Dragon Ball XenoVerse

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Os dados do DataDELFOS não deixam dúvidas: dois em cada dois delfonautas têm lembranças vivas da série Dragon Ball. Seja esticando os braços pro alto para ajudar o Goku a fazer a Genki-Dama ou vendo ele virar Super Sayajin pela primeira vez contra o Freeza, todos entre 16 e 96 anos têm alguma memória relacionada ao desenho – ou você acha que seu avô não lembra de você gritando Kame-hame-ha com um cacho de bananas na cabeça?

Eu também me incluo nesse grupo de pessoas, e fui tomado pelo hype quando vi que sairia um jogo novo da franquia, intitulado Dragon Ball XenoVerse. Os gráficos se mostravam embasbacantes e a possibilidade de criar o seu próprio personagem daria a oportunidade que todos sempre quiseram: entrar de verdade no universo Dragon Ball. O fato é que o jogo teve seus acertos, mas também teve seus erros.

NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA, SEMPRE TENHO A FORÇA E O PODER

Dragon Ball XV traz uma história até bem complexa, que se passa cerca de cem anos após a derrota de Majin-Boo. Alguém está fazendo alterações no passado e pondo todo o curso da história em risco, o que faz com que Trunks, agora um Patrulheiro do Tempo, peça a Shenlong para trazer alguém para ajudá-lo a conter essa ameaça. A Patrulha do Tempo é um grupo de guerreiros reunidos por Trunks e liderados pela Kaioshin do Tempo que busca consertar violações que ocorrem no fluxo do tempo.

Após uma cutscene curtíssima que explica como você foi parar ali, você é transferido para o menu de criação do personagem, e pode modelá-lo da maneira que quiser. Você pode inclusive escolher a raça dele – Terráqueo, Sayajin, Namekuseijin, Majin ou Raça Freeza -, cada uma com suas vantagens e desvantagens. Eu, obviamente, escolhi Sayajin.

Uma parte que foi levemente decepcionante foi que nesse menu havia a possibilidade de escolher a voz do personagem, o que para mim era um claro sinal de que eu veria meu personagem falando durante a história. Infelizmente não é assim, e a voz do seu personagem se resume a umas poucas interjeições durante as lutas. Por sinal, essa falha faz um dos momentos mais legais do jogo perder um pouco da sua magia: você carrega um Kame-hame-ha ao lado do Goku, mas só a voz do último é audível.

A Patrulha reside em uma cidade chamada Tokitoki, que parece mais um quarteirão do que uma cidade. É em Tokitoki que você encontrará todos os modos de jogo possíveis, como as Batalhas e as Missões Paralelas, tanto online quanto offline, que podem ser jogadas indo a certos quiosques na cidade.

COM A MINHA MENTE VOU A MIL LUGARES

As Missões Paralelas são semelhantes a um modo desafio, em que você tem que vencer os inimigos em diferentes situações, e você pode escolher personagens para compor uma equipe com você. Elas são explicadas como sendo anomalias que surgem no espaço-tempo e que precisam ser consertadas.

O curioso é que a explicação dada faz todo o sentido, e de fato justifica situações absurdas como você, Majin-Boo e Cell estarem lutando contra Goku, Gohan e Goten – afinal, uma anomalia no tempo poderia muito bem fazer com que Goku tivesse virado vilão e Majin-Boo virasse herói, levando você a lutar essa batalha e consertar o curso da história.

O problema é que há outro modo de fazer Missões Paralelas, e esse sim não faz nenhum sentido. Você verá personagens clássicos no meio da cidade pedindo ajuda com alguma missão, o que foi um erro gravíssimo de gamedesign. Afinal, se o fluxo de tempo é contínuo e você apenas volta ao passado para consertar erros, como pode um personagem que já morreu estar na cidade pedindo ajuda? Não bastasse o absurdo de um personagem como Raditz, que morreu no início de Dragon Ball Z, estar no futuro te pedindo ajuda, faz menos sentido ainda ele estar fazendo isso ao mesmo tempo que Goten, que nasceu anos depois de Raditz morrer.

Já as Batalhas nada mais são do que as lutas fora da história, tanto entre jogadores quanto entre jogador e máquina. Aqui você poderá controlar o personagem criado ou até mesmo personagens clássicos da série, escolhendo qualquer cenário. Tanto cenários e personagens são liberados jogando a campanha e fazendo as Missões Paralelas. Esse é um modo que não deveria estar aqui, pois, por ter uma gama vastíssima de personagens, simplesmente não se encaixa no universo e no tempo em que o jogo se passa.

