Entrevista coletiva com a equipe do filme Irma Vap – O Retorno

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Não deixe de ler também a resenha delfiana do filme.

Quinta-feira, meio dia e meio. Estou em um conceituado multiplex paulistano com a missão de cobrir a cabine de imprensa e a coletiva do filme Irma Vap – O Retorno.

Após a sessão da película (cuja resenha você confere clicando no link acima) e um brunch, que para mim é só uma palavra bonita para descrever um café da manhã servido no horário do almoço, é chegada a hora de começar a coletiva.

Estão presentes a diretora Carla Camurati e os atores Marco Nanini, Ney Latorraca, Thiago Fragoso e Fernando Caruso. Todos muito simpáticos, bem humorados e brincalhões. Só mesmo assim para enfrentar uma batelada de perguntas dos jornalistas que variam de boas a imbecis. Estas últimas foram sacaneadas sem piedade, mas com muita classe, pelos entrevistados, conforme você verá mais para frente.

Carla Camurati começou a entrevista falando que o projeto de transportar Irma Vap para o cinema surgiu durante as filmagens de seu longa anterior, Copacabana (também protagonizado por Marco Nanini). “Poderia dar um samba gostoso para todo mundo”. A idéia era manter o mesmo clima da peça. O filme levou 9 semanas de filmagem e teve um orçamento de R$ 6 milhões, incluindo a distribuição.

Para Ney Latorraca, participar do longa foi um prazer, “um grande exercício de humor”. Para o ator, conseguir provocar um sorriso é uma grande vitória. Também disse que a parceria com Nanini deu certo e lembrou que esta é a última aparição cinematográfica do ator Francisco Milani (que faz um papel pequeno), morto ano passado. Com aquele seu tom de voz característico, ainda elogiou os jornalistas presentes: “vocês são umas graças, adoro os paulistas”.

Marco Nanini disse que voltar a trabalhar com Ney é o máximo que ele poderia querer. Sobre as diferenças entre a peça e o filme comentou: “(no filme) ganhamos personagens novos. Pra quem não viu (a peça), é uma oportunidade para ver os old men fazendo os personagens”.

A seguir, os membros mais jovens do elenco, Thiago Fragoso e Fernando Caruso, que interpretam os protagonistas da nova montagem da peça dentro do filme, falaram um pouco de sua experiência no cinema e de como foi trabalhar com Carla.

Fernando, o mais engraçado de todos, contou que este é seu primeiro filme, “mas já vi vários outros” (risadas gerais). “Comecei com o pé direito. Carla viu meu espetáculo de improvisação e gostou”. Daí surgiu o convite para participar da empreitada. Ah, e ele avisa: “não sou parente do Marcos (Caruso, ator que também está no longa)”.

Já Thiago estreou na tela grande em A Partilha e tem mais três longas para estrear esse ano (Trair e Coçar, Foliar Brasil e Ouro Negro). Sobre o trabalho em Irma Vap – O Retorno ele disse que foi uma boa experiência. Por não ter visto a peça, não ficou com medo de fazer o filme. Sobre o trabalho com Carla propriamente dito, falou que teve de trabalhar a linguagem que a diretora pedia, ao invés do método naturalista que ele costuma usar nas novelas globais.

Fernando Caruso complementou: “além disso, o Thiago fica muito bem (vestido) de mulher”. No filme, os quatro atores interpretam homens e mulheres.

Hora de falar do filme em si. Carla apresenta sua visão: “é um pastiche dos clichês, uma brincadeira com a peça, uma costura que usava o texto do Irma Vap”.

Nanini dá sua opinião: “o filme é uma homenagem ao trabalho de ator”. Sobre a construção de seus personagens, ele explicou: “era preciso que houvesse humanidade para compor a Cleide”, inspirada pela atriz Bette Davis. Para ele, a melhor parte da criação de um personagem é a pesquisa.

Depois desse papo, um jornalista sem noção compara a abertura do filme com O Poderoso Chefão (não viaja, amigão) e pergunta se as diversas referências sobre a peça e outras obras, como o filme O que Teria Acontecido a Baby Jane? não atrapalham a total compreensão do espectador.

Carla Camurati responde de forma educada o que qualquer um com um mínimo de cérebro sabe: “não tenho nunca a preocupação do espectador sacar as referências”. Ela explica que as ditas cujas são um quê a mais, dão uma graça maior à obra, e mesmo que alguém não tenha o repertório para percebê-las, isso nunca atrapalha a total compreensão da história. Afinal, “uma geração inteira não viu a peça!”. E não é por conta disso que eles irão deixar de ver o filme.

Já Fernando Caruso fez com que o pobre coitado desejasse nunca ter nascido. Em tom bem humorado ele deu a seguinte voadora no peito do infeliz: “eu sou quase um idiota. Não entendi nenhuma referência. Eu mesmo não vi a peça”.

Hora de falar dos próximos projetos. Thiago irá fazer um espetáculo teatral, Marco Nanini irá rodar o filme da Grande Família e já avisa que quer voltar a trabalhar com Carla, que por sua vez, estará envolvida num festival internacional de cinema infantil e também está escrevendo um roteiro chamado 7 Tempos. Ney Latorraca, no momento, está acabando as gravações da novela Bang Bang e está fazendo uma peça. Mas ele avisa de seu próximo e megalomaníaco projeto. Com um tom de voz dramático, ele diz: “no final do ano começo a ensaiar uma tragédia de Shakespeare”. E salienta diversas vezes, vai ser “uma peça grande!”.

Carla Camurati, perguntada se não planeja voltar a atuar (sua profissão original), diz que acha difícil. “Não dá vontade de voltar a atuar. Sou muito feliz sendo diretora. Adoro atuar, mas acho que sou mais feliz dirigindo”.

E para quem achou que ninguém ia perguntar nada sobre Carlota Joaquina – Princesa do Brazil (filme que, em 1995 marcou a retomada do cinema brasileiro após o estrago que o Collor fez na área), a entrevista encerrou-se justamente com uma pergunta sobre o papel do filme à época e se hoje ele ainda é popular.

Camurati disse: “Carlota tem um papel muito importante. Por ele e pelo resultado da dedicação de toda a equipe. (O filme) ainda tem empatia com a platéia”. No entanto ela afirmou que não acredita no rótulo recebido de salvador do cinema braileiro (à época praticamente extinto). Modesta, ela conclui: “aconteceu por uma questão numérica”. Referindo-se ao sucesso de público conquistado mesmo sem um esquema de divulgação e com poucas cópias.

Terminada a coletiva, constato que me diverti muito mais com a entrevista do que com a sessão do filme. A paixão e o bom humor da equipe ao comentarem o longa foi muito mais empolgante do que toda a projeção da película, algo que para mim, até o momento era um fato inédito. É uma pena que nem sempre boa vontade e dedicação para com um projeto consiga resultar num bom filme.

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