Histórias de amor são sempre aquela coisa: homem conhece mulher. Eles começam a namorar. Vem o período áureo. Em seguida as coisas esfriam. Eles brigam por algum motivo. Separam-se. No entanto, descobrem que ainda se amam. Vem a reconciliação. Créditos finais. Correto?
Na maioria dos casos, sim. Mas não no caso de Spike Jonze. Afinal, seus filmes nunca primaram por seguir o padrão considerado normal. E após o bonitinho Onde Vivem os Monstros (2010), o diretor mostra com Ela que continua numa fase fofa, dessa vez contando a famigerada história de amor à sua maneira. Ou seja, bem longe do convencional.
Aqui conhecemos Theodore (Joaquin Phoenix), um sujeito que está passando por um divórcio e, por conta disso, anda meio tristonho e solitário. Eis que chega ao mercado um revolucionário novo sistema operacional, dotado de inteligência artificial capaz de evoluir e se ajustar à personalidade, preferências e gostos do usuário.
Theodore compra um para instalar em seus gadgets, o qual rapidamente assume o nome de Samantha (voz de Scarlett Johansson, que não aparece no filme, para tristeza geral da nação). E a entidade virtual tem tanto a ver com o cara que não demora para se apaixonarem. Daí para engatarem um relacionamento sério, com tudo de bom e ruim que isso acarreta, é um passo.
Por incrível que pareça, essa premissa viajandona funciona extremamente bem. Tão bem, aliás, que o longa tem muito mais sentimento do que muitos romances mais tradicionais mostrados nas telas. É sério candidato a entrar em quaisquer listas de bons filmes românticos.
Trata de forma completamente natural a relação entre homem e entidade artificial, como se fosse a coisa mais normal do mundo. E não se furta de mostrar todas as questões que isso pode acarretar, sendo a mais gritante, lógico, o fato de Samantha não ter um corpo físico. Tudo isso torna o filme bastante interessante além do mero escopo do romance.
Visualmente, o longa também é bem diferentão, com uma direção de arte bastante colorida (especialmente no escritório onde Theodore trabalha), beirando o kitsch, e figurinos bem hipsters (o que são aquelas calças que sobem até o umbigo?), para dar um ar de ficção científica num futuro não tão distante assim.
Contribuem também para o clima sci-fi a mistura de celular e tablet com fone de ouvido que todos usam e o jogo de videogame do alienígena boca suja, o qual parece ser realmente divertido de se jogar. Essa ambientação futurista, mas bastante reconhecível, ficou muito legal. Destaque também para a ótima trilha sonora, que em muitos momentos possui um papel importante para a trama.
E como já disse, assim como o romance não é convencional, tampouco é seu desenvolvimento. Então, embora alguns elementos da fórmula que apresentei lá no primeiro parágrafo possam até aparecer aqui, pode ter certeza de que não vão seguir por um caminho óbvio, o que só contribui para o frescor de um bom roteiro original, algo tão difícil de se achar em Hollywood hoje em dia.
Ela é uma das mais diferentes e originais histórias de amor a aparecer na tela do cinema. E nem é preciso gostar do gênero para apreciá-lo. Por outro lado, creio que todo mundo gosta de assistir algo que foge ao lugar-comum. Neste caso, temos aqui uma ótima opção.