Dynasty Warriors é uma longeva série de jogos de ação focada em colocar o jogador contra centenas de inimigos ao mesmo tempo. Outros hack and slashs, mesmo aqueles com combate rápido, normalmente focam em quatro ou cinco desafetos por vez, o que é fichinha por aqui. Dynasty Warriors 9 mantém esta tradição dos anteriores, mas traz uma novidade considerável ao tabuleiro.
MUNDO ABERTO
Até hoje, a série era relativamente linear. Você entrava em uma fase grande e tinha alguns objetivos a serem cumpridos lá dentro. Dynasty Warriors 9 faz um excelente trabalho traduzindo sua fórmula para um mapa maior e com mais liberdade e, com isso, acaba trazendo um novo paradigma para mundos abertos que eu curti bastante.
Funciona assim: você tem um objetivo principal e vários outros secundários. O principal sempre é de um nível alto demais para você encarar, mas cumprindo as outras missões, seu exército vai avançando, ao mesmo tempo que enfraquece os inimigos. Na prática, o nível da missão principal desce, podendo chegar a ficar bem abaixo do seu.
Isso dá ao jogo uma sensação de estratégia, mesmo ele sendo basicamente um jogo de ação do tipo “avance e destrua”. No final das contas, lembra um pouco o funcionamento de Sombras da Guerra, quando antes de você caçar um warlord, vai vencendo os guarda-costas um a um para facilitar a missão final.
A ROTINA DE DYNASTY WARRIORS 9
Assim, apesar de ser um jogo tecnicamente em mundo aberto, a progressão é bem rápida e intensa. Você pode se teleportar para a área da sua próxima missão, então basicamente você se teleporta, cumpre o objetivo e logo em seguida começa a seguinte. Também não há necessidade de fazer todas, uma vez que a missão principal não demora para alcançar o seu nível. Tem um sistema também de missão recomendada, que deixa tudo ainda mais rápido. Dá para fazer apenas as missões recomendadas para abaixar o nível da principal, ou então criar seu próprio caminho e estratégia.
Eu não jogava um Dynasty Warriors desde o PS2, mas devo dizer que mesmo tantos lançamentos depois – e apesar da implementação do mundo aberto – ele me pareceu imediatamente familiar.
Basicamente, o mundo é habitado por milhares de inimigos, mas eles estão lá só pelo efeito visual. Matar soldados genéricos não faz diferença nenhuma. Seus objetivos sempre giram em torno de vencer alguém que tenha um nome. Em geral, vencer um desses NPCs únicos faz com que seus lacaios saiam correndo. Os soldados genéricos acabam fazendo uma função mais ou menos semelhante aos zumbis do Dead Rising, mas são bem menos perigosos.
Então a rotina é bem específica. Você pega seu cavalo e vai na direção do objetivo. Ao chegar lá, procura por quem tem o nome do seu alvo e foca seus ataques nele. É bem simples, mas isso significa também que é bem repetitivo, já que isso é basicamente tudo que você vai fazer no jogo.
Além disso, você encontra alguns inimigos várias vezes. Tem um general chamado Lu Bu, por exemplo, que eu matei várias vezes até ele finalmente ser capturado.
O combate é bacana, até certo ponto. No começo, não dá para não se empolgar e dar umas gostosas gargalhadas quando você vê que uma espadada sua faz um monte de inimigos sair voando. Faz você se sentir o Hulk ou o Sauron.
Uma coisa bacana no combate é que o triângulo serve como um ataque contextual. Se tem alguém te atacando, apertar triângulo contra-ataca. Se seu alvo estiver longe de você, dá uma corridinha na direção dele, e assim por diante. Isso é bem criativo e funciona muito bem na adrenalina da porradaria.
FUNDAMENTOS FORTES, CONSTRUÇÃO FRACA
Dynasty Warriors 9 é um jogo divertido por alguns minutos, mas ele logo se torna enjoativo, dada a falta de variação. Além disso, embora ele tenha qualidades no combate e na sua implementação de mundo aberto, parece um jogo de baixo orçamento.
