Antigamente, o único criador no cinema que fazia suas obras aparentemente independentes acontecerem em um mesmo universo era o Kevin Smith. Ou pelo menos foi o primeiro que conheci. Eu sempre tive minhas ideias para criar coisas assim também, independentes, mas conectadas, e não entendia porque outros diretores e roteiristas não faziam isso. Hoje é difícil encontrar uma obra, qualquer obra, que seja totalmente independente. E Wish: O Poder dos Desejos vem com a forte incumbência de juntar todos os desenhos Disney na mesma história. Esta, pelo menos, é a ideia. Mas tem um filme mais ou menos independente aqui também.
CRÍTICA WISH O PODER DOS DESEJOS
Aqui conhecemos o reino de Rosas. O rei Magnifico é um feiticeiro que convenceu toda sua população a entregar a ele seus mais profundos desejos. Ele até realiza alguns deles, olha como é bonzinho. É claro que não, né? Na verdade logo na primeira cena em que ele aparece já fica claro que o sujeito é o vilão. O que ele realmente quer é acumular todos os desejos da plebe e com isso ganhar o poder deles.
Asha, nossa protagonista, começa o filme querendo se tornar assistente dele. Porém, quando ele revela a verdade, e sua intenção de não realizar quase nada, ela decide que pelo menos as pessoas devem receber seus desejos de volta. Se não os terão magicamente realizados, podem pelo menos trabalhar em alcançá-los. Obviamente, o vilão não gosta disso.
SERÁ QUE ELA CONSEGUIU O EMPREGO?
O de assistente certamente não, mas ela claramente tem o estofo e o objetivo para ser uma protagonista Disney. Ela faz um pedido para uma estrela e, veja só, a estrelinha desce e começa a acompanhá-la. O objetivo? Devolver os desejos para a população.
Esta é a toada e, sim, em geral é um filme independente dos outros. Há várias referências, no entanto. Outros desenhos são citados, um personagem conhecido pode aparecer de relance, este tipo de coisa. Só no final mesmo que a ambição do multiverso fica escancarada, e o subtexto se torna texto.
CRÍTICA WISH: QUANDO O SUBTEXTO SE TORNA TEXTO
O filme é um musical bem semelhante aos clássicos da Disney. Porém, as músicas não são tão legais. Tanto o filme quanto as músicas ficam muito mais legais depois que a estrelinha entra na história. Mais ou menos como Aladdin fica melhor depois do Gênio entrar, sabe? Mas o começo é realmente fraquinho.
A segunda metade é bastante superior, mas mesmo assim não está no nível dos melhores da Disney. É até estranho que um filme tão nada tenha a missão tão importante de juntar tudo em um único universo.
CEL SHADED
Vale comentar também do visual. É uma computação gráfica com pintura de desenhos animados tradicionais, o que causa um híbrido que gamers talvez reconheçam de jogos que lançam mão do estilo cel shaded. Nos videogames, como a câmera costuma ficar a cargo do jogador, ter um personagem em 3D é importante para ser jogável. Num filme, imagino que isso ajude bastante na produção em si. Afinal, os diretores têm maior liberdade de ângulos e movimentação do que se fossem desenhos 2D. Para quem assiste, no entanto, acredito que não há um ganho estético. Wish tem cara de videogame, e desenhos da Disney, mesmo os antigos ou os mais recentes que são full-CG, costumavam ser muito mais bonitos.
Claro que daí vai de gosto, e Wish certamente tem seu lote de cenas bonitas. A dança das galinhas, por exemplo, é um grande momento. E há outros igualmente bacanas. Mas em geral, a sensação ao sair do cinema é que Wish é quase um Disney de baixo orçamento. E isso é bem estranho, considerando a importância administrativa que sua história carrega. Não me surpreenderia que a casa do Mickey voltasse atrás em seus planos, e os filmes voltem a ser totalmente independentes. O Pai Tempo dirá.