Sabe quando a namorada te arrasta até o cinema, para ver aquele romance tosco e água com açúcar, e você vai bufando, porque senão ela acaba o namoro. Imagine que você é casado com seu trabalho e seu trabalho é ver filmes ruins para que o público não precise vê-los.
Pois foi com essa mentalidade que saí de casa para ver esse longa e seu título enorme, já preparado para ver a maior bomba do ano. Afinal, a Jennifer Aniston é praticamente uma versão feminina do Ashton Kutcher, ou seja, um aviso de juízo final cinematográfico, de evite a todo custo. E sabe de uma coisa? Eu estava errado. Ele Não Está Tão a Fim de Você é legal. Deveras legal, na verdade.
Ok, eu não sou um cara chamado Rezek que só assiste filmes de amor, mas eu curto um bom romance. O problema é que encontrar um bom romance é ainda mais difícil do que um bom filme de terror. Pois a procura terminou: cá está um.
O que torna Ele Não Está Tão a Fim de Você um bom romance é que ele faz parte daquele seleto grupo de filmes de amor mais cabeça, tipo Antes do Amanhecer ou, principalmente, Closer. Ou seja, mais do que “cara conhece mina, cara perde mina, cara recupera mina e eles vivem felizes para sempre”, temos aqui uma abordagem mais intelectual do amor. E isso muito me agrada.
A história é composta de muitos (muuuuuitos) personagens. Alguns estão em um relacionamento e querem sair, outros querem algo mais e outros simplesmente querem um relacionamento, seja com quem for. Assim, conhecemos os pensamentos e opiniões de vários tipos de pessoas diferentes, de ambos os sexos. Temos cafajestes e carinhosos, homens que não querem casar e mulheres que só pensam nisso e, claro, a eterna mocinha romântica à procura do seu príncipe encantado (aliás, a Ginnifer Goodwin está uma fofura nesse papel).
Ao juntar tantos personagens diferentes, o roteiro apresenta diversos pontos de vista complementares ou opostos sobre o terrível dating game (que eu, aliás, nunca consegui entender como se joga). E não só isso, como aborda também fidelidade, sinceridade, prioridades e, em uma das cenas mais divertidas, como as novas tecnologias afetaram o jogo do amor. E, claro, afetaram para pior.
Aliás, a quantidade de atores famosos aqui é digna de nota. Durante mais de 30 minutos, novos personagens vão aparecendo, e você fica pensando “olha, é o Ben Affleck”, “olha, é a Jennifer Connely” e, quando você acha que acabou, vem o “olha, é a Drew Barrymore”. Aliás, o Ben Affleck fazia filmes com a Jennifer Lopes quando estava com ela, daí fez um com a Jennifer Garner e chutou a Lopes. Agora que ele fez par romântico com outra Jennifer, a Aniston, será que ele vai casar com ela também e chutar a Garner? Ou ele já chutou a Garner? A leitura das minhas Caras está atrasada. =)
Existem dois problemas aqui, e nenhum deles é muito grave. O primeiro é que, pelo excesso de personagens, a história não tem como não ficar confusa. Em especial ao vermos no cinema, sem poder pausar e pensar. Você vai ficar se perguntando “mas quem é a Anna mesmo?”, e “com quem ela é casada mesmo?” a toda hora. Seria menos grave se os atores homens não tivessem todos aquela cara de estadunidense genérico. Podiam pegar, sei lá, o Jack Black, o Morgan Freeman, o Brad Pitt e o Mini-me. Daí ninguém ia confundir um com o outro.
O outro problema é o final, daquele jeitão “super-hiper-mega-extra-Scooby-Doo-feliz”. Afinal, o filme seguiu durante mais de duas horas saindo do óbvio, com um roteiro deveras inteligente. Precisava seguir a tendência do cinemão água-com-açúcar logo nos últimos minutos? E sabe o que é pior? Os personagens são tão legais e você se identifica tanto com eles, que você quer que eles se dêem bem. Justamente por causa disso, você acaba gostando do final, mesmo sendo o óbvio. E verdade seja dita, ele é realmente muito bonitinho. Nunca tinha ouvido tantos “óóuuuuns” vindo da platéia jornalística quanto ouvi aqui.
No final das contas, Ele Não Está Tão a Fim de Você lembra muito mesmo o Closer. Trata-se de uma versão menos amarga e mais otimista daquele excelente filme. Não o consideraria uma comédia, pois, embora tenha cenas (muito) engraçadas, também tem outras bem tristes. Se essa descrição te agrada, não perca. Por que não fazer o inverso do tradicional? Arraste a sua namorada bufando para ver o filme. Se bem que eu não acho que ela vai precisar ser arrastada para ver esse aqui. =)