A série de games Deus Ex começou no ano 2000, mas ela ganhou uma bela turbinada em 2011, com o lançamento de Human Revolution, que se tornou um clássico. Assim, pela primeira vez, temos um novo jogo da série com uma história que continua diretamente os eventos mostrados no anterior, e inclusive tem o mesmo protagonista, Adam Jensen.
Para quem não jogou Human Revolution, Mankind Divided começa com um vídeo de 12 minutos bastante útil, que conta em detalhes tudo que rolou no anterior. Para fins desta análise, basta dizer que, após o “incidente” que encerrou o jogo de 2011, a humanidade ficou dividida (Mankind Divided. Hein? Hein?) entre os naturais e os aumentados. Os aumentados são pessoas que, como o nosso herói, sofreram implantes robóticos e são agora meio máquina e meio homens.
Esta indisposição entre os dois é o mote central da história. Temos uma organização que luta pelos direitos dos aumentados, temos corporações com interesses escusos e temos nosso herói, o mais novo agente da Interpol, que vai ficar bem no meio da confusão toda.
PRAGA
O mais legal de Mankind Divided é o seu hub, que também podemos chamar de mundo aberto. Trata-se da cidade de Praga, onde os aumentados não devem se misturar com os naturais. E é engraçado como o jogo força você a entrar na brincadeira.
No metrô, por exemplo, você pode entrar no vagão dos aumentados ou dos naturais. Se você for rebelde, ao sair, um policial vai pedir seus documentos em uma cutscene não interativa e não pulável que dura uns dois minutos. Toda vez que você for rebelde, vai ter que aguentar a cutscene, então é óbvio que não demora para você se limitar ao vagão da sua laia.
A cidade de Praga é incrivelmente linda e detalhada, e fica ainda mais impressionante à noite. Aliás, os cenários de Mankind Divided são bonitos demais. Os personagens, por outro lado, têm animações um pouco estranhas e sincronia labial fora do ideal, mas ainda assim o jogo tem gráficos sensacionais.
Talvez as pessoas estejam chamando Praga de hub e não de mundo aberto porque ela é relativamente pequena. Dá para você correr de um lado para o outro em pouco tempo, com exceção do bairro de baixo, onde fica a casa do protagonista, onde só dá para ir de metrô.
MISSÕES
Se não me falha a memória, apenas quatro missões acontecem fora de Praga, e estas são as mais tradicionais, nas quais você precisa se locomover, de preferência sem ser avistado, até seus objetivos.
Curiosamente, eu gostei mais de Praga. Por um lado, porque é lá que você pode se movimentar e explorar mais livremente, sem se preocupar em iniciar um tiroteio caso seja visto. Por outro porque é também lá que você passa mais tempo conversando e tomando decisões, que é o aspecto mais legal do jogo.
Há algumas boss battles sociais, nas quais você deve manipular alguém baseado nas análises feitas pelo seu sistema. É bem divertido e único, sem falar que você ganha um montão de experiência quando consegue.
Além das missões principais, há também algumas sidemissions, e aqui Deus Ex segue a linha dos jogos do Batman. Em outras palavras, são poucas, são extensas e são boas. E, assim como nos jogos do homem-morcego, pode ser que você não encontre algumas, já que elas começam organicamente, quando você vê alguma coisa ou conversa com um personagem que não é marcado no mapa.
O lado chato de explorar Praga é que a maioria das portas está trancada e, para abri-las, você deve hackear. O minigame de hacking até é bacaninha, mas você é obrigado a fazê-lo tantas vezes ao longo do jogo que vai enjoar muito antes de terminar.
Além disso, o jogo pune você para sempre em alguns casos. Por exemplo, no prédio do Jensen, tem uma lojinha que vende armas e itens. Logo no começo do jogo, quando eu passei por ali, eu resolvi colocar todos eles para dormir e roubar a loja. Com isso peguei um monte de armas que teria demorado muito para conseguir, então pareceu uma boa ideia.
No entanto, a lojinha não voltou a ser ativada nunca. O vendedor até acordou e, quando eu entrava lá, ele perguntava o que eu queria comprar, mas não conseguia falar com ele. E considerando que esta é a loja principal, onde você vai comprar munição e itens essenciais para o resto do jogo, me parece que ou ele não deveria deixar eu fazer o que fiz, ou então voltar a ativar a loja depois de um tempo. Mas não, eu tive que me virar sem a lojinha até o fim.
