Algumas ideias são tão idiotas que é de se admirar a tenacidade de Hollywood de seguir em frente com elas. Meu exemplo favorito foi quando eles compraram os direitos do jogo Batalha Naval para fazer um filme inspirado por ele. Você sabe: um filme sobre batalhas navais. Nas quais o jogo foi inspirado. Percebe aonde quero chegar? Poderiam ter feito qualquer filme sobre barcos guerreando sem a necessidade de comprar os direitos de um brinquedo!
Eis que algum gênio ataca novamente com outra das ideias mais imbecis dos últimos tempos. Consigo até imaginar como teria sido essa reunião: “que tal fazermos um filme sobre emojis? Sabe, aquelas figuras que nossos filhos usam nas mensagens de texto deles. A criançada vai adorar!”. Aí, todos em volta da mesa dão de ombros e o chefão solta um: “por que não? Já fizemos coisa bem pior”.
Assim nasceu Emoji: O Filme, baseado nos emojis dos aplicativos de mensagem dos celulares. É, já estamos fazendo hora extra no mundo. Já passou da hora dele acabar e encerrar o sofrimento constante que é a vida humana. Mas antes do filme propriamente dito, fomos agraciados na cabine com a exibição de um curta.
PUPPY
Ele é estrelado pelos personagens de Hotel Transilvânia, que eu não assisti. Mas pelo que pude entender, o neto mais novo de um Drácula genérico está louco por um cachorrinho. Acontece que ele é um vampiro, mas mesmo assim ganha o mascote, que é um tanto maior que os cachorros comuns.
E como na maioria das vezes acontece, quem acaba tendo de cuidar do bicho acaba sendo quem o deu de presente, no caso o avô. E eis que o cão irá aprontar algumas confusões no hotel que o sujeito administra.
O curta é bem genérico. Um curta nada. Nem pra lá nem pra cá, com algumas piadinhas batidas e outras engraçadinhas por conta de envolverem seres sobrenaturais em situações cotidianas. Mas no fim das contas, assim que começa a atração principal, você já nem lembra mais dele.
ALTAS EMOJÕES!
Gene é um emoji de indiferença, o popular “meh”. Só que ele também é capaz de expressar outras emoções. Por conta disso, ele se atrapalha e causa o caos no celular do garoto a quem pertence. Parte então numa jornada junto com o emoji do “toca aqui” (o popular high five) para encontrar uma hacker capaz de reprogramá-lo para ser como todos os outros, expressando somente um sentimento.
Será que eu preciso dizer que nunca usei um emoji na vida? Fui muito bem alfabetizado e sou plenamente capaz de transmitir o que desejo sem a necessidade de auxílio visual de hieróglifos modernos. Piscadela marota.
Logo, essa animação já não contava com minha simpatia desde o começo. O fato de ela ser ruim demais é apenas mais um bônus nesse oceano de tosquices. Joinha, carinha sorridente.
No geral, a trama dele parece muito uma versão derivada e de segunda categoria de um Detona Ralph. Claro, trocando os personagens de videogames por emojis. E aí nem sei se todos os que aparecem existem mesmo ou se inventaram mais deles para incrementar a coisa. E nem quero saber. Carinha fechada.
As piadas são bestas, o roteiro é previsível, os personagens são sem graça e, como a maioria representa apenas uma coisa, todas as piadas deles também são monotemáticas. Logo, o high five só faz piadas envolvendo mãos e dedos. E lógico que há o emoji do cocô. E adivinha só sobre o que são as gagues dele? Cocô, nuvem negra.
Ainda por cima, a qualidade da animação é bem fraca. Como a maior parte da animação retrata os emojis, são apenas bolas com caras e por aí vai. Um design bem pobre que em muitos momentos lembra mais aqueles primeiros desenhos em CGI para televisão. Polegar pra baixo.
A qualidade visual até aumenta quando as cenas se passam no mundo real ou em outras áreas dentro do celular do moleque, mostrando diversos aplicativos e programas. Mas embora seja visualmente mais interessante, também não é nada marcante. Dar de ombros.
Aposto que os envolvidos tinham plena certeza que Emoji: O Filme seria um baita sucesso com a molecada. Afinal, trata-se de algo de seu cotidiano. Mas convenhamos, é apenas uma ideia muito idiota. E relevando-se seu tema infeliz, resulta numa animação bastante abaixo da média. Assim, nem com todos os emojis do mundo para fazer valer o ingresso. Braços cruzados, óculos escuros.