A nova trilogia Star Wars chega ao fim! Chegou a hora de ler nossa crítica Star Wars: A Ascensão Skywalker.
CRÍTICA STAR WARS: A ASCENSÃO SKYWALKER
Algo difícil ao se escrever uma crítica para um filme tão esperado como Star Wars é que as pessoas, obviamente, esperam que você fale sobre o filme. Porém, a linha entre spoiler e sinopse anda cada vez mais tênue. Considerando que no trailer se ouve a risada do Imperador Palpatine, seria spoiler eu dizer se ele está ou não no filme?
Para proteger sua experiência, vou limitar a minha sinopse ao que é contado no texto inicial, antes mesmo de qualquer ator aparecer na tela.
Uma transmissão do Imperador Palpatine foi feita prometendo vingança. Todos acreditavam que ele estava morto. A resistência teme seu retorno pelos motivos óbvios. Mas Kylo Ren, agora Líder Supremo da Primeira Ordem, também vê esta possível ressurreição como uma ameaça ao seu poder.
É um setup bem legal. Devo dizer que esbanjei um sorriso conforme a câmera descia pelas estrelas para começar o filme propriamente dito.
LORD SKYWALKER, RISE
Analisar A Ascensão Skywalker, a conclusão de uma trilogia, é também falar sobre os filmes que a precederam. Então esteja avisado: embora eu não vá falar nada aqui que possa estragar sua experiência com este filme, vou citar pontos dos anteriores.
Como encerramento, A Ascensão Skywalker se dá muito bem. Especialmente porque sua história de fato termina. Não há cliffhangers, cenas pós-créditos (eu esperei!) nem nada do tipo. O final desta nova trilogia é tão satisfatório quanto o de O Retorno de Jedi, o que por si só diz muito.
A conclusão original é considerada o elo mais fraco da trilogia sagrada, mas acho que ninguém colocaria problemas no seu final. A história termina de tal forma que, se nunca mais um novo Star Wars tivesse sido feito, tudo estava resolvido. E aqui isso acontece de novo. Star Wars vai continuar, provavelmente para sempre, mas a história destes personagens foi contada. E muito bem contada, eu diria. Particularmente, gosto até de Os Últimos Jedi.
Dito isso, eu os considero filmes perfeitos, uma nova trilogia sagrada? Não, longe disso.
TRILOGIA PROFANA
Na verdade, se você falasse para o Corrales modelo 2010 que novos Star Wars seriam feitos, e trariam de volta Harrison Ford, Mark Hamill e Carrie Fisher para os personagens que lhe deram fama, eu esperaria filmes bem mais legais do que estes de fato são.
Acontece, é claro, que esta não é a história de Luke, Leia e Han. Esta foi contada em 1977, 1980 e 1983. A nova trilogia é a aventura de Finn, Rey e Poe, que por acaso se encontram com os heróis que já conhecemos. Ver o que estes personagens tão importantes para a galáxia e para a cultura pop estão fazendo desde que venceram o Império é parte da graça. Mas não é o foco.
Dito isso, eu considero uma tremenda mancada terem matado dois dos três protagonistas clássicos nos filmes anteriores. É fato que muita coisa fora dos filmes influenciou nesta decisão (como Harrison Ford ter literalmente colocado sua morte como condição para o retorno), mas de um ponto de vista narrativo, é uma grande pena. Mesmo relegados a papéis secundários, o retorno de Luke, Leia e Han merecia mais.
E sim, eu sei que, nos próprios mitos em que Star Wars se baseia, é praxe a velha geração morrer para dar lugar à nova. Yoda e Obi-Wan morrem relativamente rápido nos filmes clássicos também. Mas eu gostaria de ter visto os antigos protagonistas melhor usados.
E também é digno de nota como a vida real não está nem aí para a cultura pop, matando durante a produção da nova trilogia justamente a única atriz clássica cujo personagem não morre nos filmes iniciais. Embora Carrie Fisher esteja presente em A Ascensão Skywalker, seu papel é ainda menor do que nos anteriores, e seu arco é encerrado de forma apressada, provavelmente em decorrência da morte da moça. Mas sei lá, se pá não. Afinal, Star Wars tem tradição de plantar sementes interessantes, mas decepcionar no desenvolvimento.