Ok, talvez eu tenha sido bem noob ao decidir roubar a loja, mas é o que anos de GTA me ensinaram a fazer. E já que o assunto é quão noob eu sou…
QUÃO NOOB EU SOU?
Eu li muita gente falando por aí que Mankind Divided é muito fácil e que o herói é totalmente overpowered. No entanto, eu de fato devo ser muito noob pois, apesar de ter começado na dificuldade média, não demorou para eu arregar e ir para o easy. E mesmo assim eu tive MUITA dificuldade para terminar o jogo. Tipo, sem exagero, eu precisei de mais força de vontade e habilidade para conseguir terminar este do que Dark Souls 3. E isso não faz sentido, considerando que os Souls são unanimemente difíceis, e este aparentemente é unanimemente fácil.
Nas minhas anotações, eu escrevi “não dá para jogar como shooter, mas não tem as ferramentas para jogar como stealth”. Isso fez com que eu me sentisse, especialmente nas missões fora de Praga, totalmente indefeso.
Em jogos de stealth, eu costumo ir derrubando os inimigos um a um até o caminho estar livre, mas isso não é possível aqui. O takedown de Jensen gasta um terço da sua barra de mana. O último terço se renova sozinho em cerca de um minuto, mas neste um minuto você não pode se defender de nenhuma forma a não ser com tiros.
Ou seja, se tiver dois caboclos na sua frente, uma estratégia comum nos games em geral, é você derrubar um e correr para derrubar o outro antes de ele soar o alarme. Isso é impossível por aqui, já que você precisa esperar um minuto entre um nocaute e outro. Outra opção é usar itens que recuperam sua mana, que é claro que não são tão abundantes para serem usados à vontade.
E não são apenas os takedowns que usam mana, mas todos os seus superpoderes. E todos eles drenam a barrinha tão rápido, e te colocam lá no nível de reserva com uma ou duas usadas. Assim, você teoricamente é um super-humano cheio de poderes bacanas, mas sua mana é limitada demais para poder brincar com eles. E isso tira muito do climão lúdico que o jogo poderia ter, já que até a mais básica das atividades stealth, o takedown, tem um tempo de cooldown bem longo.
Obviamente, também não há munição suficiente para você sair atirando em tudo que se mexe, além do fato que, se você for avistado, os inimigos conseguem te matar em, literalmente, menos de um segundo. E isso no easy.
Em determinado ponto das primeiras horas do jogo, eu tinha que salvar um prisioneiro, e para fazer isso precisava nocautear quatro guardas. Três deles eram guardas normais, mas um deles usava uma armadura robótica que o deixava muito mais perigoso e o tornava invencível a um ataque stealth.
Eu devo ter ficado quase uma hora repetindo essa cena. Eu até conseguia derrubar os três guardas normais, mas o robozão me matava muito rápido e furtividade era inútil. Consegui vencê-lo com muito esforço, usando toda a minha munição anti-armadura, todas as minhas granadas e boa parte da minha munição normal. Sem exagero, já venci chefes no Dark Souls com menos dificuldade.
E isso me fazia pensar o que eu estava fazendo de errado. Estava jogando no modo easy de um jogo que as pessoas estavam criticando por ser fácil demais. Esta é uma pergunta que eu não consegui responder.
Acabei conseguindo avançar a história comprando upgrades que me davam maior resistência física e gastando todo meu dinheiro disponível em munição para tentar vencer nos tiroteios. Eu ainda tentava jogar como stealth, mas a habilidade necessária para não ser visto com tantos inimigos, câmeras e alarmes é algo que eu simplesmente não tinha.
Respondendo então à pergunta do último intertítulo, acho que eu sou muito noob mesmo.
HUMANIDADE DIVIDIDA
Deus Ex: Mankind Divided exigiu de mim uma boa dose de paciência e perseverança. Ele é um bom jogo, sem dúvida alguma, mas ele seria tão mais divertido se sua barra de mana se recuperasse totalmente naturalmente, o que permitiria que a gente brincasse bem mais com os superpoderes do Adam.
No entanto, tem gente dizendo por aí que mesmo assim o Adam é overpowered, e isso me faz pensar quão mágicos são os videogames, que permitem que um mesmo jogo dê experiências tão diferentes. Eu me senti fragilizado o tempo todo, mas tem gente que mesmo jogando no hard, achou que o jogo dá muita colher de chá. Como foi a sua experiência? Conta para mim nos comentários.