Antes de começar a escrever esta crítica Hellboy e o Homem Torto, tive que fazer uma breve pesquisa, pois não tinha certeza quantos Hellboys já vimos no cinema. Bom, a resposta é que tivemos o Ron Perlman duas vezes e o David Harbour uma. O terceiro Muchacho del Infierno é Jack Kesy. E com toda a produção visual do personagem, ele ficou bem parecido com a aparência que o personagem sempre teve no cinema.

Mais do que isso, Hellboy e o Homem Torto faz algo que eu acho que todos os filmes baseados em personagens de HQ deveriam fazer. Uma coisa meio James Bond, em que os atores vão sendo trocados conforme o tempo passa, mas sem ter reboot atrás de reboot como fazem com o Homem-Aranha ou o Batman. Esta é uma história do Hellboy, independente dos filmes anteriores, mas sem sentir a necessidade de reintroduzir o personagem.

CRÍTICA HELLBOY E O HOMEM TORTO

Dito isso, Hellboy e o Homem Torto é muito diferente dos filmes anteriores estrelados pelo personagem. Nada de Testosterona Total ou, em outras palavras, ação com humor. O filme de hoje é um terror propriamente dito, embora seja estranho ver um filme de terror sobrenatural estrelado por um grandão vermelho e chifrudo. Mas, ei, é o que tem pra hoje.

Adaptado da HQ de mesmo nome, a história acontece nos anos 50, enquanto o muchacho e uma rapariga estão transportando uma carga muito letal. Papo vai, papo vem, eles acabam ficando presos no meio do nada, sem carga e sem trem. Quando procuram uma forma de sair dali, descobrem que uma bruxa anda embruxando os habitantes e resolvem ajudar. Mal sabem eles que as bruxas servem o Homem Torto ou, como um dos personagens o chama, o diabo.

SAI AÇÃO E FANTASIA, ENTRA TERROR

A sinopse até poderia levar a um dos outros filmes do Hellboy, mas a coisa aqui é mais pé no chão. Apesar de um dos protagonistas ser um demônio, não há outras características de fantasia. Não há elfos, criaturas aquáticas ou mesmo superpoderes. A não ser, é claro, as maldições e feitiços lançados pelas criaturas sobrenaturais. Mesmo as poucas cenas de ação são mais contidas e focadas na tensão e no medo do que em exclamações e hell, yeahs.

A cinematografia é um capítulo à parte, embora eu vá falar dela um pouco neste intertítulo e um pouco no próximo. O filme tem uma direção bem criativa, com alguns planos bem originais e outros que remetem diretamente a quadrinhos. É comum o diretor filmar as cenas com closes bem próximos, o que causa um desconforto e aumenta a aflição, especialmente quando faz isso nas bruxas e no Homem Torto.

HELLBOY E O HOMEM TORTO

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Por outro lado, Hellboy e o Homem Torto é simplesmente escuro demais para ficar bonito, ou mesmo uma intrigante experiência audiovisual. Quase todo o filme acontece de noite e a cor preta é predominante mesmo quando você deveria saber o que está acontecendo.

E já que falamos no que está acontecendo, o terceiro ato é simplesmente muito ruim. Tem um monte de personagens passando por pesadelos ao mesmo tempo e os cortes são frequentes e confusos. Tivesse terminado depois do segundo ato, o filme seria bem melhor, mas também um tanto curto demais – mesmo completo, ele tem pouco mais de 90 minutos.

SERRANDO O MUCHACHO AO MEIO

E são poucos os filmes que realmente podem simplesmente ser cortados no meio, mas este é um caso. O final do segundo ato vem em uma cena que parece um clímax, e termina de forma bacana, com um vilão enfraquecido, embora não derrotado. Enquanto ela rolava, eu pensava que parecia ser o final do filme, mas olhava o relógio e via que não havia passado tempo suficiente. Isso realmente não é um bom sinal para o conjunto da obra.

Hellboy e o Homem Torto me agradou por fazer um filme de terror com o que achava ser mais um filme de super-heróis. Porém, há alguns problemas graves de narrativa e de uso de tempo. Assim, ele até agrada durante parte da projeção, mas quando termina, você já está com muita vontade de ir pra casa. Ou de comer uma pizza. Ou comer uma pizza em casa.

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