Sempre tive curiosidade de ler Duna, romance tido como um dos mais importantes e famosos da literatura de ficção científica. No entanto, há anos o livro estava fora de catálogo em nosso Brasil varonil. Eis que descubro então, bem por acaso, que ele havia finalmente sido republicado em 2010. Fui logo atrás para satisfazer minha curiosidade.
Temos aqui a épica história da família Atreides e sua sangrenta disputa contra a família rival Harkonnen. Os Atreides recebem do império galáctico a tarefa de ir para o desértico planeta Arrakis, também conhecido como Duna, para cuidar da mineração da especiaria conhecida como mélange, o bem mais valioso do universo. Mas tudo não passa de uma elaborada vingança dos Harkonnen para acabar de vez com a Casa rival.
É também a história do despertar do jovem Paul, o filho do patriarca dos Atreides, que em Arrakis se tornará mais que um nobre. Através de uma longa jornada, ele está destinado a se tornar uma espécie de messias para o povo nativo de Duna, os fremen, e mudar completamente o cenário político da galáxia.
Frank Herbert é claramente um perfeccionista. Pensa em cada detalhe mínimo, mesmo que ele não tenha qualquer importância para a história. De línguas a pequenas diferenças culturais, ele constrói um amplo panorama e te faz acreditar que aquele mundo fantástico onde se passa a história poderia mesmo existir.
Usa descrições meticulosas para apresentar cada aspecto do planeta, seus habitantes, veículos, etc. E consegue fazer isso sem se tornar maçante, sem deixar a leitura travar ou ficar chata. Também povoa a narrativa e os diálogos de termos próprios e alienígenas, e mesmo assim não deixa a história confusa, pois vai explicando aos poucos o que cada uma dessas palavras estranhas significa. E para aqueles que mesmo assim boiarem, no fim do livro há um glossário desses termos que pode vir bem a calhar.
A trama é cheia de referências religiosas, fazendo uma mistureba de várias crenças diferentes para criar a sua própria. Mas fora esses contornos messiânicos, a história também é recheada de politicagem, paranoia, traições e também ação, afinal, umas explosões de vez em quando não fazem mal a ninguém.
Além disso, o protagonista Paul Atreides tem um quê de Cavaleiro Jedi, seja pelo seu treinamento (afinal, como filho do duque, ele é um alvo em potencial dos atentados dos Harkonnen) ou pelas habilidades especiais que vai desenvolvendo ao longo do livro.
Mas no fim das contas, Duna é mesmo um livro orientado pela condução da história e nem tanto pela ação, o que é bom, pois ele vai expandindo gradualmente a mitologia da trama a cada capítulo e, quando o pau come, é porque serve a uma função na história e não a algo gratuito.
E a história prende a atenção e fascina, abrindo diversos caminhos possíveis para os livros seguintes. Dado seu sucesso, Duna se transformou numa série, com cinco continuações. E eu pretendo ler todas elas. Este é um livro que justifica a fama recebida durante todos esses anos e deve fazer parte da lista de leitura de qualquer apreciador da ficção científica.
CURIOSIDADES:
– A música To Tame a Land, do Iron Maiden, é baseada neste livro. Originalmente, ela se chamaria Dune mesmo, mas Frank Herbert não deu autorização por não querer ser relacionado a heavy metal.