Também é possível ganhar técnicas e roupas através do treinamento com Mestres, que estão na cidade para treiná-lo. O jogo te dá a chance, por exemplo, de ser treinado por Vegeta e Piccolo, o que é um verdadeiro deleite. Porém, esse treinamento cai no mesmo erro das Missões Paralelas, e põe lado a lado personagens que não deveriam se ver. Por exemplo, logo após de ser treinado por Vegeta, eu pude pedir para ser treinado pelo Cell, que não deveria estar aqui por já ter morrido. Em Tokitoki você também pode comprar acessórios, roupas, itens e técnicas, que são liberadas conforme você progride.

O fato é que a cidade de Tokitoki tenta organizar o jogo todo em torno da história, e apesar de acertar em cheio em alguns momentos, acaba errando feio na maior parte. Assim, a minha sugestão é que você considere a cidade e tudo o que tem nela como algo separado da história principal, pois tentar ver tudo como uma coisa só não dará certo.

SUA LAVA VAI ESPALHAR, VERÁ TODA A FÚRIA DO DRAGÃO

Dragon Ball XV funciona com um sistema de níveis, e a cada vez que você passa de nível pontos de atributo são adquiridos, podendo ser distribuídos da maneira que você preferir. Assim, se você prefere ataques físicos a explosões de Ki, basta você aumentar o seu atributo de Ataques Físicos.

O legal é que ele acaba trazendo elementos de RPGs, pois se você não fizer as missões paralelas e os treinamentos não conseguirá terminar a campanha. Esse grinding, que por definição remete a algo chato e repetitivo, acaba sendo uma bola dentro do jogo por ser exatamente o contrário.

Dragon Ball XV tinha a responsabilidade de criar a experiência de ser um verdadeiro guerreiro do universo Dragon Ball, e faz isso com maestria. As lutas, apesar de alguns defeitos pequenos, funcionam muito bem e conseguem trazer toda a dinâmica das lutas do animê, com combos poderosíssimos e explosões que deixam qualquer um babando.

E, delfonauta, é incrível como as lutas funcionam bem. Os golpes são extremamente instintivos e, mesmo que você em determinados momentos esteja em lutas de três contra três, não fica tão confuso quanto Marvel Vs. Capcom 3, por exemplo.

Um dos defeitos pequenos é o de que não raro você vai estar em uma luta com dois, três ou quatro inimigos e, enquanto estiver atacando um, ele vai simplesmente voar para enfrentar outro personagem, ao passo que um inimigo aleatório vem e te ataca. O ruim é que para lutar nesse jogo você precisa travar a câmera em um personagem, e quando ele vai embora e outro vem, você acaba tomando alguns golpes até travar a câmera no inimigo da vez. Você até pode mudar rapidamente entre os inimigos com a alavanca direita, mas nem sempre vai conseguir travar no inimigo certo de primeira.

Outro pequeno defeito é que são poucos os elementos do cenário que reagem aos golpes. Demora muito até você conseguir de fato quebrar alguma coisa, seja uma casa ou uma árvore. Da mesma forma, o seu personagem também quase não sofre desgaste, e o máximo que você vai ver ao fim da luta são algumas sujeirinhas e provavelmente nenhum rasgo na roupa.

Mas o único defeito realmente imperdoável no sistema de batalha diz respeito às explosões. Se você lançar um Kame-hame-ha e ele bater no chão, aparecerá um buraco que sumirá no instante seguinte. Eu preferiria que não aparecesse buraco nenhum, pois aparecer e sumir é simplesmente vergonhoso. Dadas as capacidades gráficas do PS3, é impossível conceber que esse tipo de coisa ainda ocorra.

Porém, esses pequenos defeitos não diminuem o trabalho esplêndido feito no sistema de batalha. As lutas do animê eram muito grandiosas, com grandes golpes e explosões, e o risco de deixar tudo confuso era grande, mas eles se saíram muito bem. É sério, a sensação de vencer uma batalha com um poderosíssimo Resplendor Final é inigualável.

ME DÊ A MÃO PARA FUGIR DESTA TERRÍVEL ESCURIDÃO

Agora falando da história, um grande problema pra mim foi o fato de ela ter três vilões diferentes. No meio da história, os vilões Towa e Mira, que formam uma dupla, são derrotados no meio da história, e então outro vilão, Demigra, aparece para criar os mesmos problemas. Isso enfraquece o plot, pois não cria o envolvimento com os vilões que é tão característico da série, e acaba que nenhum dos dois vilões tem o carisma de um verdadeiro vilão de Dragon Ball.

