Eu sou daqueles caras que realmente odeia o miguxês. Como alguém que realmente gosta da nossa língua e se esforça para escrever da forma correta, quando alguém me manda um e-mail, scrap ou o que seja com aquela língua própria e deveras incompreensível, ela imediatamente já cai no meu conceito. Desnecessário dizer que fui um daqueles que achou estupidamente estúpido o fato de os canais Telecine começaram a legendar os filmes nesse dialeto – e dou graças a Satã que a moda não pegou. Essa é a opinião que mantenho e defendo com todas as forças.
Acontece que outro dia, estava navegando por sites humorísticos e, em determinado texto (que não lembro onde foi, ou o linkaria aqui), o autor dizia que só sente necessidade de escrever em miguxês quem não sabe escrever em português. Considerei isso a mais absoluta verdade. Este mesmo texto terminava com um link para um “tradutor português/miguxês” (e esse eu consegui encontrar – clique aqui para acessar). Esse tradutor consiste em duas caixas. Na da esquerda, você escreve um texto em português correto e, na da direita, aparece a tradução em um dos dialetos miguxeses que você escolher. Foi aí que fiz a dolorosa constatação. Eu escrevo em miguxês. ._.
Calma, eu explico. Existem três opções de dialetos miguxeses na caixa em questão. O dialeto do MSN, do Orkut e o que o programa chama de Arcaico/ICQ. Para meu espanto, esse é justamente o que eu uso para conversas datilografadas informais, o que até faz sentido, já que minha vida internética começou até antes do ICQ, na época da BBS (o que talvez explique o que direi no PS deste texto).
Pelo que percebi, o miguxês arcaico consiste basicamente em um português quase correto, sem a preocupação com maiúsculas ou acentos, além do uso de algumas abreviações básicas, como “vc”, “tb” e “pq”. Finalmente, apresenta o misterioso uso de reticências ao invés de pontos finais. E, como bem sabem aqueles poucos delfonautas que conseguiram a permissão para entrar na minha lista do MSN (afinal, não quero ficar com uma lista enorme de pessoas que nem sei quem são), eu faço tudo isso. O.o
Tirando o uso das reticências, que eu realmente não sei explicar porque faço, o resto é feito mesmo para tornar a conversa mais rápida (embora admita que o costume de escrever corretamente faça com que alguns acentos e maiúsculas acabem aparecendo mesmo nesse tipo de conversa). Normalmente, quando estou trabalhando, estou também online no MSN, pois acredito que conversar com outras pessoas facilita para deixar meus textos, sobretudo estes mais reflexivos, com um vocabulário informal e menos acadêmico. E, se estou trabalhando enquanto converso, nada mais natural do que digitar as coisas o mais rápido possível. Claro que nenhum texto do DELFOS NUNCA será publicado desse jeito, mas ainda assim, a simples constatação de que isso é considerado miguxês, mesmo que arcaico, mexeu comigo.
Para mim, abreviações e o não uso de acentos e de maiúsculas são apenas formas de escrever mais rápido um texto não importante e que não precisa ser tão claro quanto um artigo delfiano ou qualquer outra coisa que eu venha a escrever. Justamente por isso, nunca entendi o miguxês atual, já que ele não simplifica nada, e muitas vezes emburrece a pessoa que o faz (ao escreverem coisas como imburreci). Afinal, por que diabos alguém preferiria escrever “naum” ao invés de “não”, se é exatamente a mesma quantidade de toques? Se for para ganhar tempo, digite simplesmente “nao” – e é claro, isso não pode ser feito em um texto “sério”.
No dia que escrevo este artigo (29 de dezembro de 2007), isto é o que a Wikipedia tem a dizer sobre o miguxês:
“Miguxês é um termo popular usado para designar uma forma de grafia que tenta imitar a linguagem infantil (também chamada de “tatibitate”), sendo largamente usada na Internet por alguns adolescentes, especialmente membros de uma tribo urbana chamada emocore ou emos. Não se confunde com o chamado internetês por não ser restrito à Internet, nem servir para agilizar a escrita. Ao contrário, é visível que essa forma de escrever é ainda mais trabalhosa do que a escrita normal, dado o recurso comum de alternar letras maiúsculas com minúsculas e substituir o ‘s’ por ‘x’. O termo é proveniente de ‘miguxa’, um hipocorístico para ‘amiga’. Ainda dá-se a troca das fricativas vocálicas, a saber, o ‘i’ pelo ‘e’ e o ‘o’ pelo ‘u’. Como nos exemplos ‘gatenhu’ e ‘fotenha’. Tal forma de escrita deixa a linguagem com o aspecto mais pueril.”
Apesar de ter sentido um certo preconceito true pelo autor afirmar que essa é uma linguagem predominantemente emo (particularmente, acredito que não tenho nenhum emo na minha lista do MSN – não por preconceito ou algo do tipo, mas simplesmente porque nunca tive contato com um – mas muitos que estão lá escrevem em miguxês, principalmente as mulheres), pode-se ver que o carinha concorda comigo, por considerar essa linguagem muito mais complicada do que o português correto.
Sinceramente, esse é um texto mais para desabafo do que para alguma forma de protesto ou reflexão. O fato de eu ser completamente contra o miguxês me faz querer parar de usar o maldito dialeto arcaico em minhas conversas informais em nome do uso do português correto. Por outro lado, meu lado racional realmente não vê muito motivo para usar maiúsculas ou todos os acentos quando estou conversando com o povinho que comparece à minha seleta lista MSNiânica. O que fazer? Sei lá, provavelmente nada vai mudar, a não ser o fato de que eu vou ficar com dor no coração sempre que for falar com alguém por algum programa de mensagem instantânea. Mas pelo menos eu sei escrever corretamente e nunca vou usar meu “miguxês arcaico” em nenhum outro lugar. O pior é aqueles que não sabem usar a nossa língua e nem mesmo separar conversas informais de coisas mais sérias.
PS: Depois que esta crônica estava pronta, decidi brincar um pouco com o tradutor e fui abençoado com um grande alívio. Os textos mais longos (como os que têm de exemplo no próprio tradutor), quando traduzidos para miguxês arcaico, realmente não são tão semelhantes com o que eu uso. Talvez o meu dialeto seja um miguxês pré-histórico ou algo assim, o que é menos pior. Ufa. 😉
PS2: Volte semana que vem para a parte final desta nova trilogia delfiana sobre a nossa língua pátria.