica antes do fim. E este é o grande trunfo do jogo.
Essa tal de “reconstrução histórica” ocorre por intermédio de vestígios de luz e outros recursos como cartazes, gravações de áudios, etc. Os desenvolvedores deitaram e rolaram na hora de aproveitar o formato de mundo aberto para explicar aquela realidade.
Outro ponto forte é o desenvolvimento da trama de cada personagem e o papel exercido por cada um deles no contexto daquela pequena comunidade. Os gráficos são bons e a trilha sonora extremamente sensível auxilia na transmissão dos sentimentos como alegria, solidão e agonia. Há sinergia entre a jogabilidade simples e todo o espetáculo sonoro e visual.
Falando em agonia, os pontos fracos do jogo são o ritmo lento da caminhada (apesar do botão R2 servir para correr) e a total ausência de ação (leia no bom carioquês: tiro, porrada e bomba), o que torna o jogo maçante em determinados momentos, mas nada que prejudique o resultado final.
Everybody’s Gone to the Rapture vale a pena e pode ser mais um ponto para aqueles velhos debates na linha Videogames x Cinema x Arte. Aqueles que buscam novas experiências de jogo podem se surpreender.