Já falei nesta resenha aqui sobre o tal do Slender Man, um personagem de pesadelo, alto, com braços longos, sem rosto e capaz de criar tentáculos nas costas. Criado por Victor Surge, que postou um conto sobre ele na internet, logo se popularizou na rede entre crianças e adolescentes.

Contos, relatos, fotos e vídeos começaram a ser produzidos e disseminados em fóruns e o personagem virou uma lenda urbana da época digital. O link do primeiro parágrafo é sobre um documentário que mostra como duas meninas pamonhas ficaram tão impressionadas com ele que tentaram matar uma amiga em sua homenagem.

Como um autêntico personagem assustador, nada mais natural que ele fosse utilizado em um filme de horror. Então toma aí Slender Man – Pesadelo Sem Rosto, um dos piores filmes do gênero que tive o desprazer de assistir em anos recentes.

Delfos, Slender Man, Pesadelo Sem Rosto, CartazA história gira em torno de um grupo de garotas adolescente que, numa sexta à noite sem nada melhor para fazer, decidem invocar o Slender Man assistindo a um vídeo na internet. A partir daí cada uma delas vai lentamente perdendo o juízo, sofrendo visões e pesadelos com a bizarra criatura.

Tinha material para fazer um filme decente. A ideia da coisa toda começar assistindo a um vídeo poderia ser uma atualização para a era do Youtube de O Chamado, por exemplo. E o fato de que o tal do Slender Man não é um assassino de slasher, mas sim uma entidade que leva algumas crianças (para onde, não se sabe) e outras ele tortura psicologicamente até deixá-las loucas é algo que poderia render um terror mais psicológico, mais climático.

Só que, obviamente, o público alvo disso aqui são os adolescentes, então esqueça qualquer chance das coisas elencadas acima acontecerem. E aí está o problema. Se não há mortes (ao menos, não confirmadas) e nem uma jornada de terror psicológico feita com classe, o que sobra é apenas um grupo de adolescentes tendo pesadelos e alucinações.

EU NÃO CONSIGO TER MEDO DE UM MONSTRO QUE USA TERNO

Delfos, Slender Man. Pesadelo Sem Rosto

O filme todo é aquele gigantesco clichê de um personagem acordando de um pesadelo, com direto àquela sentada em 90 graus logo depois que se abre os olhos. E ele é simplesmente muito chato. Nada acontece na primeira meia hora. E o fato de que a primeira coisa relevante a finalmente a ocorrer seja o desaparecimento de uma menina, arrasta ainda mais as coisas. Daí, é uma sucessão de clichês e tentativas de sustos baratos, além dos tradicionais personagens tão burros que é um milagre que consigam parar de pé.

Quando finalmente aparece, nosso querido Slender Man fica sempre no fundo, desfocado e dando aqueles sustos estilo “pico nos efeitos sonoros”. E aí, quando é utilizado com mais afinco, os horrorosos efeitos especiais põem tudo a perder, pois são bem toscos. Os próprios vídeos feitos pela garotada mundo afora sobre o personagem são mais bem feitos do que o seu filme de terror hollywoodiano oficial. Bizarro, não?

Slender Man – Pesadelo Sem Rosto poderia render um bom filme tanto quanto poderia ser apenas mais um dentre tantos longas de terror teen modernos. Se tivesse conseguido chegar nesta segunda opção, já estaria bom demais. Resultou num desastre completo e chatíssimo de aturar, incapaz de assustar uma mosca que seja. Esqueça essa bomba e vá ver outra coisa que você ganha mais.

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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-slender-man-pesadelo-sem-rostoTítulo: Slender Man<br> País: EUA<br> Ano: 2018<br> Gênero: Terror<br> Duração: 93 minutos<br> Distribuidora: Sony<br> Data de estreia: 23/08/2018<br> Direção: Sylvain White<br> Roteiro: David Birke<br> Elenco: Joey King, Julia Goldani Telles e Jaz Sinclair.