Para começar, ele simplesmente não é muito bonito. Tem duas configurações, as tradicionais resolução X framerate, mas nenhuma delas é realmente agradável. Além disso, há vários pequenos pontos que carecem de um maior polimento. Coisas como seus inimigos atravessarem paredes, acabam somando e pesando na diversão.
Permita-me dar um exemplo real do meu tempo com ele: como sempre, eu tinha como objetivo matar um general. Só que quando eu chegava perto dele, meu personagem ficava travado por uns dois minutos até que o jogo finalmente perguntava se eu queria reiniciar o checkpoint.
Eu tentei fazer todas as missões secundárias, mas sempre que me aproximava do meu alvo, isso acontecia. Achei que o jogo estava quebrado, mas resolvi, ao invés de correr para o meu objetivo, como fiz nas dez horas antes disso, ir lentamente abrindo portas e esperando o NPC amiguinho me seguir. Foi um saco, já que tinha horas que ele simplesmente parava sozinho e abandonado e ficava reclamando que estava perdendo a luta, mesmo sem ter ninguém perto dele.
Finalmente, quando consegui levá-lo até o objetivo, meu personagem não travou e eu consegui vencer o general em menos de um minuto – sem nenhuma ajuda do NPC. Para que isso? Mas já que vai ser assim, custava o jogo ter tido o cuidado de me dizer que eu precisava levar o NPC até lá?
Apesar do visual e gameplay parecerem se tratar de um jogo de baixo orçamento, algo que não dá para criticar são as músicas, que combinam faixas orquestradas com um heavy metal bem agradável. É uma trilha bem semelhante às chiptunes dos anos 90, embora aqui seja tudo gravado com instrumentos reais.
RPG, MAS SÓ SE VOCÊ QUISER
Tem crafting, tem itens, tem runas. Quase tudo que se tornou tradicional em RPG está aqui. Porém, o jogo é tão fácil que não torna nada disso necessário. Por exemplo, eu passava um bom tempo jogando antes de lembrar que tinha que fazer upgrades, apenas para constatar que tinha 30 ou 40 skill points me esperando.
Da mesma forma, há dezenas de armas, mas o jogo estabelece que cada personagem tem a sua preferida e dá vantagens se você a usar. Então na prática não há muito incentivo para trocar.
Conforme você avança na história, vai também liberando outros personagens (sem exagero, há mais de 80 generais jogáveis), e jogar com eles permite ver outros pontos de vista para a história do jogo.
A história, no entanto, baseada no Romance dos Três Reinos, que conta como foi a unificação da China, tinha tudo para ser legal, com politicagem e jogo de poder que não ficariam estranhos no Game of Thrones. Porém, ela não é bem realizada. Não é bem escrita, nem bem atuada e a maior parte das cutscenes não é cinemática, mas apenas os personagens em círculo conversando quase sem animações.
DYNASTY WARRIORS 9
Sei que tem bastante gente que gosta da série, mas ao jogar esta sua nona iteração numerada, não dá para pensar que ela precisa evoluir. Apesar da novidade do mundo aberto, Dynasty Warriors 9 ainda está muito próximo dos lançamentos de PS2.
Isso não é necessariamente ruim, se estivéssemos falando apenas do gameplay característico, mas mesmo problemas técnicos parecem migrar para os novos lançamentos. Tem coisa aqui que até era aceitável na época do PS2, mas que hoje precisa ser resolvido.
O principal problema de Dynasty Warriors 9 é o quanto ele parece ser um jogo de baixo orçamento, e talvez seja este o caso. Não duvido que, tendo mais dinheiro, a Omega Force conseguisse fazer o jogo que gostaria, mas se isso não rola neste momento, imagino que seria mais proveitoso reimaginar a escala e fazer algo que se adeque ao orçamento disponível.