O terror vem usufruindo de um renascimento. Tradicionalmente, este é um gênero de nicho, execrado pela maior parte dos críticos de cinema. E mesmo quem curte, dificilmente curte tudo. Eu, por exemplo, enchi a série Jogos Mortais de elogios por aqui, mas dificilmente falo bem de algo mais sobrenatural.

De uns anos para cá, no entanto, este malfadado gênero vem recebendo obras que arrancaram elogios das críticas e até mesmo alguns prêmios mais gerais, não focados em horror e fantasia. Parece que finalmente os mais talentosos criadores do cinema de medo arranjaram um jeito de chegar às massas. É o caso de filmes como Um Lugar SilenciosoCorraIt, e HereditárioMidsommar – O Mal Não Espera a Noite é a nova obra do diretor deste último, Ari Aster.

CRÍTICA MIDSOMMAR

É o meio do verão, e um grupo de jovens estadunidenses é convidado por um amigo a visitar sua vila na Suécia, onde um ritual que rola a cada 90 anos vai acontecer. De gaiata, vai Dani (Florence Pugh), a namorada de um deles, convidada pelo namorado após encarar uma séria tragédia familiar.

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A vila em questão é a coisa mais linda. Uma tranquila comunidade em meio à natureza, rodeada de flores e com uma ou outra casinha de madeira. Os habitantes são todos gentis, simpáticos e receptivos aos novos amigos. O próprio ritual parece a princípio ser algo meio hippie ou wicca, de comunhão com a natureza e sem nada de assustador. É o tipo de viagem que eu adoraria fazer. Até que, claro, fica assustador. Daí já não quero mais. Você sabia que este é um filme de terror, certo?

Crítica Midsommar, Midsommar, Ari Aster, DelfosO MEIO DO VERÃO

Como anda na moda atualmente, Midsommar é um daqueles filmes de terror bem longos, que desenvolve seus personagens com calma. E, como consequência disso, demora muito para o medo se instaurar.

Na verdade, se você for assistir sem saber nada do filme, na primeira hora vai ficar com a impressão de que este é um drama de relacionamento entre os amigos. Dani é claramente uma intrusa ali, impedindo os meninos de sair espalhando suas sementes da felicidade entre as suecas. E em vários pontos, ela literalmente age de forma contrária à diversão. Porém, ela é uma moça machucada, em luto pelo que acabou de acontecer à sua família, então é perfeitamente compreensível que ela não esteja a fim de festa.

O relacionamento do grupo é intercalado com o ritual propriamente dito, que demora muito para ficar assustador. Porém, esta parte pré-medo não é chata. Longe disso, aliás. Eu diria que esta parte mais “intercâmbio cultural” do longa é sua melhor característica. Isso é turbinado pelos cenários idílicos e ensolarados, uma linda trilha sonora e a mão firme de um talentoso e criativo diretor.

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Nem todos os fãs de cinema percebem coisas como os ângulos dos planos, cortes ou a forma como tudo é filmado. Porém, se você, como eu, é uma dessas figuras estranhas, vai se deliciar aqui. Ari Aster vai muito além do arroz com feijão do plano e contraplano. Todas essas características fazem com que Midsommar seja uma obra com um audiovisual belíssimo.

Se você, quando pensa em filme de terror, imagina lugares escuros e decadentes, prepare-se para pirar o cabeção com a beleza desta obra.

SOLSTÍCIO

Quando o terror finalmente começa, o filme continua bom, mas eu diria que dá uma certa enfraquecida. Ele continua belo, seguindo a famosa “estética da violência”, mas o roteiro dá umas boas fraquejadas. Há, por exemplo, uma subtrama sobre o desaparecimento de um livro que não faz sentido, não tem porque existir, e não chega a lugar algum.

Exatamente o mesmo pode ser dito de uma cena de pesadelo. Esta só parece estar presente porque algum produtor viu um corte preliminar e disse que não era aceitável um filme de terror ficar mais de uma hora sem nenhuma cena assustadora. Daí resolveram tacar um pesadelo lá e pronto.

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Este tipo de coisa impede Midsommar de alcançar a qualidade para a qual ele parecia predestinado. Ambos estes exemplos poderiam ser cortados sem qualquer prejuízo para a história ou para o desenvolvimento dos personagens.

Ainda assim, Midsommar é um tremendo filme de terror/intercâmbio cultural. 2019 está sendo um excelente ano para os filminhos de medo, e sacrifico meus bodes para que este renascimento do gênero seja próspero e duradouro como a colheita do solstício.