Em maio de 2013, foi lançado o Random Access Memories, o mais novo disco de Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo (sim, este é mesmo o nome dele), os rapazes robóticos do Daft Punk. Na época, o single Get Lucky, parceria com Pharell Williams (o responsável pela ótima trilha sonora de Meu Malvado Favorito) tocou tanto e em tantos lugares que mesmo quem não os conhece provavelmente aprendeu a cantá-la até de trás para frente.
Mas os comentários sobre o disco eram mistos: alguns disseram ser o melhor disco da carreira do Daft Punk, o melhor do ano e até da década. Outros, com a mesma paixão, o acusavam de ser pretensioso e de atirar para muitos lados sem acertar realmente em nenhum. Este tipo de polêmica acaba tendo o efeito contrário em mim, e estando ocupada com outros lançamentos mais próximos do meu nicho, acabei nem me interessando muito em ouví-lo como um todo.
Mas recentemente, tivemos a cerimônia de entrega do Grammy deste ano, de onde a dupla saiu com cinco prêmios, incluindo o de melhor álbum e melhor single. Eles também se apresentaram, na companhia de Pharrell e Stevie Wonder, e colocaram gente como Steven Tyler, Paul McCartney, Ringo Starr, Yoko Ono e Beyoncé para dançar.
Dessa vez o hype voltou pesando muito mais para o lado positivo, então eu não resisti em verificar este novo álbum. E apesar de ter curtido muito, devo alertar que a expectativa, como sempre, é a mãe da decepção.
O disco começa com Give Life Back to Music, que é legal, mas inofensiva. Vem a seguir a controversa Giorgio By Moroder, uma faixa de nove minutos em que o próprio Giorgio, produtor e pioneiro da Disco nos anos 70, conta um pouco de sua história. Ela causa estranheza a princípio, mas depois de algumas ouvidas eu acabei reconhecendo sua epicidade. Já Game of Love e Within se arrastam, e fazem os vocoders tão característicos deles ficarem irritantes.
Depois delas, no entanto, a coisa melhora. Instant Crush conta com os vocais de Julian Casablancas, do Strokes, e apesar de preferir a voz dele num tom mais grave, ela ainda é mais legal e marcante que muitas do Comedown Machine.
Lose Yourself to Dance é bem na linha de Get Lucky, só que com um clima mais Disco. E esse clima retrô continua em todo o álbum, justificando o título. Apesar de toda essa estética futurista, pagar tributo ao passado é outra grande marca deles que volta aqui, representada pelas participações especiais, como a do compositor Paul Williams (que tem The Carpenters e David Bowie no currículo) na teatral Touch. Fragments of Time também é agradável, e eu curti o jeitão indie rock de Doin’ It Right. E então o disco fecha com Contact, que demora para engatar, mas também agrada.
Em suma, o Random Access Memories é realmente um álbum ambicioso. Tem momentos bem fracos, mas também tem outros excelentes, tanto para quem quer uma coisa mais elaborada quanto para quem só precisa de faixas grudentinhas e dançantes para animar uma festa. E quanto mais vezes você escutar, mais vai gostar. No entanto, eu continuo achando o Discovery o melhor álbum deles. Ou seja, eles mereceram sim os Grammys que levaram, mas também se deve levar em consideração o fato de que os outros concorrentes eram coisas como Taylor Swift. Eu não o chamaria de o álbum da década, mas mantendo as expectativas sob controle, ele pode ser muito bem sucedido em divertir o ouvinte.