HORA DA COLHEITA
Por exemplo, a tal aparição ou não de Palpatine neste episódio. Durante o Episódio III, Palpatine conta para Anakin que o lado negro tem o poder de vencer a morte. A semente para o seu retorno foi plantada lá em 2005 pelo próprio George Lucas. Ainda assim, se o personagem aparece neste Episódio IX, seria interessante alguma explicação ou desenvolvimento de como ele ressuscitou. E isso não acontece.
Outra coisa que posso comentar sem medo de spoilers é o tal sabre de luz vermelho brandido pela Rey. Esta cena está no trailer, uma clara jogada de marketing para levar os fãs a discutirem se ela cederia ao lado negro. Pois a cena em questão no filme é tão curta e irrelevante que leva a pensar que ela está no roteiro não porque fazia sentido na história, mas simplesmente para aparecer no trailer. E isso é decepcionante. Mais um caso de semente plantada que nunca é colhida.
Mas apesar dos pesares – Star Wars sempre teve sérios problemas narrativos – A Ascensão Skywalker funciona. Algumas coisas são apressadas ou simplesmente não desenvolvidas, mas isso não muda o fato de que, como todos os filmes anteriores, ele é simplesmente muito divertido.
GUERRA NAS ESTRELAS
Star Wars é CINEMA. Assim mesmo, com letras maiúsculas. É uma overdose audiovisual. Um filme belíssimo, colorido, brilhante e chamativo. Suas cenas de ação são cuidadosamente orquestradas. E sua trilha sonora, como sempre, é irretocável. Arrisco dizer que as clássicas composições de John Williams nunca foram tão bem utilizadas antes.
Ajuda bastante o fato de que elas já são conhecidas, têm toda uma simbologia e mitologia ligada a elas. Assim, seu coração já sabe o que sentir quando ouve a Marcha Imperial ou o tema da rebelião. Algumas poucas notas já são capazes de causar medo ou esperança. E isso é, literalmente, algo para poucos. Só uma propriedade intelectual com a força absurda de um Star Wars é capaz de atingir esta façanha.
QUE A FORÇA ESTEJA COM VOCÊ
Star Wars é muito mais que um filme, é um evento. É um dos raros casos em que você já tinha decidido se ia ou não assistir antes mesmo de eu escrever a primeira palavra desta resenha. E, da mesma forma, é uma das séries que eu já penso como vai ser mostrar para minha filhinha um dia. Tipo, quando e em que ordem. Obviamente, eu não penso nisso com filmes mais gerais.
Eu diria que esta nova trilogia, como cinema, provavelmente é a melhor das três. E, ao mesmo tempo, é a que eu menos gosto. Este paradoxo se deve a muitas coisas, que vão da inabilidade de George Lucas em dirigir atores até o fato de eu hoje estar mais velho, e dar menos importância para a série do que dava em 2005.
Na verdade, pensei bastante nisso enquanto me dirigia à cabine deste Star Wars. Ainda lembro da minha empolgação ao receber o convite para assistir ao Episódio III e de ter contado os dias até chegar a hora. Na época eu trabalhava em uma revista de videogame e literalmente faltei ao trabalho para assistir ao filme. E depois ainda fui ver de novo, pagando mesmo, durante sua exibição comercial. Dá para você sentir esta empolgação na minha resenha. Já esta foi incrivelmente mais mundana. Fui de ônibus e trem ao shopping, ouvindo o novo disco orquestrado do Blind Guardian, cheguei perto da hora de começar e aguardei pacientemente o início da sessão enquanto planejava o resto do meu dia. Porque, apesar de ser o dia em que eu assistiria Star Wars, eu ainda faria muitas outras coisas depois – uma delas, claro, escrever este texto.
Não acho que crescer envolve deixar de gostar das coisas que você gostava na infância e adolescência. Ora, eu ainda gosto de Star Wars e de heavy metal. Mas hoje minha expectativa acaba sendo focada em outras coisas. E cinema é apenas o que sempre deveria ter sido: uma diversão, e não o foco da minha vida. E, como diversão, poucas franquias da sétima arte se dão melhor do que Star Wars.
CURIOSIDADE:
Sabe o que realmente me decepcionou aqui? A Disney agora ser dona da Fox e não ter aproveitado para iniciar A Ascensão Skywalker com o logo e a fanfarra da raposa. Que oportunidade perdida, meu!