Quantas vezes já vimos roqueiros sendo representados nos cinemas? Puxa, até já perdi as contas. Todas as vezes que um vilão sanguinário é necessário, colocam lá um cara com pinta de “metaleiro”. Quando precisam de um personagem burro, mas divertido, é batata. Não tardam a inventar um personagem fã de Hard Rock. Esse preconceito de Hollywood (muito bem traduzido para o Brasil pela poderosíssima Rede Globo) parece, contudo, estar diminuindo. Em 2002, foi lançado o filme Rock Star, baseado na história de Tim “Ripper” Owens e do Judas Priest. Rock Star foi, provavelmente, a primeira vez que um Headbanger sorrindo foi mostrado no cinema, imagem mais tabu para os engravatados do que beijo homossexual. Aliás, toda a primeira parte do filme é muito legal. Mais para a frente, infelizmente, o filme acaba se perdendo em meio aos clichês e aos preconceitos.
E onde Escola de Rock se encontra nessa história toda? Bem, com certeza há menos preconceito aqui do que em Cabeças de Vento (que denuncia seu preconceito até no nome), mas ainda não foi dessa vez que vimos o mundo do rock ser reproduzido fielmente.
Já assistiu o clipe Sugarcube da banda de pop/rock Yo La Tengo? Neste clipe, vemos os músicos da banda indo para uma “Escola do Rock”, onde eles têm aulas com professores maquiados tipo o Kiss e vão aprender lições valiosas como “Para escrever letras de rock, vocês precisam saber tudo sobre os hobbits”. Este clipe, além de ser um dos mais engraçados dos últimos anos, parece ter servido de inspiração para esta Escola de Rock.
Vamos ao filme: Dewey Finn (Jack Black) é um típico perdedor roqueiro (obviamente) que só quer saber de tocar com sua banda No Vacancy, da qual logo é expulso, e explora seu amigo que, ingenuamente, paga a parte do aluguel de Dewey esperando que um dia ele se toque e arranje um emprego “de verdade”.
Em meio a um ultimato da namorada de seu colega, Dewey decide roubar a identidade do amigo e ser professor substituto de uma escola elitizada. Incapaz de dar aulas afinal, é um roqueiro idiota, Finn fica apenas enrolando o dia inteiro até que, um dia, descobre que a garotada tem aulas de música e, surpresa, são ótimos instrumentistas.
Sabendo da aproximação de uma competição de bandas, Dewey não perde tempo e monta uma banda com os alunos. Problema: as crianças não sabem nada de Rock. E aí começa a melhor parte do filme, onde o professor picareta começa a dar aulas de Rock de verdade para a criançada, abrangendo música, atitude, composição e tudo mais que um roqueiro precisa saber. É engraçadíssima a cena onde o personagem de Jack Black diz que Rock tem que ser sobre aquilo que deixa o compositor bravo, o que faz as crianças começarem a falar coisas como “falta de mesada”, enquanto Dewey vai usando o que os guris falam para compor uma música cuja letra acaba lembrando ótimas bandas como Alice Cooper, W.A.S.P. e Twisted Sister.
Além do preconceito, Escola de Rock também conta com sua carga de clichês. Exemplo: a lição de casa do guitarrista é ouvir Jimi Hendrix, a do tecladista é ouvir Yes e a do baterista é, obviamente, ouvir Rush. Nada contra essas bandas, até gosto muito de Rush, mas acho que está na hora de as pessoas se tocarem que existiram bons guitarristas depois de Hendrix.
O maior destaque vai para a trilha sonora que, além de contar com medalhões do porte de AC/DC, Ramones e Deep Purple, ainda conta com ótimas músicas compostas e executadas pela própria banda do filme. O destaque negativo vai para o cartaz nacional, obviamente feito por alguém que não entende nada de Rock. Acontece que traduziram literalmente a frase “We don’t need no education” referência óbvia ao maior clássico do Pink Floyd (Another Brick In The Wall), eliminando, assim, todo o significado do cartaz original e ajudando a aumentar ainda mais o preconceito do brasileiro comum que, ao não perceber a ligação com uma das músicas mais conhecidas da história, ainda vai sair falando que “roqueiro é burro porque não quer educação”. Deviam ter deixado no original, pois manteria a referência e o público que conhece a música (justamente a quem o título é direcionado), a perceberia mais facilmente.
Escola de Rock não é um filme que vai mudar a sua vida, ou que você nunca tenha visto antes, mas é, ainda assim, uma comédia com seus bons momentos. O típico “filme Sessão da Tarde” para você assistir com a sua família na tarde de sábado e depois ir tomar um sorvete. O que não deixa de ser um ótimo programa.