Começo esta crítica Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis com uma confissão. Apesar de ter lido os gibis da Marvel religiosamente por mais de uma década, eu nunca ouvi falar de Shang-Chi. Até certo ponto, a existência deste filme passa a sensação de a Marvel estar raspando o tacho depois de ter matado geral em Vingadores: Ultimato. Mas até aí, essa ideia de fazer filmes de alto orçamento com personagens desconhecidos deu muito certo com Os Guardiões da Galáxia, transformando o grupo em um dos principais nomes da nova Marvel.

E sabe outra coisa curiosa? Apesar de nunca ter ouvido falar de Shang-Chi, eu conheço muito bem o Mandarim, vilão deste longa. Você deve se lembrar que uma versão do Mandarim apareceu em Homem de Ferro 3, interpretado por Ben Kingsley. E eu diria que a versão do vilão que apareceu nas telonas foi o maior passo em falso que o MCU deu até hoje. Pois Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis vem para consertar isso, trazendo um Mandarim muito mais próximo do personagem dos gibis e muito mais tremendão. E veja só, interpretado por Tony Leung, cara bem conhecida dos filmes chineses de luta. Só que, claro, ele não usa a alcunha Mandarin no filme, embora seja claramente o mesmo personagem.

CRÍTICA SHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANEIS

Crítica Shang-Chi, Shang-Chi, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, Marvel, MCU, Delfos

Tudo começa quando Shang-Chi é assaltado no busão. Os bandidos roubam um pingente. A irmã dele, que mora em Macau, também tem um. Ela será a próxima e ele precisa avisá-la. Só que, ao invés de mandar um Whatsapp para a moçoila saber do perigo instantaneamente, ele resolve pegar um avião e ir pessoalmente. O universo Marvel é cheio de personagens extremamente inteligentes, mas Shang-Chi definitivamente não sabe administrar bem o seu tempo nem tem consciência de urgência.

Papo vai, papo vem, as ações do Mandarim que não usa este nome podem causar o fim do mundo. Cabe a Shang-Chi, sua irmãzinha e a mina cuja vagina alimenta os sem-teto salvar o universo.

E como eu sou sempre um caboclo polêmico, vou fazer um intertítulo hiperbolístico.

Crítica Shang-Chi, Shang-Chi, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, Marvel, MCU, DelfosSHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANEIS É O NOVO PANTERA NEGRA

Pronto, já está querendo fazer pipi na minha foto, né? Mas eu explico o que quero dizer. O filme do Pantera Negra era uma interpretação da Marvel para a cultura africana e, para mim, isso o tornou especial e diferente. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis, por sua vez, é uma interpretação da Marvel para a cultura asiática. Mais especificamente, os filmes chineses de kung-fu. E você sabe, eu adoro esses filmes.

A influência dos filmes de luta asiáticos permeiam todos os 132 minutos de duração. E, para meu paladar estético, tornam Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis o filme mais bonito que a Marvel fez até hoje. Já critiquei muito as cenas de ação do MCU. Sinceramente não gosto daquele estilo “cada soco é um corte”. Gosto de porrada que funcione como uma dança, de preferência com câmera parada enquanto dois atores/dançarinos fazem movimentos estilosos. E é mais ou menos isso que temos aqui. Claro, ainda é um filme ocidental. As lutas têm cortes frequentes, mas os planos são bem mais longos do que o tradicional cinemão hollywoodiano. E isso é muito bem-vindo. Afinal, sem cortes frequentes, dá para realmente admirar a coreografia e a cinematografia de cenas que são realmente lindas.

CRÍTICA SHANG-CHI E A LENDA DOS VIDEOGAMES

Um exemplo é a luta que rola logo no começo do filme, entre o Mandarim e sua futura esposa. Coisa linda, delfonauta! A porrada acontece em um cenário idílico, com árvores e plantas naquela bela coloração de outono. E a luta é típica dos filmes chineses, com personagens flutuando, usando magias que levantam folhas secas do chão e mais um monte de floreios visuais. É uma luta, sim, mas é muito mais um espetáculo de dança do que um de violência. E isso muito me agrada.

Aliás, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis me lembrou muito videogames. Mas diria que isso se deve ao fato de que na minha infância a maioria dos jogos era japonês, e traziam muitas influências de animês e filmes de ação orientais. Ainda assim, logo nos primeiros minutos o filme me remeteu, em ordem, a God of WarCrazy Taxi e Final Fight. Depois que você assistir, vem aqui e me conta se também te lembrou esses jogos, ou coisas completamente diferentes.

Crítica Shang-Chi, Shang-Chi, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, Marvel, MCU, Delfos

O mais legal do filme é, de longe, suas cenas de luta. Curiosamente, ele começa com várias delas quase seguidas, e daí dá uma longa pausa. A porradaria só volta a comer solta lá no clímax e, apesar de ser indiscutivelmente muito mais épica, não achei a última tão legal quanto as primeiras. Legal, sim, mas não TÃO legal, entende?

CRÍTICA SHANG-CHI E O UNIVERSO MARVEL

Mesmo quando a galera não está porrando uns aos outros, o filme é bem divertido. Os personagens são todos legais, carismáticos e bem atuados. Embora tenha humor, talvez Shang-Chi não invista tanto nesse lado quanto a maioria dos longas do MCU, mas isso não chega a ser um problema. E certamente ele ainda vai arrancar algumas risadas suas.

Será que Shang-Chi fará pelo protagonista o que Guardiões da Galáxia fez para eles? Teremos um personagem terciário da Marvel se tornando um de seus principais nomes? Talvez. Não sei se filmes de kung fu chineses têm o mesmo apelo comercial que o sci fi cômico e cheio de referências a cultura pop dos Guardiões. Mas para mim, pelo menos, o gênero agrada muito. E Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis é uma homenagem ocidental ao gênero bastante decente.