Os pobres proprietários de Wii devem se sentir abandonados. Dificilmente publicamos uma resenha especialmente para o branquinho da Nintendo e as próprias desenvolvedoras costumam não dar muita atenção a ele.
Mas como passar um blockbuster AAA para um console tecnicamente inferior aos concorrentes, de forma que não faça os jogadores ficarem pensando “cara, como eu queria ter um PS3 para jogar isso”? Bom, a Ubisoft Reflections tentou responder a essa pergunta fazendo um jogo completamente diferente dos irmãos maiores.
UM OUTRO JOGO
A história de Driver San Francisco de Wii acontece antes da dos consoles “grandes” e, como tal, o detetive Tanner ainda não adquiriu a fantasmagórica habilidade de possuir motoristas chamada shift. Esse é o grande apelo das outras versões e, a princípio, um jogador mal informado pode achar que, somado aos gráficos da geração passada, torna a versão de Wii inferior. Bom, eu não diria inferior. Diria, sim, que é um jogo totalmente diferente, pois isso muda completamente a jogabilidade.
Ao contrário de outros blockbusters portados para o Wii, os controles de movimento de Driver San Francisco não parecem forçados. Não me entenda mal, você vai precisar chacoalhar o wiimote em vários momentos (para recarregar a arma, por exemplo), mas em geral, percebe-se que a Ubisoft Reflections pensou ao implementá-los.
Eles funcionam melhor quando são usados no óbvio sistema de mira, mas é bastante divertido usar o nitro abaixando o nunchuk como se fosse um pedal de aceleração.
Em outros momentos interessantes, você usa o wiimote como uma antena para encontrar seu objetivo ou então como um sistema de gravação, apontando para a área que você deseja gravar.
A ROTINA DO JOGO
Este é um daqueles jogos de mundo aberto pero no mucho, estilo L.A. Noire ou Mafia. Em outras palavras, você tem São Francisco inteiro para explorar, mas tirando alguns colecionáveis e sidemissions, não tem muito incentivo para fazê-lo.
Você normalmente pode escolher entre duas ou três missões e, ao completar todas, libera uma missão crítica. Completando esta missão, vai para uma nova fase, onde a rotina se repete. Cada vez que uma nova fase é aberta, três sidemissions são liberadas, sempre nas mesmas três categorias, aumentando apenas a dificuldade.
As missões são bem variadas. Em um momento, você pode precisar gravar uma conversa sem ser visto, enquanto em outras tem que causar destruição no cenário e em outros carros. As que eu mais gostei são as que te tiram do volante e te colocam apenas na arma de fogo, especialmente as que você faz isso em cima de um helicóptero.
Você controla três personagens ao longo da história. Por exemplo, em uma fase, você controla um policial se infiltrando na gangue do vilão. Na outra, você é outro policial que finge perseguir o primeiro para dar credibilidade ao disfarce, o que significa que você precisa atacar seu amigo, mas não tanto a ponto de machucá-lo seriamente. Na seguinte, você será o vilão, colocando seu plano mestre em ação.
OUTROS JOGOS
Driver San Francisco lembra bastante alguns outros jogos. Crazy Taxy foi o primeiro a vir à mente, pelos bônus que você ganha em dirigir perigosamente, pela seta no meio da tela que te indica o próximo objetivo e, claro, pelo próprio layout da cidade e suas ladeiras propícias a pulos.
GTA também é lembrado, claro, especialmente as missões do GTA em que você não sai do carro, uma vez que aqui seu personagem também está sempre dentro de um veículo. Também divide com GTA alguns problemas, desde coisas banais, como o capô que levanta sem nenhum motivo e atrapalha a visão, até coisas mais importantes, como a quase total ausência de checkpoints. Morrer em uma fase que dura 15 minutos e ter que fazer tudo de novo não é nada divertido.
Por fim, a menos óbvia, mas talvez principal comparação seja Burnout Paradise, por causa das plaquinhas que mostram os nomes das ruas e, principalmente, pelo combate carro a carro.
Só que, ao contrário de Burnout, onde esses combates são rápidos e dinâmicos, aqui os carros inimigos têm energias enormes e, nesse ponto, o controle de movimento não é muito preciso. Ao bater com o wiimote para a direita você ataca para a direita e vice-versa. Já para bater para frente, você deve “esfaquear” com o controle. O problema é que, apesar de você empurrá-lo para frente, seu carro invariavelmente vai para um dos lados.
A coisa melhora quando você finalmente destrava armas de fogo, o que te deixa bem menos indefeso, já que pode simplesmente pipocar todo inimigo que aparece.
A não ser, claro, que você tenha um amigo. Driver San Francisco é claramente criado para ser jogado em dupla, e o segundo jogador pode usar armas de fogo desde o início, o que deixa os combates muito mais fáceis. Você também pode usar o DS, que tem alguns efeitos no jogo em si, mas não consegui analisar essa função.
WIIMANÍACOS AGRADECEM
Driver San Francisco é o primeiro blockbuster AAA que eu joguei no Wii que consegue dar uma sensação totalmente diferente das versões para os consoles mais poderosos. Apesar de alguns problemas com o controle de movimento que não responde sempre de forma apropriada e de uma dificuldade absurdamente alta, temos aqui um dos raros esforços louváveis que conseguirão divertir os donos do Wii sem fazê-los desejar ter um PS3 a todo momento. E, como quem tem Wii bem sabe, isso é raríssimo quando o jogo não é da Nintendo. Parabéns à Ubisoft Reflections, que não se contentou com um port malfeito, e resolveu fazer um jogo especialmente para o Wii. Mais desenvolvedoras deveriam seguir por este caminho.