Deixe-me Entrar

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O delfonauta provavelmente já assistiu ao ultra-hypado Låt den Rätte Komma In, filme sueco de 2007 que, tal qual Crepúsculo, conta uma história de amor na qual um dos pombinhos é um vampiro.

Esse filme, pelo que sei, passou aqui no Brasil apenas no festival SP Terror, sob a alcunha Deixa Ela Entrar e fez miséria. Foi um dos filmes do festival que tiveram cabine e, embora estivéssemos presentes, como não havia previsão de estreia comercial, preferimos resenhar outros participantes, como O Gigante do Japão e Mangue Negro, que acreditei que interessariam mais ao nosso público.

Admito, foi uma péssima decisão editorial minha, pois semanas depois dessa cabine, o filme virou um tremendo blockbuster indie, com muito nerd mundo afora considerando o dito-cujo um dos melhores filmes de vampiro da história. E eu fiquei sem entender porque não tinha gostado dele. Afinal, eu normalmente gosto dos sucessos indies, como o delfonauta dedicado já sabe pelas minhas resenhas. Resultado? Minha caixa postal foi bombardeada com solicitações para que resenhássemos o maledeto. E agora, meu amigo, com um tempinho de atraso, eu os atendo, ainda que resumidamente.

Låt den Rätte Komma In

O motivo pelo qual eu optei por não resenhá-lo à época do festival é que o achei muito chato. Considerei sua narrativa obtusa e desnecessariamente lenta, tornando quase impossível prestar atenção nele.

O que costuma diminuir os pontos dos filmes nas minhas resenhas é o o roteiro, mas neste caso não tive nenhum problema com o texto. Meu problema foi mesmo com a narrativa, que não conseguiu prender minha atenção. Devo dizer que, se fosse eu o diretor, teria filmado de forma completamente diferente, dando mais velocidade e dinamismo às cenas e possivelmente cortando uma meia-hora do filme. O que não quer dizer que a direção seja ruim, que eu faria melhor ou que meu jeito seria o certo (até porque não sou diretor nem tenho pretensões de ser). Meu ponto é apenas que o estilo de direção não me agradou.

Assim, quando foi anunciado o remake estadunidense, pensei que o Tio Sam provavelmente mudaria a narrativa para deixá-la mais palatável a um povo que gosta de tudo tão mastigado que preferem refazer um filme inteiro ao invés de dublá-lo ou legendá-lo. Será que isso de fato aconteceu? Isso você descobre no próximo tópico.

Let Me In

Sinopse: Owen é um moleque atazanado por um bando de imbecis da sua escola. Mas sua vida está prestes a mudar, pois a Hit-Girl acaba de se mudar para o apartamento ao lado, e ela tem um segredo assustador. A essa altura você já sabe, né? É, ela é uma vampira. Cara, que surpreendente!

A direção é de Matt Reeves, que cuidou daquela bomba chamada Cloverfield – Monstro. De fato, não é um nome para nos empolgarmos, mas pelo menos ele não manteria a mesma narrativa obtusa. Ou manteria?

A príncipio, admito que tudo parecia igual. Tudo que me lembrava do filme original estava aqui, inclusive o ritmo mais lento do que uma tartaruga emaconhada (e sim, a famosíssima cena da piscina foi mantida praticamente intacta). Agora o principal ponto nesses filmes indies, com narrativas diferentes do tradicional é que, para gostarmos, você precisa estar no clima. E veja só, dessa vez eu gostei. O que me leva a pensar que, reassistindo ao original sueco, é bem capaz que eu venha a gostar dele.

Seja como for, além da supracitada “cena preferida de todo mundo” (a da piscina), tem aqui algumas outras cenas legais que podem até estar no original, mas, admito, eu não me lembro delas. É o caso, por exemplo, da cena do carro capotando, filmada pelo lado de dentro. É o tipo de cena que você assiste e dá vontade de virar professor de faculdade de cinema só para mostrá-la aos seus alunos. E o filme tem outras assim.

PARA ALONGAR A RESENHA

Para alongar a resenha, permita-me falar de dois pontos do roteiro que me incomodaram. O primeiro é aquela velha fórmula de começar a história no meio e depois voltar e contar tudo linearmente. Eu expliquei porque não gosto disso aqui. E não me lembro se o sueco também começa assim. Se você lembra, refresque minha memória nos comentários.

O segundo ponto é mais um protesto contra a forma que os vampiros são normalmente retratados (inclusive aqui e no original). Acredito que não existem opiniões diferentes quanto ao fato de que vampiros são seres racionais – muitas vezes inteligentíssimos. Dessa forma, não faz sentido eles começarem a agir como animais famintos toda vez que vêem sangue.

Ora, você precisa comer toda vez que vê uma pizza? Pode até ficar com vontade, mas não é algo que faça você arrancá-la da mão de quem estiver comendo. Até mesmo animais, teoricamente irracionais, são assim. Caso você tenha um cachorro, encha sua tigelinha de comida e observe. Ele vai comer um pouco e, quando ficar satisfeito, vai parar. A comida vai continuar lá, na frente dele. Ou seja, ele a está vendo, mas não está comendo. Só voltará a fazer isso um tempo depois.

Então, caramba, por que todo vampiro ao ser retratado na cultura pop perde toda a capacidade de raciocinar toda vez que vê sangue? Em quase toda literatura vampirística, fica claro que eles fazem tudo que nós fazemos, só que melhor. Então como diabos eles não conseguem ver umas gotas de sangue sem se controlar?

Para mim, parece uma forma muito óbvia de criar momentos assustadores e emocionantes sem precisar pensar muito. Exatamente como ameaçar a vida de crianças, mesmo quando sabemos que pouquíssimos filmes têm bolas para cumprir a ameaça.

Então fica a dica, delfonauta criativo: se você quiser fazer uma história em qualquer mídia sobre vampiros, trate-os como criaturas com pleno domínio de seus instintos, porque convenhamos, não precisa de lá muito controle para ver comida e não comer. Se você não consegue sair disso, faça um filme de lobisomens. Esses pelo menos precisam de menos desenvolvimento. ^^

VOLTANDO AO ASSUNTO

Mas o que interessa é que dessa vez eu gostei dessa abordagem mais trüe do romance vampirístico. Até restaurou meu interesse em assistir novamente ao sueco. Se você sonha em ter um caso erótico com um vampiro/a, mas não quer um bicho fosforecente na sua cama (deve ser difícil para dormir), Deixe-Me Entrar é para você. Escolha a versão sueca ou estadunidense e seja feliz para sempre, com caninos afiados.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
deixe-me-entrarPaís: EUA / Reino Unido<br> Ano: 2010<br> Gênero: Romance / Terror / Drama<br> Elenco: Chloë Grace Moretz, Kodi Smit-McPhee, Richard Jenkins e Cara Buono.<br> Diretor: Matt Reeves<br>