Se você já ouviu falar de Matheus Souza, provavelmente é um nerd que gostou e se identificou bastante com o excelente Apenas o Fim, de 2008 (que estreou comercialmente em 2009). Se for o caso, high five telepático, pois você é um dos meus. Inclusive, o filme em questão teve a honra de ocupar um cobiçado posto na minha lista de melhores filmes de 2009, ocupando um espaço entre grandes como Up – Altas Aventuras e 500 Dias Com Ela.
À época, muitos elogios foram dados ao jovem cineasta, inclusive chegaram a chamá-lo de Kevin Smith brasileiro. Agora, com seu segundo longa finalmente chegando aos cinemas, é hora de confirmarmos se ele realiza seu potencial ou se será apenas uma eterna promessa.
UM FILME PESSOAL
O que destacou Apenas o Fim da multidão foi quão pessoal o filme era. Focado nos diálogos, ele se aproximava bastante da série composta por Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite. Eu Não Faço a Menor Ideia Do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida também é um filme pessoal, mas carece da profundidade de seu antecessor.
Aqui acompanhamos Clara (Clarice Falcão, aquela moça que faz propaganda de supermercados), uma estudante de medicina que cabula praticamente todas as aulas e que não sabe bem o que fazer da vida. Ela passa boa parte do tempo com o amigo Guilherme (Rodrigo Pandolfo) falando quase que exclusivamente de si mesma.
Esta é a premissa básica, mas o filme não tem uma história propriamente dita. A narrativa é composta por uma série de capítulos mais ou menos independentes, cada um deles focado em uma conversa de Clara com alguém de sua família. Estes capítulos não têm a ver uns com os outros, mas mantêm alguma relação com a trama principal. Esta opção narrativa dá ao filme a sensação de ser mais uma série de esquetes do que um filme propriamente dito, o que o aproxima de Kevin Smith e seu O Balconista.
UM FILME SINGELO
O charme é justamente o apelo pessoal. Clara é a única personagem realmente desenvolvida, mas ela é muito bem desenvolvida. Suas crises, opiniões e sonhos com certeza encontrarão eco nas vidas de muitos delfonautas, especialmente aqueles que estão nos primeiros anos de faculdade.
Porém, como previamente estabelecido, ele carece da profundidade de Apenas o Fim. Isso se deve ao excesso de personagens e à opção por ser uma coletânea de vinhetas. Não por acaso, os melhores momentos são aqueles entre Clara e Guilherme, ainda que este último não tenha muito espaço para se apresentar como personagem.
No entanto, na relação entre eles está a força do longa e seus melhores momentos. Apenas o Fim e a série iniciada por Antes do Amanhecer funcionam tão bem por se focarem em apenas duas pessoas. Um filme singelo e pessoal não precisa de mais do que isso, e ao abrir o leque, as duas pessoas que deveriam ser o foco perdem força.
De qualquer forma, estamos falando de um filme pessoal e singelo, algo raro no cinemão pasteurizado de hoje em dia. Trata-se de um gênero pouco explorado e do qual com certeza muitos delfonautas gostam. Eu Não Faço a Menor Ideia Do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida se destaca justamente por ter essa pegada pessoal, mas não se destaca dentro do gênero em si. Ainda assim, na falta de opções “concorrentes”, acaba se tornando uma boa opção para aqueles que não queiram ver pela 666ª vez a mesma história. E, assim, Matheus Souza ganha novamente a recomendação do DELFOS.