Eu confesso, em todos estes anos de guerreiro do power metal, eu nunca me interessei muito pelo Edguy. Sim, eu sei, delfonauta. Pode me vaiar. Eu espero.
Pausa para as vaias.
A verdade é que quando eu ouvi o Avantasia pela primeira vez, eu pirei totalmente o meu cabeção cabeludo, e os dois primeiros discos do projeto estão entre os meus favoritos. Mas sinceramente, eu acho que tudo que o Tobias Sammet e seus superamigos do metal fizeram depois do The Scarecrow é muito, mas muito chato e meloso. E por isso, sempre imaginei que o Edguy seguia pelo mesmo caminho.
Mas eis que resolvo dar uma nova chance ao Edcara e me deparo com uma grata surpresa. Space Police – Defenders of the Crown é o disco mais fanfarrão e contagiante que eu ouço em muito, muito tempo. Fazia séculos que eu não me divertia tanto ouvindo um disco.
Num geral, o álbum traz uma aura super feliz e contagiante, que muitas vezes lembra mais um pop dos anos 80 do que um disco de power metal. Até a concepção do álbum é fanfarrona. Para você ter ideia, o álbum foi composto em dois meses e tem este título duplo pelo simples fato de que a banda não conseguia decidir qual das duas sugestões era a melhor, então resolveram usar ambas. Simples assim. Mas será que tanta farra não faz a festa desandar? É o que você vai descobrir.
DEFENSORES DA FARRA
O disco abre com a empolgante Sabre & Torch, a sua típica canção de abertura poderosa e empolgante, com refrão cantado em ô-ô-ô. Lembre-se, delfonauta: sempre que você não tiver ideia para um refrão, coloque um “ô-ô-ô”. Isso é mais batido do que salvar a princesa do castelo, mas nunca enjoa.
Space Police é uma faixa que lembra uma bizarra mistura de Ayreon com pop oitentista, o que eu acho muito engraçado. A letra talvez seja a mais ácida que eu já ouvi em uma canção de metal. É uma crítica quase direta a todo trüezão cabeça-de-mamão, seja fã ou membro da indústria, que simplesmente não aceita qualquer tipo de mudança. Esse tipo de gente que infelizmente infesta a cena metal de qualquer parte do mundo.
Defenders of the Crown, a segunda faixa título (taí uma expressão que eu achei que nunca ia falar na vida), possui uma letra mais padrão de bandas de power metal, falando sobre gloriosos guerreiros que lutam e morrem pelo metal. Apesar disso, seu ritmo totalmente feliz e seu refrão de uma frase repetido à exaustão me faz lembrar muito os grandes hits do Freedom Call. Eu diria que a música é ao mesmo tempo uma paródia e uma homenagem à banda do Chris Bay e outras similares.
O disco segue com Love Tyger, que pode ser definida em duas palavras: farofa pura. A faixa é super alto astral, toda glamorosa e com um ritmo mais grudento do que as bolas de chiclete Ploc. Pra completar, o Tobias Sammet ainda declarou que a canção é um tributo a ele mesmo. Não é à toa que ela foi escolhida para ganhar um clipe animado totalmente psicodélico.
The Realms of Baba Yaga é uma das duas músicas do álbum que mais se aproximam de um power metal tradicional. E dos bons, porque a bateria e a guitarra aqui são as mais virtuosas do disco. Ou seja, se você curte se imaginar lutando contra dragões enquanto ouve música, vai se sentir em casa.
Rock Me Amadeus é um cover de um cantor pop austríaco chamado Falco, que foi um imenso sucesso na Europa na década de 80. Essa é a faixa que eu menos gostei do disco, mas não porque eu sou um desses puristas chatos que acha que fazer uma versão metal de um hit pop é uma ofensa ao Deus Metal. Muito pelo contrário, eu adoro essas coisas. Só acho que o tom grave dela ficou meio dissonante com o resto do disco, totalmente agudo e histérico. E é esta isto que fez o disco perder o Selo Delfiano Supremo. Talvez eu gostasse muito mais dela se estivesse em outro álbum.
Mas isto não me impede de sacrificar bodes para o Tobias Sammet refilmar o clipe original, que é bizarramente tremendão. Confira-o aí embaixo.
