Quando criança, eu gostava muito de Família Dinossauros. E tinha um episódio que dizia que, depois de determinada idade, todo homem deveria ter a possibilidade de matar sua sogra. Horrível, né? Bem-vindo à nossa crítica Plano 75.
CRÍTICA PLANO 75
Plano 75 mostra o Japão lidando com o envelhecimento de sua população. Eles aprovam uma lei, que permite que pessoas com mais de 75 anos possam escolher morrer, com apoio do Estado. Ao mesmo tempo horrível, mas também um tanto desejável.
Eu já convivi com muita gente no fim da vida, e esta época costuma ser muito sofrida. Os problemas de saúde limitam muito a pessoa, e fazem com que ela viva com dor, presa no próprio corpo. Um suicídio assistido, especialmente se feito por vontade própria e antes do sofrimento se tornar extremo, parece desejável, ao menos para mim. Acredito que eu mesmo optaria por este caminho se ele existisse na vida real e no Brasil.
Por outro lado, isso pode fazer com que o etarismo fique ainda pior. Os médicos podem incentivar velhinhos que não considerariam este caminho a seguir por ele. E pior, as pessoas podem maltratar os idosos em espaços públicos, considerando-os parasitas que escolhem a própria vida em detrimento dos mais jovens. Curiosamente, Plano 75 não elabora nenhuma dessas possibilidades.
NARRATIVA ORIENTAL
Plano 75 conta três histórias. A de uma senhora que opta por passar pelo plano, e de dois jovens adultos envolvidos no funcionamento do sistema. Uma coisa que fica bem claro no filme é a quantidade de respeito envolvido. Em nenhum momento alguém é cruel com um velhinho. Um dos jovens protagonistas trabalha atendendo e informando quem procura pelo serviço e faz tudo com muita paciência e respeito. A coisa é quase onírica, e dá a impressão que o grande conflito do filme seria até desejável.
Narrativamente, a cinematografia oriental se divide em dois estilos bem definidos. Tem o estilo pop, que admito muito, e considero lindo demais. E tem o estilo mais cinema de arte, mais lento e contemplativo. Plano 75 está fortemente nesta última categoria. E, cá entre nós, eu não gosto dessa forma de contar histórias.
OS 75 PLANOS DO PLANO 75
São planos longos em que nada acontece ou é falado, por exemplo. Ou então cenas de diálogos em que um dos personagens fica fora do quadro, e o outro é mostrado apenas de trás.
Coisas assim fazem esses filmes, para mim, muito chatos. Assim, apesar do tema super interessante, Plano 75 parece mais longo e entediante do que poderia ser. Mas não tenho dúvidas que ele é o que deseja ser, não um daqueles casos de filme chato por ser ruim. Plano 75 é bom, mas definitivamente não é o tipo de narrativa que me agrada. Se agrada a você, vale o ingresso.