Contudo, sou obrigado a dizer que eles tiveram ótimas sacadas ao desenvolver o enredo. A ideia de colocar você para consertar o passado possibilita que você participe de todas as lutas clássicas da série, incluindo o confronto entre Goku e Bills do filme Dragon Ball Z: BattleofGods.

Não bastasse isso, ainda há uma explicação muito lógica para você estar na história: em determinado momento, os vilões Towa e Mira, querendo matar Trunks, voltam ao passado e o alteram, matando o Trunks do passado. Com isso, você volta no tempo para corrigir essa alteração, fazendo com que o Trunks do passado tenha de fato conhecido você – o que justifica o fato de, futuramente, ele ter pedido para Shenlong trazê-lo para ajudá-lo na Patrulha do Tempo. Sensacional.

Outro problema relacionado à história é a maneira como ela é contada. No início, ela é praticamente toda contada através de cutscenes em 3D curtíssimas, com no máximo vinte segundos cada, sempre seguindo uma ordem: a primeira mostrando a alteração no fluxo temporal, a segunda mostrando o Trunks pedindo a sua ajuda e a terceira mostrando a sua chegada na luta.

Porém, após determinado momento, a história passa a ser contada naquele estilo dos Final Fantasy, com caixas de texto. Como se não bastasse, em dois momentos avulsos as cutscenes retornam, não em 3D mas em animê (!!!). A impressão que dá é que houve algum problema na produção das cutscenes, como se elas tivessem sido feitas de maneira irregular.

POSSO PRESSENTIR O PERIGO E O CAOS

Existem alguns detalhes técnicos também bastante estranhos. Um deles é que, quando você inicia o jogo, aparece as opções de Sala Solo e Sala de Multijogador. O curioso é que, independente da sua escolha, o jogo terá que conectar ao servidor para começar.

Isso fica pior ainda porque o servidor, em mais da metade das vezes que eu joguei, estava instável, e das duas, uma: ou o jogo não começava ou começava e caía logo depois, me fazendo voltar para a tela de início. O pior é que às vezes o jogo deixava eu continuar sem conectar e às vezes não. Felizmente, o jogo não é interrompido se você estiver fazendo uma missão.

Outro problema que eu notei dizia respeito às legendas em português. Mais de uma vez aconteceu de um mesmo personagem ter o seu nome alterado em lugares diferentes, como Shenlong e Shenron. Havia também uma boa quantidade de casos de erros de digitação e até uma tradução equivocadíssima: um dos meus Mestres foi o personagem Célula (Cell). Porém, não é nada que uma atualização não resolva.

As cutscenes também tinham suas estranhezas: para cada cutscene você tem uma tela de carregamento que dura uns cinco segundos, o que, apesar de curto, é anormal, pois jogos como GTAtêm cutscenes bem maiores e mais detalhadas, mas demoram praticamente o mesmo tempo para carregar. Isso, contudo, só se torna um problema se você morrer muito: em caso de derrota, você não volta direto para a luta, mas para a primeira cutscene.

MEU COMPROMISSO É SEMPRE VENCER

Eu sei que falei bastante dos defeitos, e olhando por alto pode parecer que o jogo é uma verdadeira bomba, mas não, delfonauta, não é. Dragon Ball Xenoverse é o mais próximo que você vai chegar de ser um verdadeiro guerreiro Sayajin, e cada segundo que eu passei nas lutas valeu a pena.

Apesar de todos os pequenos defeitos, o fato é que você vai passar muito menos tempo vendo os problemas e muito mais nas lutas, que correspondem ao grosso do gameplay. As lutas, repito, são belíssimas, e muito provavelmente você vai esquecer dos problemas quando explodir demônios com seu ki.

É um jogo que vale pela nostalgia e pelo valor sentimental, e que com certeza garantirá uma boa diversão em uma tarde de fim de semana. Porém, não se pode negar que, se houvesse um capricho maior, o jogo poderia ser ainda mais grandioso.

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Nota
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Luiz Felipe Lima
Luiz Felipe Lima é carioca, e sua paixão por música e games começou aos 13 anos de idade, quando ganhou seu primeiro DVD de Heavy Metal e resolveu aprender a tocar guitarra. É fã inveterado de Uncharted e de Metal Gear Solid.
dragon-ball-xenoverseAno: 2015<br> Gênero: Luta<br> Plataforma: PC, PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One<br> Fabricante: Dimps<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Bandai Namco Games<br>