Do Me Like A Caveman é um tributo às canções de hard rock e pop oitentistas. Ela tem um ritmo bem mais calmo do que Love Tyger, mas ainda assim é muito animada. Caso você não seja versado na língua do Big Ben, o título significa algo como “Transe comigo como um homem das cavernas” e a letra cita coisas como paredes caindo e terremotos se formando. Existe coisa mais oitentista do que um rala-e-rola cataclísmico?
Shadow Eaters é outra canção mais tradicional. Ela é uma boa canção, mas acho que por ser mais “comportada” acaba sendo um pouco apagada pela insanidade das outras músicas.
E aí chegamos em Alone In Myself. Acredite em mim, delfonauta, você já ouviu esta música antes. Como? Imagine qualquer balada feita com muito açúcar pelo Aerosmith para tocar nas rádios. Ou pelo Bon Jovi. Ou pelo Kiss, Guns N’ Roses, House of Lords, Scorpions… vou parar por aqui porque a lista é gigantesca. Se você não faz ideia do que eu estou falando, provavelmente vai achar a canção muito brega, e ela é mesmo. Mas se você tem mais de 20 anos, com certeza vai ser atacado por um golpe de nostalgia.
O disco encerra com The Eternal Wayfarer, um épico metálico que apresenta uma grande variedade de melodias durante seus quase nove minutos. Um grande final para um grande álbum.
Mas você acha que acabou, delfonauta? Negativo. Aqui no DELFOS nós somos todos nerds obsessivos grandes colecionadores que precisam ter tudo em edição especial. Portanto, descolamos a edição especial do Space Police – Defenders of the Crown, que vem com um disco bônus.
O DISCO BÔNUS
A primeira faixa é England, que por si só já vale este disco extra inteiro. Tocada em um pianinho ao melhor estilo Elton John, esta é uma bela canção que fala sobre todas as maravilhas da Inglaterra, como chá da tarde, Mr. Bean e, o melhor de tudo, o Steve Harris. Não, delfonauta, eu não estou brincando, a letra realmente é assim.
Aychim in Hysteria é uma homenagem dupla. De acordo com o próprio Tobias Sammet, esta música foi composta para soar como as canções do Def Leppard da época do Hysteria. E, em minha opinião, eles foram bem sucedidos. Já a letra conta as desventuras de Aychim Köhler, o engenheiro de som do Edguy.
Há também Space Police (Progressive Version), que é quase igual à versão original. Com a diferença de que o segundo verso é cantado em uma voz completamente desafinada. Por algum motivo, eu não consegui deixar de pensar nas desafinadas de um certo vocalista de metal nacional enquanto a ouvia.
O disco ainda tem mais quatro faixas, mas elas são apenas versões instrumentais de Space Police, Love Tyger, Defenders of the Crown e Do Me Like A Caveman. Particularmente, eu não acho essas faixas necessárias e o próprio Tobias até o Tobias concorda comigo. Mas acho que somos uma minoria, já que praticamente toda as bandas de metal vêm lançando faixas assim nos últimos tempos.
…AND PARTY EVERYDAY
Em minha resenha do Tales From the Kingdom of Fife , o álbum de estreia do Gloryhammer, eu também exaltei este lado fanfarrão do disco, mas agora percebi que aquele álbum só é divertido para aqueles que estão inseridos no mundo do metal fantasioso e não têm medo de ser ridículo. Perfeito para se ouvir enquanto joga uma partida de D&D com todos da mesa bêbados.
Mas o Space Police – Defenders of the Crown apela para o lado mais festeiro não só do metal, mas do rock como um todo. Acho que qualquer cara que goste de guitarras distorcidas vai se contagiar pela energia do álbum em poucos minutos. É o tipo de composição que dá para se ouvir em qualquer situação, seja em um show do Edguy, em uma reunião de amigos ou simplesmente cantando enquanto dirige um conversível esporte vermelho com os cabelos ao vento e duas garotas no banco de trás. São refrões feitos para se cantar enquanto se abraça seja lá quem estiver do seu lado e derrubando cerveja em quem está na frente. É rock n’ roll all nite and party everyday.
Sei que falando assim parece que eu estou babando ovo para a banda, mas a verdade é que, embora eu adore um som pomposo e elaborado cheio de sinfonias sintetizadas, sinto muita falta de novas músicas de metal que prezam pela farra e apelo popular e, quando eu descubro algo assim, é como encontrar platina em um mar de ouro. Acho que são coisas assim que realmente nos fazem lembrar o verdadeiro sentido do metal.